A empreendedora Anielle Guedes, de São Paulo, fundou a Urban3D, uma startup que tem como objetivo desenvolver tecnologia de impressão 3D para construir moradias de baixo custo e menos agressivas ao meio ambiente.

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O projeto, que nasceu há cinco meses, já foi apresentado para ONU e atraiu olhares e parcerias de três empresas multinacionais. Formada em Física pela Universidade de São Paulo (USP), ela também cursou o Graduate Studies Program 2014 da Singularity University, na Nasa, nos Estados Unidos. O extenso currículo não traduz a idade da empreendedora. Com apenas 22 anos, Anielle veio a Florianópolis nesta semana para apresentar um workshop sobre futurismo e empreendedorismo. Em entrevista ao Diário Catarinense, defendeu a tecnologia como ferramenta para transformação social:

1. Ferramenta de transformação social

Temos problemas reais muito sérios, então não é só criar o aplicativo bonito e pronto. Se ele não atinge um problema real, como educação segurança, alimentação, transporte, a empresa está criando uma coisa estética e superficial só para vender. Tem essa inovação que impulsiona o consumo, mas não impulsiona a qualidade de vida. Não sei se todas as empresas do futuro serão assim, quero acreditar que sim, se a tecnologia não for concentrada na mão de grandes. Tem que existir um movimento de fomento, de expansão da tecnologia e de empoderamento de indivíduos. A gente precisa entender que as empresas do futuro tendem a ser mais descentralizadas, com estrutura menor, inovarem mais rápido, porém com conteúdo ético e de valores muito forte. Quando se entende a tecnologia como ferramenta de transformação da sociedade, pode-se chamar isso de empresa do futuro, porém ainda há desafios.

Desafios

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O Brasil tem bastante startups, que é quando você tem um modelo de negócios, não provado, em um ambiente de mudança extrema, mas ainda se importa muitos modelos. É preciso ser mais ativo na criação de modelos próprios. Faltam redes de apoio, qualificação para investidor. Falta investir na capacitação, principalmente de gestão. O Brasil tem potencial para ser um ecossistema de referência. As startups muitas vezes vêm para cobrir esses pequenos buracos e elas são desarticuladas. Precisamos articular esse ecossistema em uma rede. Em Florianópolis isso fica óbvio. Tem uma cena tecnológica muito grande, com potencial que está subaproveitado.

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2. Projetos transformadores

São projetos que tenham efetividade e uma interação muito grande com problemas que temos na sociedade hoje. Muita gente fala de inovação e transformação como algo que não significa nada. Eu vejo alguns poucos projetos nesta área que têm impacto de transformação real. Tem um pessoal do Sul que está usando tecnologia de informação e comunicação para ajudar na regularização fundiária. Também estou desenvolvendo junto com a minha empresa de software em São Paulo um simulador urbano. Essa empresa de software, a CIS, também tem aplicativos de transporte. Um deles é o Ônibus ao vivo, que é o maior app de transporte público de ônibus na cidade de São Paulo. Ela é uma startup que já pegou tração, já está em um momento de crescimento.

Simulador urbano

Ajuda a fazer gestão e planejamento urbano de acordo com o uso de solo e transporte integrado. Uma espécie de SimCity gigante, porém com dados reais da cidade. Ajuda as secretarias a se comunicarem e a conseguir a melhor tomada de decisão do gestor. O software de mobilidade urbana está em projeto-piloto na prefeitura de São Paulo.

Ônibus ao vivo

O aplicativo traz informações completas sobre horários, linhas e extensão da linha. Também traz a posição dos ônibus de uma linha atualizada a cada 30 segundos e o tempo de espera. A CIS, empresa criada por Anielle em 2010, também desenvolveu aplicativo que mostra a situação dos metrôs e trens da cidade. Disponível em www.cisnt.com.br.

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3. Construção a baixo custo

A Urban3D [startup criada por Anielle no final do ano passado] é uma empresa de tecnologia focada pesquisa e desenvolvimento de tecnologia de impressão 3D e ciência de materiais para concreto. Ela foi criada ano passado em um programa de estudos que fiz na Nasa, ano passado. O estágio que estamos agora é que temos parceria com três empresas europeias multinacionais, que estão em mais de 190 países. Uma é empresa química, outra é robótica e outra de projetos de concreto. Eles estão nos ajudando a desenvolver a tecnologia e recebemos a proposta do governo de investimento de R$ 10 milhões. É uma tecnologia que ataca um dos principais problemas no Brasil e é uma tecnologia totalmente nova. Eu tenho contatos com construtoras de Florianópolis interessadas e iremos começar por onde houver interesse. Nosso foco não é construir casas, é construir prédios para que a gente consiga construir comunidades.

Urban3D

A ideia é ter um grande robô que vai fazer extrusão do concreto, colocando-o camada por camada para fazer paredes. Utilizando materiais reciclados e sem necessitar mão de obra nesta parte pesada da construção, consegue reduzir o custo de todo esse processo, que é limpo, em 92%. O objetivo é criar moradias sociais ou de custo mais baixo. Anielle apresentou o projeto há cinco semanas em Genebra, na sede europeia da ONU e também para governantes do Canadá. A ideia é em até 20 meses ter o primeiro produto conceito pronto. Embora deva começar no Brasil, o plano é expandir para outros países.