A Notícia – O senhor tem atuado em Joinville nos últimos cinco anos. Desde que chegou, o que mais chamou sua atenção na segurança pública da cidade?

Continua depois da publicidade

Ricardo Paladino – A união das entidades. Hoje, Joinville tem sabidamente grandes deficiências na área de segurança pública, mas o que vejo de muito significativo é a união das principais forças de atuação daqui. Polícia Civil, Polícia Militar, Instituto Geral de Perícias, Ministério Público e Poder Judiciário conseguem trabalhar de maneira harmoniosa e funcional, com funcionários dedicados e sempre com esforços descomunais para atender à demanda da cidade. É o tipo de trabalho em equipe que faz as coisas funcionarem e, decididamente, não é algo que vemos em todas as cidades por aí. São grupos que fazem de tudo para tentar resolver os problemas que temos em relação à criminalidade, e vejo um comprometimento muito grande destas instituições no sentido de buscar soluções para os nossos problemas e dar uma resposta à sociedade.

AN – E na visão do Poder Judiciário, onde ficam os principais gargalos para uma Joinville mais segura?

Paladino – A deficiência em segurança pública de Joinville começa pelo trabalho fundamental de investigação dos crimes. Temos dificuldades nessa área não por falta de empenho dos nossos agentes civis, delegados e pessoas envolvidas que trabalham e trabalham muito. A falha se concentra no efetivo. Hoje, temos delegacias que, pelo contingente de pessoas que lá trabalham, precisam se desdobrar para atender à demanda de ocorrências. Cada vez mais acontecem crimes aqui na cidade, cada vez mais ocorrências chegam para nossas polícias e, infelizmente, não há um acompanhamento do crescimento do efetivo nas delegacias para que possa dar vazão a esse trabalho.

AN – Em comparação com outras regiões de Santa Catarina, como Joinville aparece neste cenário?

Continua depois da publicidade

Paladino – Joinville aparece com uma necessidade urgente de investimentos em capital humano. Hoje, existem comarcas que estão em situação muito mais privilegiada que Joinville. Vemos que, especialmente na capital, Florianópolis, existe um contingente de policiais muito maior para atender a uma população menor. Isso mostra que lá, sim, é possível dar uma resposta eficiente e que dê conta da demanda. Aqui, apesar dos esforços dos nossos agentes, não conseguimos enfrentar o crime como deveríamos. Numa visão mais ampla, entendemos que esta é a maior cidade de Santa Catarina e é quase natural que as circunstâncias exijam um contingente maior, mas, mesmo com essa deficiência, temos avançado e avançado bem.

AN – Durante as últimas duas semanas, o Projeto Joinville que Queremos reuniu uma série de artigos, cartas, relatos e vivências de joinvilenses que apontam uma grande demanda por mais segurança nas ruas. Que resposta o Ministério Público tem para estas pessoas?

Paladino – Hoje se fala muito em fazer grandes eventos para entregar viaturas, equipamentos, coletes e armas. Mas nós precisamos mesmo é do material humano. É o ser humano que investiga, que faz as leis serem cumpridas, que digita as ocorrências, que entrega as intimações e que toma os depoimentos. As polícias Civil e Militar de Joinville, hoje, estão muito aquém do efetivo que realmente precisam. Desde que cheguei aqui, tenho lutado no sentido de alertar sobre essa realidade em todas as frentes governamentais, empresariais e também com a comunidade. É importante saber que a partir do momento em que o crime não é investigado, ele não é punido. O crime acontece, é registrado um boletim de ocorrência e, infelizmente, em função da deficiência no número de profissionais, acaba não se podendo investigar da maneira que desejava, e isso acaba dificultando o trabalho do Ministério Público, especialmente do poder judiciário.

AN – Além da extensa lista de soluções de longo prazo que são pensadas para Joinville, que tipo de ação imediata poderia trazer resultados em pouco tempo para a segurança pública na cidade?

Continua depois da publicidade

Paladino – Pensando em um cenário a curto prazo para nossa cidade, vejo que a instalação com urgência de mais câmeras de vigilância é um passo que precisa ser dado. Nós precisamos de monitoramento, precisamos mostrar que os olhos do Estado alcançam a população. Essa é uma ação que vai ao encontro das necessidades da comunidade e também do Ministério Público, pois vai auxiliar em muitos processos de investigação. Esta seria, definitivamente, a principal medida emergencial, que não dependeria de contratar mais efetivo nem de abrir novos concursos públicos, mas tão somente da boa vontade e da agilidade por parte dos governos estadual e municipal.

>> Acesse a página do projeto Joinville Que Queremos

>> Confira histórias de joinvilenses que já sofreram com a insegurança no dia a dia