O dia em que Blumenau perdeu um de seus ícones mais queridos foi movimentado no alto do Morro do Aipim. O incêndio no restaurante Frohsinn, quarta-feira, foi precedido de uma tarde com muitas pessoas subindo e descendo a estradinha de terra que leva ao mirante. Algo acima do normal, segundo os moradores próximos – cerca de 20 famílias vivem no local.
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O Santa passou a sexta-feira em contato com vizinhos, pessoas que trabalhavam com a vigilância do imóvel, bombeiros, peritos e a administração municipal para reconstituir as últimas horas antes do fogo tomar conta do antigo prédio abandonado.
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O vigia diurno, que é servidor público e não quis se identificar, trabalhava no local no dia do incêndio. Ele conta que foi embora por volta das 17h. Segundo o profissional, a maioria das pessoas que passava por lá chegava no fim da tarde para se reunir, beber e usar drogas. Depois das 18h a segurança privada contratada pela prefeitura era responsável por fazer rondas no prédio. Ou seja, se o incêndio foi causado por ação humana, o incendiário teve pouco mais de uma hora para cometer o crime. Neste intervalo, avalia o vigia, muita gente pode ter entrado no restaurante:
– A maioria que vinha aqui era adolescente. Também chegava gente mais velha para relembrar do tempo em que o restaurante funcionava. Muitos até me questionavam por que tudo estava assim. Se eu dizia que não era para entrar, as pessoas entravam do mesmo jeito. Eu não tinha como proibir.
Moradores das redondezas relatam que já haviam acionado a Polícia Militar diversas vezes devido à presença de pessoas no Frohsinn e que o vigia sofria ameaças quando tentava barrar invasores. Um dia depois do incêndio, tapumes de madeira foram instalados no acesso ao prédio. Um banheiro químico também foi colocado – os vigias não tinham estrutura de banheiro e nem água.
Segundo o Corpo de Bombeiros, várias pessoas ligaram para avisar sobre o incêndio. A primeira ligação ocorreu às 18h09min. De acordo com o secretário de Turismo, Ricardo Stodieck, a energia elétrica estava ligada quando houve a ocorrência. Ele explicou que esta seria uma exigência da Orcali, empresa responsável pela segurança, para prestar o serviço no local e manter os alarmes em funcionamento.
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Nos últimos dias, a Orcali conseguiu detectar dois princípios de incêndio. Os bombeiros confirmaram que foram acionados duas vezes pela empresa. A última delas foi na segunda-feira, quando o sótão pegou fogo. A anterior foi na semana passada, mas a corporação não soube precisar a data porque não encontrou a ocorrência no sistema. Um dos agentes que esteve no local confirmou que um freezer desativado entrou em curto e que não foi preciso nem 30 litros de água para apagar as chamas.
Nem o secretário nem a empresa souberam dizer se o alarme detectou o incêndio. Stodieck explicou que após as duas ocorrências a segurança seria reforçada no local, com dois vigias à noite a partir do próximo fim de semana. O Santa procurou a Orcali para falar sobre as rondas de quarta-feira, mas um funcionário informou que a empresa não se manifestaria sobre o assunto.
Na segunda-feira está prevista uma reunião para definir o futuro do Frohsinn. As plantas do imóvel foram recuperadas e entregues nesta sexta-feira ao secretário de Turismo. A construção tinha seguro desde janeiro de 2013, a prefeitura aguarda os laudos ficarem prontos, que devem sair entre 10 e 30 dias.
Confira o vídeo abaixo:
Moradores do Morro do Aipim lamentam a perda
Para os moradores do Morro do Aipim o fim do imóvel do Frohsinn estava anunciado. Muitos deles ainda não tiveram coragem de ver como a estrutura ficou depois de ter 50% da construção consumida pelas chamas quarta-feira. É o caso de Vani Ambrósio, 74 anos. Trabalhou durante 18 anos na época de ouro do restaurante, quando autoridades e famosos almoçavam com uma das melhores vistas da cidade. Ela lembra que chegou a produzir 500 couverts por almoço. Nunca vai esquecer quando preparou o prato Schlachtplatte para um ex-presidente do Brasil. Com todo cuidado, Vani fez a costeleta de porco defumada, acompanhada de chucrute, purê de ervilha, purê de batata e sete tipos de salsichas:
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– Quando o Frohsinn começou a ser desprezado, eu chorei. Fiquei muito triste.
Irmão de Vani, Lourival da Silva, 55 anos, trabalhou no almoxarifado do restaurante por nove anos. Abastecia o bar e a cozinha e lembra do movimento que fazia nos fins de semana, quando ônibus de excursão paravam no estacionamento lotados de turistas. Ao ver o que restou daquele restaurante que fazia tanto sucesso no fim da década de 1990, ele lamenta que o poder público tenha demorado tanto tempo para reagir:
– A prefeitura desprezou muito aquele lugar. Eles demoraram para ter tomado uma atitude.
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