Fatores socioeconômicos, estrutura deficitária e a cultura do transporte individual são apontados por especialistas como os principais desmotivadores da falta do uso do transporte urbano em Blumenau. Dos blumenauenses entrevistados, 44,4% responderam nunca utilizar o ônibus e outros 28,9% usam esporadicamente.
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O especialista em Administração e Segurança no Trânsito Fábio Campos da Silva cita que a falta de iluminação de pontos de ônibus, de climatizadores nos veículos, bancos estreitos e principalmente a falta de tecnologia – para informar o usuário sobre horários e baldeações, por exemplo –, tornam o meio de locomoção pouco atrativo.
::: Pesquisa mostra o perfil e a opinião de quem usa ônibus em Blumenau
– Acredito que quando o gestor de trânsito e mobilidade das cidades que estão em grandes mudanças como Blumenau, por exemplo, tiverem o interesse de implantar um transporte de massa como prioridade, teremos uma mudança de hábitos e deixaremos os automóveis como a última opção – analisa, apontando que hoje as pessoas preferem ficar horas no trânsito dentro do carro do que optar pelo transporte coletivo, mesmo que ele chegue ao destino mais rápido.
Não é apenas Blumenau que vive este momento de queda no número de usuários. O movimento é algo mundial, de acordo com o coordenador da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana da OAB Blumenau, Christian Marlon Panini de Carvalho. Ele cita ainda que há aspectos do comportamento do blumenauense que influenciam neste pouco uso do transporte coletivo:
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– Ao mesmo tempo que o blumenauense é tão solidário em situações extremas, também tem esse apreço pela individualidade, o carro acaba sendo uma extensão de quem a pessoa é. Preza pelo conforto, pela privacidade e isso é algo cultural enraizado, difícil de ser superado, ainda mais levando em consideração a estrutura atual do transporte público e o histórico na cidade. É algo complexo e que precisa mudar – reforça, ao citar a importância de campanhas de conscientização da população e políticas públicas voltadas para a mobilidade urbana.
A educadora de trânsito e coordenadora do Movimento Maio Amarelo em Santa Catarina, Márcia Pontes, ressalta que andar de carro ainda é mais barato, mais confortável e, por fatores econômicos, continua como a primeira opção de transporte do blumenauense:
– É um misto de cultura voltada para “carrocracia”, alta taxa de motorização e o incentivo ao transporte individual. Tudo isso por falta de uma política pública voltada para a questão da mobilidade. Se você vai à rua e pergunta para as pessoas o que faria com que elas deixassem o carro em casa? Nada. Elas vão deixar o conforto de um carro para usar o transporte coletivo que não oferece atrativos? – questiona.