Quantos dos seus melhores amigos da época de colégio continuaram a figurar no panteão de amizades importantes da vida adulta? A resposta dada pela ciência não é muito animadora, principalmente quando falamos de amizades feitas durante os primeiros anos do Ensino Fundamental. Um estudo da Florida Atlantic University analisou as amizades de 410 alunos de sétima série e falou com os envolvidos uma vez por ano até que se formassem no Ensino Médio. E a análise mostrou que apenas 1% deles continuaram fiéis aos amigos até o fim da idade escolar.

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– O que nos vincula à outra pessoa são as coisas que temos em comum: ideias, valores, ideologias e preferências. Essas posições mudam ao longo da vida. Amizades que começam na infância passam por mais provações e rupturas porque nos acompanham nesses momentos de mudança – explica Luciana Maccari Lara, membro da Sigmund Freud Associação Psicanalítica e da Sociedade de Psicologia do RS.

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De acordo com a especialista, quando mudamos e amadurecemos, muitas de nossas ligações interpessoais enfraquecem, e pessoas que antes eram importantes dão lugar a outros indivíduos. A mudança de referências e de visão de mundo influencia diretamente nossos círculos sociais.

E o 1%?

Apesar de mudanças geográficas, ideológicas ou comportamentais, há amizades que resistem ao tempo e às reviravoltas da vida. A professora de psicologia da PUCRS Carolina Lisboa afirma que se trata de uma relação de livre escolha, que depende de alguns pilares básicos para perdurar:

– Reciprocidade é um dos elementos mais importantes do vínculo. A quantidade de afeto doado deve ter quase a mesma intensidade da que é recebida. Quando esse pilar é desigual, a amizade não dura muito tempo. Outro fator importante é a questão do compartilhamento da privacidade. Dividir segredos e sentimentos fortalece a relação. E, por fim, aceitar as diferenças é outro pilar da amizade. Amigos que têm opiniões antagônicas, mas resolvem conflitos de forma saudável, conseguem ir mais longe.

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De acordo com a especialista, é por isso que, mesmo vivendo em países diferentes e trabalhando em profissões distintas, muitos indivíduos conseguem se manter melhores amigos.

– A amizade dura quando as pessoas conseguem continuar compartilhando experiências significativas para ambos, quando ainda tem uma marca significativa em sua história para suportar diferenças e quando ainda tem algo a dizer uma para a outra – afirma Luciana Maccaria Lara.

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A importância da amizade na adolescência

Ter amigos é importante em qualquer fase da vida. Entretanto, a função deles muda ao decorrer dos anos.

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Amizades feitas na adolescência tem um papel muito importante na constituição da identidade. Nessa época de mudanças do corpo, de ideias e de responsabilidades, o jovem se apega à única coisa fixa e que serve como sua referência: o grupo de amigos.

Ele tenta pensar e viver através do grupo dele. Vestir-se parecido, pensar parecido, falar parecido são consequência disso – explica Luciana.

Na idade adulta, o indivíduo já tem a identidade formada e transita por um número maior de contextos.

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– Na vida adulta temos os amigos do trabalho, da academia, do final de semana. Os núcleos são mais diversos e tem uma conotação diferente – ressalta a professora Carolina Lisboa.

A velocidade e a intolerância de nosso tempo

Nessa era globalizada em que a tecnologia e a velocidade imperam, as pessoas desenvolveram baixa tolerância à frustação. Atualmente, tem-se mais liberdade para experimentar culturas, compartilhar relações, o que traz consequências:

– As pessoas estão muito intolerantes umas com as outras. Não sabem lidar e não querem aprender a conviver com a diferença. Não é à toa que casamentos, namoros e amizades duram menos – analisa Carolina.

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