Monstros feitos de gosma e lixo, saídos de algum buraco maligno entre a Vila Sésamo, os filmes B dos anos 1950 e os filmes gore dos anos 1980. Qualquer semelhança com o caos político contemporâneo no Brasil é mera coincidência no filme Pazúcus: Ilha do Descarrego, longa-metragem de horror do catarinense Gurcius Gewdner que tem pré-estreia nacional nesta quarta-feira, dia 12, em Florianópolis. O filme, rodado com apenas R$ 15 mil, teve uma première no Fantaspoa 2017, maior festival de cinema dedicado exclusivamente a filmes de gênero fantástico da América Latina, realizado mês passado em Porto Alegre (RS). Foi também eleito o filme do mês em sessão promovida pela publicação europeia de cinema experimental Film Panic, na cidade do Porto, em Portugal.

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A exibição integra a programação do projeto Sessão Cinemática, que ocorre mensalmente no Cinema do CIC e é promovido pela Cinemateca Catarinense em parceria com o Museu da Imagem e do Som (MIS/SC) e a Fundação Catarinense de Cultura, sempre com temas que instigam a reflexão. O debate desta noite será com os produtores associados Amexa Amx e Guilherme Zimmer, e as diretoras Loli Menezes e Cintia Domit Bittar.

O longa vem na boa onda do terror em todo o Brasil. Nos últimos 10 anos, a produção de filmes do gênero, além das produções de baixo orçamento, estourou no país.

— Finalmente está sendo entendido que o cinema de horror e fantástico é altamente comercial. No resto do mundo isso já é meio óbvio. Tanto que existem muitos blockbusters americanos de terror e suspense que sempre lotam os cinemas brasileiros. Público para esse gênero sempre existiu. O que ainda precisa avançar é na questão da mentalidade dos críticos, dos curadores de festivais e as políticas de editais — avalia o diretor, Gurcius Gewdner.

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Aos 34 anos, Gewdner produziu mais de 40 filmes — o primeiro foi aos 14 anos, grande parte curta-metragens de horror.

Para o diretor de cinema e curador da Sessão Cinemática, Pedro MC, a falta de incentivo latente em Santa Catarina não permite uma entrada de produtos audiovisuais no mercado, mas cineastas como Cintia Domit Bittar estão investindo bastante no gênero de terror e fazendo filmes circular por festivais.

— Nossos mais conhecidos cineastas, Petter Baiestorff e Gurcius Gewdner, trabalham colaborativamente (sem acesso a verbas de edital) e já não moram mais em SC. Pessoalmente, acho que Pazúcus é uma obra-prima, é um filme-celebração do gênero. Tem interpretações brilhantes, produção e trilha sonora boas, que ultrapassam o gênero — avalia MC.

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Pop alucinado

Misto de experimental com pop alucinado, o longa teve cenas rodadas em Florianópolis. É uma homenagem aos filmes de Lucio Fulci, Roger Corman, Frank Henenlotter, Zulawski e Colin Eggleston. Tem também uma brincadeira com metalinguagem. Não necessariamente deixa claro que é um filme, mas alguns objetos são propositadamente falsos.

Por exemplo, todas as armas que aparecem são artesanais. O machado é feito com papel alumínio e as espingardas são de papelão. O vômito e o sangue que aparecem nas cenas são releituras simples, feitas com pigmentos comestíveis, polvilho doce e água.

— É uma grande homenagem aos filmes dos anos 1980, que tinham muita gosma. Nos inspiramos inclusive nas comédias da Sessão da Tarde — conta Gewdner.

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Pazúcus conta a história de Carlos (Marcel Mars), que se vê perturbado por uma potente inquietude estomacal e seu analista está obcecado pela ideia de que deve eliminá-lo para salvar uma ilha de um poderoso tsunami. Paralelamente, Oréstia & Omar buscam harmonizar a relação num acampamento, mas se encontram gradualmente oprimidos pela natureza, que de paradisíaca vai se tornando infernal. Dentro do intestino de Carlos, monstros fecais preparam-se para o fim. A paranoia, a feitiçaria, a loucura e a fala profética conduzem os destinos dos personagens de Pazúcus.

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