Na tarde desta segunda-feira, 13, a policial civil aposentada Terezinha Rossi contrariou as leis da natureza ao enterrar seu próprio filho, Jeferson Rossi, de 38 anos, no Cemitério Jardim da Paz, em Florianópolis. A contradição é ainda maior devido à atuação da mãe na repressão de crimes como o que tirou precocemente a vida do próprio filho. Terezinha é aposentada da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), onde trabalhou junto de Renato Hendges, o Renatão, falecido recentemente.
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Jeferson não resistiu aos quatro tiros disparados por um menor de 17 anos e outro homem, de 18, que tentaram assaltá-lo na Cachoeira do Bom Jesus, Norte da Ilha, na noite de domingo, para quitarem dívidas acumuladas no tráfico de drogas.
Os jovens não conseguiram dar partida no carro de Jeferson, uma Ecosport que possuía um sistema antifurto, e acabaram não levando nada, se não a vida do ex-engenheiro agrônomo da Fatma. Ele era natural de Curitibanos, cresceu em Concórdia, e mais velho mudou-se para Florianópolis. Deixa um filho de 14 anos e uma bebê de um ano e meio, ambos presentes no momento do crime.
No velório, iniciado ainda na manhã desta segunda-feira, estiveram presentes os filhos, a mãe, familiares e amigos de Jeferson, que puderam despedir-se do amigo em um caixão aberto. O olhar perdido de João, que estava no carro e presenciou o assassinato do pai, resume o clima de desolação que marcou a cerimônia. O menino havia se mudado de Biguaçu recentemente para ficar mais perto do pai, a fim de ter mais próximo uma referência masculina.
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Viagem pendente
Os amigos presentes no local destacaram a pessoa alegre que Jeferson sempre foi e que permanecerá sendo lembrado.
– No último Carnaval, ele se vestiu de lobo mau no Bafo de Bode [festa tradicional nos Ingleses] – conta o colega André Constanzo, 45, ao mostrar no celular a foto que comprova a fantasia e o largo sorriso da vítima.
Jeferson também gostava de motos e, com certa frequência, viajava com um grupo de amigos, todos mais velhos.
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– Certa vez, quando estávamos indo até o Uruguai e paramos em um posto de gasolina, um frentista perguntou para ele se aquilo estava certo. Afinal, ele era um jovem viajando junto de motoqueiros de cabelos brancos. Ele disse que sim, que adorava aquilo. Era o nosso mascote – brinca o motoqueiro e amigo de uma década de Jeferson, Antônio Carlos Galletti, 60 anos.
No próximo sábado, ele iria de moto até Porto Seguro (BA), onde encontraria dois amigos e seguiria até Fortaleza (CE). O veículo e as malas já estavam prontos, conforme contam os amigos viajantes.
Segurança entre policiais
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina, Jeferson foi a sétima pessoa assassinada em Florianópolis em 2015. No Estado, foram mais 190 casos no mesmo período – número relativamente superior ao registrado no ano anterior: 186.
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A atuação da mãe e a consequente comoção gerada tentam fazer com que Jeferson não seja apenas mais uma estatística. Apesar de o crime não ter relação com o histórico de Terezinha Rossi na Polícia Civil, a ocorrência chama a atenção a respeito da segurança entre policiais.
Márcia Hendges, que trabalha com a divisão de Pessoas Desaparecidas e já atuou na repartição de Homicídios, é amiga pessoal de Terezinha e destaca o sentimento de impotência que marca o momento:
– Policial também é feito de carne, osso e sentimento. E a sensação de impotência nessas situações nos alcança da mesma forma. Cabe a nós fazer o que a lei permite para anestesiar esse sentimento – explica.
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A segurança entre os policiais é assunto frequente entre a corporação, segundo Márcia.
– O medo nos faz ficar vivos. Policiais costumam ser mais prudentes, mas nunca sabemos como iremos reagir a uma ameaça. A diferença é que temos uma arma e isso pode ser bom e ruim – pondera.
Entenda o crime
– Jeferson Rossi, 38 anos, foi morto às 21h do último domingo, 12, quando dois jovens tentaram roubar o seu carro em frente a um condomínio na servidão André Leal, esquina com a avenida Luiz Boiteux Piazza, a principal da Cachoeira do Bom Jesus, na Capital. Os filhos do homem estavam no veículo e presenciaram o assassinato;
– Os autores do crime, de 17 e 18 anos, dispararam quatro tiros com uma arma de fogo quando não conseguiram dar partida na Ecosport. Eles fugiram a pé e foram pegos por uma guarnição da Polícia Militar que passava no local. A arma foi apreendida;
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– Os jovens eram do Paraná e da Bahia e haviam chegado recentemente à Florianópolis. Até então, não tinham passagem pela Polícia na cidade;
– O homem maior de idade encontra-se na Central de Triagem da Polícia, enquanto o adolescente foi apresentado à Promotoria;
– A investigação do crime será conduzida pela Delegacia de Homicídios de Florianópolis.