A caminhonete do ex-vereador Altevir Schmitz, morto durante assalto em sua casa, em São José, em novembro de 2013, estava encomendada por R$ 4.500. O valor seria pago por um comprador de Itajaí ainda não identificado pela Polícia Civil. A encomenda foi feita ao segundo suspeito do latrocínio (roubo seguido de morte), ainda em liberdade. O primeiro suspeito, Mateus Alves, 19 anos, foi preso neste domingo (16), em Joinville.

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De acordo com o policial civil que descobriu a identidade e o esconderijo do autor do crime, agente Roberto Pires da 3a DP de São José, Mateus Alves foi convidado para participar do roubo pelo comparsa em liberdade. Esse segundo suspeito, o mentor do crime, era quem tinha a informação de que o ex-vereador de 45 anos era dono de uma caminhonete Hilux 2013 cujo valor de mercado é R$ 140 mil, em média.

– Tenho uma fita (oportunidade) boa. Um cara cheio da grana e com uma baita caminhonete. Sei onde é a casa dele – teria dito o mentor do assalto.

Roubar a Hilux prata era o único objetivo da dupla, que inclusive levou um desbloqueador de sinal de GPS para o assalto. Os dois acompanharam a movimentação da vítima durante quatro dias. Os planos mudaram na noite de 4 de novembro de 2013, uma segunda-feira. Mateus e o parceiro esperaram o ex-vereador chegar em casa, no Bairro Forquilhas.

Movimento que custou a liberdade

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Por volta das 21h30min, o ex-vereador acionou o portão da garagem e entrou em casa com a Hilux prata. Os dois assaltantes vestindo capuz e boné entraram atrás. Ao perceber o assalto, o ex-vereador reagiu. Partiu para cima de Mateus, armado com uma pistola calibre .380.

Os dois começaram a lutar. Baixo, com cerca de 1.55 de altura, Mateus sentiu medo de apanhar da vítima, um homem alto e forte. A pistola estava engatilhada e na altura do pescoço do ex-vereador. Sem pensar, Mateus apertou o gatilho. A bala atravessou o pescoço da vítima até a nuca, ao lado da orelha esquerda. Altevir Schmitz caiu de bruços, morto no chão.

Apavorados com a situação que não estava nos planos, os assaltantes fugiram em alta velocidade com a caminhonete. Mateus estava no banco do carona e fez um movimento que lhe custou a liberdade neste domingo: encostou no painel da caminhonete.

O piloto da fuga fez uma curva muito fechada e acabou batendo no meio-fio. O pneu estourou e eles circularam até a borracha ficar no aro. Abandonaram a Hilux em Areias, bairro distante da casa do ex-vereador. Fugiram a pé, sem a caminhonete, sem os R$ 4.500, com um novo crime no currículo cuja pena é pelo menos quatro vezes maior que a de roubo, e com dezenas de policiais militares e civis em seu rastro.

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Digital é a principal prova

Mateus Alves não jogou fora a arma que usou para matar o ex-vereador e foi justamente por causa dela que ele foi identificado e a Justiça autorizou sua prisão temporária. Em 2 de janeiro de 2014, Mateus foi detido pela Polícia Militar por porte ilegal de arma (a pistola do latrocínio), na Praia do Sonho, em Palhoça.

Encaminhado à DP de Palhoça, Mateus pagou fiança e foi solto. Os policiais não sabiam de seu envolvimento na morte do ex-vereador. A pistola .380 ficou apreendida.

Durante as investigações, ém 5 de janeiro, o policial Roberto Pires escutou num local que ele preferiu manter no anonimato uma frase reveladora: “O cara que matou o vereador caiu (foi preso) na Palhoça, pagou fiança e ninguém desconfiou”.

– Puxei o boletim de ocorrência, o nome dele (Mateus) e as digitais. E chamei o Instituto Geral de Perícia. Eles fizeram a comparação. A digital do Mateus fechou 100% com a digital no painel da caminhonete – contou o agente Pires.

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A identificação estava resolvida. Faltava achar o esconderijo.

Especialistas em “clínica geral”

A informação quente sobre o paradeiro de Mateus Alves chegou neste sábado (15) para o policial Roberto Pires. O esconderijo: uma kitnete alugado num prédio de quatro andares no Bairro Itaum, zona sul de Joinville.

Mateus estava dormindo com a namorada quando os policiais entraram na kitnete, na manhã deste domingo (17). Um lugar pequeno, sem comida, apenas com um colchão velho.

– Ele chorou o tempo todo. Falou que não foi com a intenção de matar e que ficou apavorado com a situação. Ele confessou que matou o ex-vereador. E disse que queria ter se entregado para a polícia, mas ficou com medo – contou o agente Pires.

Mateus foi encaminhado para a sede da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Florianópolis.

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A polícia concluiu que os dois suspeitos não são especialistas em roubo de carros. Fazem vários tipos de crime como assalto a residência e furto de veículo. São da “clínica geral”, como se diz no meio policial, ou seja, fazem um pouco de tudo, mas não são especialistas em nada.

Participaram das investigações os policiais civis da 1a DP de São José, Sérgio Safanelli e Ricardo Sagaz. A prisão de Mateus teve apoio de dois policiais da Divisão de Repressão à Entorpecentes da Deic e do policial militar de Biguaçu, cabo Adílio. O responsável pelo inquérito é o delegado da 1a DP de São José, Rodolfo Cabral.

Quem era a vítima

Altevir Schmitz (PSD), foi secretário de legalização urbana em São José, e vereador de 2000 a 2006. Em 2008, recebeu 2.126 votos e se tornou suplente de vereador. Era natural de Vidal Ramos, no Vale do Itajaí e mudou-se para São José aos 19 anos. Schmitz era casado e pai de duas filhas. Seu corpo foi velado em casa e sepultado no cemitério do Alto Forquilhas, em São José. A prefeita da cidade, Adeliana Dal Pont, decretou luto oficial de três dias em São José.