A Polícia Militar de São Francisco do Sul concluiu o inquérito sobre o caso de um adolescente de 16 anos que supostamente teria sido agredido por um policial militar em fevereiro. A investigação confirmou que houve o contato físico do cabo da PM com o menino, mas não ao ponto de levá-lo às complicações de saúde, como convulsões e amnésia. O inquérito foi encaminhado para a Justiça Militar, em Florianópolis, que vai analisar o caso e definir se haverá alguma punição ao policial.
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Segundo a madrasta do adolescente,ele e o pai chegaram ao estabelecimento comercial por volta das 21 horas e ficaram do lado de fora, onde havia outras pessoas. Após alguns minutos, chegaram ao local as viaturas da Polícia Militar. De acordo com a madrasta e proprietária do comércio, os policias desceram dos veículos ordenando que todos colocassem as mãos na cabeça e encostassem na parede.
De acordo com a madrasta, o enteado teria se virado na direção dos policiais no momento da abordagem e sido golpeado na boca com a mão aberta pelo cabo da PM. Com a violência do golpe, o adolescente caiu. No dia seguinte, sofreu convulsões e foi internado ainda em São Francisco do Sul. Depois, foi transferido para o Hospital Infantil, de Joinville, com falhas na memória e dificuldade para falar.
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Mulher revela detalhes da abordagem policial em São Francisco do Sul
O major Jailton Franzoni de Abreu, responsável pelo inquérito, afirma que não houve soco ou tapa. O que teria ocorrido foi uma desobediência do adolescente, que foi conduzido pelo policial até a parede, quando bateu em um banco e caiu. A queda teria gerado o machucado na boca.
– Ouvimos cerca de 20 pessoas, entre testemunhas, médicos e acusação. Pegamos laudos e pareceres médicos que pudessem dar uma luz dobre o fato. Por um lado, apuramos que houve contato físico e, nesse contato, o rapaz saiu ferido. Do outro lado, não foi a gravidade que se aventou no início – explicou o major.
Com base na investigação, o major Franzoni aponta que as convulsões e o contato físico entre o policial e o adolescente foram uma infeliz coincidência. Segundo ele, a abordagem policial no estabelecimento fazia parte de uma operação que ocorreu no verão. Os policiais realizaram abordagens em locais com ajuntamento de pessoas, como botecos, bares e lugares que poderiam resultar em algum problema.
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O inquérito ainda não foi recebido pela Justiça Militar. No entanto, a promotora analisará o caso e, se considerar um crime militar, levará o policial a julgamento. Se entender que houve apenas uma transgressão disciplinar ou uma abordagem mal sucedida, ele poderá pedir o arquivamento do caso.
Família aguarda punição
O adolescente está em casa há cerca de um mês. Dois dias depois de receber alta, ele voltou a sofrer uma convulsão e teve que voltar ao hospital, onde ficou internado mais dois dias. Segundo a madrasta, o enteado está melhor, com menos problemas de dicção e memória, mas continua sob os cuidados da família, que decidiu não deixá-lo voltar à escola neste ano para evitar novas convulsões.
– A situação está controlada por causa do medicamento. Tem um remédio para o sangue que ele vai ter que tomar para o resto da vida. E outro para convulsão ele tem que tomar durante três anos para ver como vai ser a reação – explica.
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A madrasta afirma que o adolescente nunca teve nenhum problema de saúde, nem mesmo uma gripe forte, e não entende como poderia ter ocorrido uma coincidência entre as convulsões e a suposta agressão do policial. A família espera que o cabo da PM seja punido porque ele teria que ser um exemplo de segurança para a população.
– Deveria ter uma punição para conscientizar de que não é assim que se faz uma abordagem. Não conheço o policial, mas naquele dia ele foi infeliz. Se estava com alguma problema pessoal ou familiar deveria ter ficado em casa porque a gente não tem culpa – defende.
A família também havia registrado um boletim de ocorrência na Polícia Civil e já prestou depoimento ao delegado que investiga o caso envolvendo o adolescente. A reportagem de “AN” entrou em contato por telefone com o delegado Marcel Araújo de Oliveira, da Delegacia de São Francisco do Sul, que não quis passar nenhuma informação.
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* O nome da madrasta foi preservada nesta reportagem para que o adolescente não tivesse a identidade revelada.