Como encontrar coragem para sair para o mar depois de que pelo menos 21 pescadores em três barcos se envolveram em grandes acidentes marítimos na última semana? A resposta à pergunta passa necessariamente pelas palavras coragem, risco e conhecimento do mar.

Continua depois da publicidade

A pesca – amadora ou profissional – é considerada uma atividade de alto risco. Na região, onde há três pequenos arquipélagos e muitas pedras que emergem do mar, o risco tem transformado a travessia numa espécie de “Triângulo das Bermudas”. O conhecimento de navegação é considerado fundamental porque as mesmas ilhas e pedras que representam risco também são o melhor refúgio em caso de temporais ou ressacas.

– Já escapei da morte algumas vezes – diz o pescador Claudio Pereira, um mineiro que chegou a Santa Catarina há três décadas para trabalhar na Petrobras, aposentou-se e apaixonou-se pelo litoral de São Francisco do Sul. Ali decidiu viver e pescar.

Em um dos sustos, ele se viu diante de uma onda que quase engoliu o barco e o jogou nas pedras entre a Enseada e a Prainha. Em outro susto, poderia ter virado literalmente comida de tubarões, na rota dos grandes navios que passam pelos portos de São Francisco do Sul e Itajaí.

Continua depois da publicidade

O trecho entre as duas cidades é considerado pelos pescadores uma grande avenida do mar, onde passam navios cargueiros, transatlânticos, traineiras de pesca profissional e milhares de barcos, lanchas e enbarcações artesanais.

Só na região entre Balneário Barra do Sul e São Francisco do Sul há pelo menos 15 pequenas ilhas reunidas em arquipélagos distintos – dos Remédios (Balneário Barra do Sul), Tamboretes (em frente à Praia Grande) e da Paz (em frente a Ubatuba).

De acordo com o oceanólogo Argeo Vanz, 47 anos, da Epagri, é comum a ocorrência de naufrágios na região por vários motivos.

Continua depois da publicidade

Ondas podem surpreender

– As ilhas podem interferir na direção das ondas de forma diferente e aumentar a altura delas. Isso pode surpreender os pescadores, que saem da costa imaginando um tipo de onda e no arquipélago está maior – disse.

Segundo ele, além dos fatos que ocorreram recentemente na região, dois acidentes são bastante conhecidos e lembrados e ocorreram em 2009: em 30 de maio, cinco pessoas foram resgatadas; em 7 de dezembro, três. Ninguém morreu nos dois casos. Nos anos seguintes, foram registrados outros naufrágios, mas ele destaca que na maior parte das vezes não há mortes.

– Tenho o registro de seis mortes em 2008, em um naufrágio que envolveu oito pessoas. Ultimamente, as pessoas foram resgatadas com vida, o que é um ponto positivo – explicou o oceanólogo.

Continua depois da publicidade

Além de as ondas próximas ao arquipélago de Tamboretes serem diferentes, a combinação com o vento forte é assustadora. De acordo com a Epagri, é quando ocorrem a maior parte dos acidentes do local.

Solidariedade é o maior socorro dos pescadores

Quem está no mar já sabe: navegar com segurança só é possível quando outras embarcações estão se comunicando. A solidariedade é o maior socorro dos pescadores na região.

Nos dois naufrágios que ocorreram nesta semana na região de Balneário Barra do Sul e São Francisco do Sul foram os próprios pescadores que agilizaram socorro e garantiram a ajuda nas operações de bombeiros e da polícia.

Continua depois da publicidade

– De uma certa maneira, dependemos das próprias embarcações. Não temos um socorro efetivo. Só a solidariedade – diz Bernardete Felício, sócia e operadora da Estação Costeira do Navegante, um serviço que funciona 24 horas por dia e é uma espécie de porto seguro na comunicação dos pescadores por rádio.

Com a experiência de quem atende a pescadores e navegadores por quase 20 anos, ela considera que o socorro não é eficiente porque é quase todo baseado em serviços de terra, como corporações de bombeiros e serviços de emergência de autoridades policiais, como os helicópteros da Polícia Militar ou da Polícia Rodoviária Federal.

– Quem está no mar deveria ter um atendimento mais efetivo. Mas ainda há uma salvaguarda em condições – diz.

Continua depois da publicidade

A Marinha do Brasil, que tem lanchas e navios que podem fazer esse trabalho, não dá conta de todo o tráfego do litoral e tem atribuições que vão muito além dos salvamentos, como a própria segurança do litoral brasileiro.

(* Colaborou Carolina Dantas)