No começo da atual temporada de verão, a Casan divulgou investimentos na rede de distribuição que melhorariam em 25% a produção de água para o Norte da Ilha, região de Florianópolis que historicamente sofre com o desabastecimento do líquido nessa época do ano.
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::: SC precisa investir para evitar futuros problemas com abastecimento
No entanto, se a concessionária interrompesse as perdas no sistema da Capital, que chegaram a 33,72% em 2013, segundo levantamento do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), órgão ligado ao Ministério das Cidades, a probabilidade de faltar água para os moradores seria menor.
Tubulação antiga e com manutenção inadequada, além de interferências como ligações clandestinas são os principais problemas relacionados a perdas de água na distribuição.
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O relatório do SNIS mostra que Santa Catarina está aumentando o percentual de perdas nos três últimos anos avaliados pela pesquisa, de 2011 a 2013. Além disso, auditorias do Tribunal de Contas do Estado (TCE-SC) também apontam uma perda de água bem acima do que é considerado bom pelo governo federal: 20%.
– Nos últimos anos, há um aumento dos indicadores, mas acredito que em boa parte se deva a um controle melhor. Há 10 anos, os mecanismos de medição eram bem mais modestos e muitas distribuidoras tinham dificuldades para encontrar os vazamentos. Mesmo assim, o desperdício ainda é muito alto – conta Roberto Fleischmann, diretor de Atividades Especiais do TCE, que apontou uma perda de 41% do Sistema Integrado Florianópolis em 2011.

As perdas calculadas na distribuição são referentes à infraestrutura das concessionárias. Ou seja, são vazamentos que ocorrem desde a captação dos mananciais até antes de chegar no destino final, as residências, passando pelas estações de tratamento.
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Professor de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC, Flávio Lapolli explica que há várias formas de encontrar esses defeitos.
– Infraestrutura antiga é passível de corrosão e outros problemas que provocam vazamentos. Mas além de uma nova tubulação, é preciso ter equipamentos como hidrômetros em diversos pontos da rede. Assim é possível controlar onde pode haver algum desperdício de água. É um trabalho de formiga – diz o professor.
“O desperdício é dinheiro no lixo”
TÂNIA DENISE PEDRELLI, Professora de abastecimento de água
Por que São Paulo enfrenta tantas dificuldades de abastecimento de água e Santa Catarina não?
Tânia Pedrelli – Santa Catarina tem um bom histórico de preservação de nascentes, ao contrário de São Paulo e o restante da região Sudeste. Por exemplo, o Parque da Serra do Tabuleiro, onde estão as principais nascentes da Grande Florianópolis, foi bem cuidado nas últimas décadas. Sem preservar as nascentes, não existe fonte de água.
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Isso indica uma falta de planejamento desses Estados?
Tânia – Para chegar a esse ponto de falta de água, vários fatores influenciam: demanda alta, falta de chuva, desgaste ambiental de mananciais. A natureza sozinha não resolve tudo, é preciso ajudar. E esse planejamento tem que ser feito a longo prazo.
O que seria considerado um bom exemplo de cuidados com fontes de água?
Tânia – Quando falamos de recursos naturais, quem produz é o meio rural, não a cidade. Há um projeto subsidiado pela Agência Nacional de Águas (ANA) no interior de Minas Gerais que é emblemático com relação à produção do líquido.
A média catarinense de perdas é de 33,7%. Isso pode causar desabastecimento de água?
Tânia – Essa perda em sistemas no Brasil é algo histórico. Se as companhias trabalhassem melhor com sistema de gestão de perdas, não faltaria água nessa época. Essas perdas significam dinheiro jogado no lixo. É uma água que você trata e não usa.
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Cidade do Oeste chega a desperdiçar 90% da água que trata
O município que apresentou o pior resultado foi Lajeado Grande, no Oeste catarinense, com 90,02% de perdas no sistema em 2013, que é municipalizado, segundo dados do SNIS. Isso significa que a cada 10 litros de água tratada na região, apenas um litro chega no seu destino final. O responsável pelo sistema de tratamento não foi encontrado pela reportagem para comentar o resultado.
As outras duas cidades que ocuparam o topo do desperdício de água foram Bom Jesus (70,35%) e Siderópolis (67,78%), ambas com tratamento sob responsabilidade da Casan. Em resposta, a empresa informou que Bom Jesus “voltou recentemente à concessão da Casan”.
Sobre Siderópolis, a nota esclarece:
– Ocorreu um vazamento oculto grande, que as equipes custaram a identificar.
Vazamento oculto é aquele que não aflora, simplesmente não se vê onde a água está vazando, pois ela pode estar infiltrando diretamente no solo, por exemplo. Nesses casos são usados métodos de escuta, como o geofone, para tentar identificar o local exato do vazamento, mas nem sempre é fácil.
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Na ponta inversa, entre os locais que tiveram melhor resultado, está Balneário Camboriú. O município do litoral catarinense obteve 0,26% de perdas no ano da pesquisa. O diretor-geral da Emasa, autarquia responsável pela sistema, André Ritzmann, lembra dos investimentos feitos para cessar vazamentos nos últimos anos.
– A principal medida foi a troca de válvula antigas e de uma adutora, que custou cerca de R$ 5 milhões. Também eliminamos perdas na estação de tratamento – diz o diretor-geral.