A Polícia Federal trabalha com a hipótese de haver um esquema de corrupção no setor de fiscalização da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinfra) de Joinville que vai além da fiscal Gisleine dos Santos Machado Afonso, presa na quarta-feira à noite. Os autos do processo sobre o caso, ao qual “A Notícia” teve acesso nesta sexta-feira, mostram que pelo menos mais um fiscal da pasta também é suspeito de envolvimento no caso de cobrança de propina.

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Segundo o delegado-chefe da Polícia Federal em Joinville, Alcir Amaral Teixeira, os próximos passos da investigação irão envolver a tomada de depoimentos de pessoas próximas aos investigados, como servidores, e análise documental, em que devem ser averiguados papéis da Seinfra sob responsabilidade de fiscais e do setor de fiscalização. O delegado que conduz o inquérito policial, José Francisco de Castilho Neto, não foi localizado na sexta-feira.

Segundo o secretário de Infraestrutura, Romualdo França, os processos de fiscalização não ficam apenas com o servidor, mas passam pelo conhecimento do coordenador da área e do gerente da unidade de fiscalização.

Como já havia afirmado em entrevista na quinta, o secretário diz que não há como supor o envolvimento de outros funcionários ou a existência de um esquema de corrupção no momento, mas que foi solicitada a abertura de processo administrativo-disciplinar por parte da Secretaria de Gestão de Pessoas para investigar o caso.

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Na conversa gravada com ajuda de um celular da funcionária de um estabelecimento da Via Gastronômica, a fiscal Gisleine comenta várias vezes que “outra pessoa” passaria no estabelecimento para pegar o dinheiro da propina, no valor de R$ 6 mil, para agilizar a liberação do certificado de conclusão de obra (CCO), necessário para obtenção do alvará, que é emitido pela Secretaria da Fazenda.

A outra pessoa que ela menciona é provavelmente o segundo servidor investigado, que já havia comparecido junto de Gisleine e de um terceiro fiscal no estabelecimento em 2011, ano em que já havia sido cobrados R$ 4 mil dos proprietários, segundo os documentos do processo. Na época, o estabelecimento não pagou a propina. Desde lá, o estabelecimento teria dificuldades em obter a documentação.

Medo de ser descoberta

O fato de Gisleine dizer na gravação que recebe R$ 200 da propina de R$ 6 mil continua em apuração. Ao mesmo tempo em que ela menciona isso, a PF apura por que ela recebeu depósitos de R$ 16,3 mil, R$ 13 mil e de R$ 18,8 mil recentemente em sua conta, segundo declarou o delegado Teixeira na quinta-feira.

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A fiscal diz que os R$ 6 mil são com “desconto” e que o normal seria cobrar R$ 8 mil, R$ 10 mil ou mais, o que também é alvo das investigações. Gisleine revela, ainda, que “não gosta de multar” e que “não vai ter chefe nenhum que vai me obrigar a fazer isso”. Em alguns trechos, também demonstra medo de ser descoberta.

– Eu até evito tá falando no telefone, que vai que tá grampeado […].

Assista ao vídeo do momento da prisão: