Um dos reflexos do terremoto que atingiu o Chile foram tremores sentidos no Brasil em vários Estados, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Todo o território catarinense foi atravessado pela ondas geradas pelo evento natural, mas quatro cidades levaram um susto maior, Balneário Camboriú, Itajaí, Itapema e São José. Os bombeiros chegaram a ser chamados pela população, que em alguns casos evacuou prédios.
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Entenda como o terremoto no Chile causou impactos em Santa Catarina
Para esclarecer alguns aspectos do ocorrido, a reportagem conversou com o pesquisador George Sand, do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UNB). Ele diz que os tremores não chegam a representar risco e são até ocorrências normais.
Essas cidades sentiram os tremores como reflexos do Chile. É apenas por estarem em áreas que tiveram a formação do seu solo em períodos mais recentes, portanto menos assentadas?
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Jorge Sândi – Tem um outro fator: se não tiver prédio, ninguém vai sentir. Então é necessário que essas cidades tenham edifícios e, assim como São Paulo, estar sobre uma rocha muito mais mole. A onda se propaga e, quando chega nessa rocha mole, o efeito dela se amplifica, embora ainda seja pequeno e nada para causar pânico. Além de amplificar, a onde tem uma frequência muito similar às dos prédios. A partir do terceiro, quarto andar, tem uma oscilação natural do prédio. A gente não percebe, mas tem. E ela entra em ressonância com o terremoto, se amplificando, como se a onda fosse junto com ele.
Essa oscilação pode gerar algum risco para quem está no apartamento?
Sândi – Não, não chega a ser um problema grave. Para causar um problema grave, esse terremoto teria que ser de uma magnitude muito grande e muito próximo da cidade. Nesse caso não há nada que possa causar algum pânico maior. O máximo é deixar algumas pessoas com tontura e alguns objetos da casa balançarem, como os lustres. Mas nada mais do que isso. É cerca de cinco, seis segundo. Dez no máximo. Quando percebe já acabou. Passa muito despercebido. Muito tempo atrás sempre se teve esses tremores, mas a gente não sentia porque não tinha tantos edifícios nessas áreas.
Até para tranquilizar a população: em um terremoto como esse do Chile, existe algum risco de gerar rachaduras ou levar à queda de um edifício em Santa Catarina?
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Sândi – Até a possibilidade de derrubar um objeto dentro de casa é muito remota. Levar à queda de um edifício, até a uma rachadura, é pouco provável. O grande problema é que a população acaba querendo esvaziar prédio, ficam nervosos e acabam descendo. Tem que ter calma. Não deve sair correndo porque o prédio não vai cair. Muita gente correndo pode acabar levando a um problema, ao se desesperar.
Tem alguma coisa que a população tenha que fazer em situações como essas?
Sândi – Quando chegam aqui, são terremotos de magnitude grande, mas distantes. E, como são coisas muito raras, se daqui a dois meses acontecer de novos talvez as pessoas entendam. Mas como ocorrem de dois ou três anos a população acaba fazendo a mesma coisa de novo porque já esqueceu daquele que aconteceu tempos atrás. Vou dar um exemplo: em 2010 houve um terremoto de 8,8 graus de potência na escala Richter, e Santa Catarina também sentiu seus efeitos, assim como outras regiões do país. As pessoas acabam esquecendo. Não temos essa cultura. A gente não treina nem para prevenção de incêndios.
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