Os tremores sentidos nas quatro cidades catarinenses são reflexos de algo que aconteceu a 2,8 mil quilômetros de distância do Estado. Ondas de energia atravessaram o continente depois que a movimentação de placas tectônicas próximas ao Chile estremeceram a terra e causaram estrago naquele país. Pelo menos 1 milhão de chilenos tiveram que sair de suas casas e oito morreram no terremoto registrado na noite da última quarta-feira.
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Chile confirma oito mortes e 1 milhão de desabrigados por terremoto
O tremor registrado no Chile alcançou 8,4 graus na escala Richter, utilizada para medir impactos desse tipo. Embora seja, teoricamente, infinita, a escala Richter nunca registrou um terremoto com mais de 10 graus de impacto, o que mostra a força do fenômeno ocorrido ontem à noite no país sul-americano.
No caso chileno, as placas de Nazca (do Pacífico) e Sul-Americana (onde o Brasil está) se movimentam cerca de quatro a seis centímetros por ano. A placa do Pacífico pressiona, por baixo, a Sul-Americana, e essa fricção cria acúmulos de energia que, vez ou outra, se rompem.
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– A situação é a mesma de uma régua. Quando você vai tencionando os lados, como as placas tectônicas fazem, elas vão acumulando energia. Até o momento em que essa tensão se rompe e causa um abalo que vai reverberar – explica o geólogo da Universidade Regional de Blumenau (Furb), Juarês José Aumond.
Em Santa Catarina, o reflexo pôde ser sentido de maneira mais intensa devido às rochas do solo. O litoral catarinense tem rochas consideradas bastante novas, com menos de 1 milhão de anos, o que significa que não são tão sedimentadas e, por isso, estão mais propensas a serem alteradas.
– São sedimentos que se movem de uma maneira mais fácil, com menos energia. Rochas antigas, enrijecidas, têm mais de 500 milhões de anos. Essas ainda não tiveram esse tempo – acrescenta Aumond.
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Quatro cidades de SC sentem tremores em edificações durante a noite
Essa área de sedimentos se estende desde as áreas planas da Baia da Babitonga, no norte de SC, até a foz do Rio Itajaí-Açu, especialmente em Itajaí, Ilhota, Piçarras e Navegantes. As outras regiões de Santa Catarina, como Oeste e Planalto, têm rochas mais consolidadas, diminuindo os efeitos dos tremores para a população.
– Dentro dessas cidades, o que faz uns prédios serem afetados ou não é a altura. Edifícios mais altos possuem uma amplitude de movimento maior. Casas não sentiram a força do tremor, mas um prédio de dez andares, sim – explica Aumond.
Mas os efeitos não foram exclusividade de Santa Catarina. No Brasil, cidades do Rio Grande do Sul, do Paraná e de São Paulo também sentiram os efeitos do terremoto.
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Brasil não é imune a tremores
Tremores de terra no Brasil não são tão raros quanto se pensa. Por estar localizado no meio da placa tectônica, o país não sofre abalos sísmicos intensos como os presenciados no Chile, mas isso não significa que não é afetado.
Um primeiro estudo do Departamento de Geografia do Instituto de Geociência da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mapeou 48 falhas geológicas no nosso território. Elas causam pequenos terremotos, que muitas vezes são imperceptíveis na superfície.
Em Brusque, por exemplo, um abalo sísmico foi confirmado em dezembro de 2013. O encontro de várias falhas geológicas acumulou energia que reverberou na superfície. Em Jaraguá do Sul, outro terremoto, de magnitude 3,5, pôde ser sentido menos de um ano depois, segundo o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB).
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Apesar da relativa frequência de pequenos tremores, o geólogo Juarês Aumond garante que os brasileiros não precisam se preocupar:
– Alguns abalos podem ser sentidos no Brasil, mas eles são fracos. Já tivemos registro de até 6º, mas são muito, muito raros. Estamos no meio de uma placa tectônica o que impede tremores mais significativos. Não teremos esses problemas.