Padre Luiz Facchini viveu para servir e o fez até os últimos momentos da vida. Na manhã de segunda-feira, apesar de ainda estar se recuperando de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) sofrido na semana passada que o fez permanecer por dois dias na UTI, ele visitou a cozinha comunitária da fundação que leva seu nome e almoçou com os funcionários antes de voltar para casa, para o cochilo que já fazia parte da rotina do religioso de 76 anos. Foi quando fechou os olhos pela última vez, deixando um legado de solidariedade e doação.
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Facchini nasceu em Taió, cidade do Vale do Itajaí, em uma família com 12 irmãos. Os princípios de caridade já estavam presentes no berço: além dele, outros dois irmãos optaram por seguir a carreira religiosa. Estudou teologia em Curitiba, no Paraná e concluiu os estudos em Fribourg, na Suíça, sempre dividindo a formação com trabalhos – na Suíça, foi ajudante de pedreiro. Lá, foi ordenado sacerdote em outubro de 1969, aos 27 anos.
Chegou a Joinville em 1971 para trabalhar na catedral de Joinville, com o Padre Bertino. No ano seguinte, assumiu a Coordenação Diocesana de Pastoral, cargo que exerceu até 1975 e o permitiu acompanhar todas as mudanças da igreja, especialmente o Concílio Vaticano II.
Em 1975, criou a comunidade Cristo Ressuscitado ao lado do irmão, João. Permaneceu na Paróquia Cristo Ressuscitado por 24 anos e, em seguida, criou a Paróquia Nossa Senhora de Belém, no Bairro Escolinha. Defensor da Teologia da Libertação – vertente que defende uma Igreja sem hierarquia e voltada ao cuidado dos pobres -, ele chegou a enfrentar perseguições políticas.
– Ele foi cassado pelo regime militar por causa de sua visão progressista. Também ajudou a fundar o Centro de Direitos Humanos, que foi o terceiro do País – conta o sobrinho, Tiarajú Facchini.
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Em 1994, quando completou 25 anos de sacerdócio, Facchini montou a Fundação Pauli-Maudi, que, em 2009, tornaria-se a Fundação Pe. Luiz Facchini – Pró Solidariedade e Vida. O projeto tinha como objetivo principal a implantação das Cozinhas Comunitárias nos 19 focos de fome que o religioso identificou em Joinville. Durante muito tempo, foram mantidas 30 cozinhas comunitárias na região Norte de Santa Catarina, atendendo mais de 4 mil crianças diariamente.
– Nos anos 2000, Lula esteve em Joinville e conheceu as cozinhas comunitárias do projeto. Depois, expandiu o modelo pelo Brasil em pelo menos 500 unidades – recorda Tiarajú.
Atualmente, a fundação possui dois núcleos, com o programa Cidadão do Futuro, que oferece atividades esportivas, artísticas e de cidadania no contraturno escolar para 200 crianças e adolescentes; e com a Cozinha Comunitária, que atende 150 crianças. Para Facchini, deixar uma criança passar fome era o mesmo que ferir a dignidade humana.
– Ele sempre dizia: ‘Se morrer de fome é a maior miséria humana, deixar alguém morrer de fome é a maior miséria espiritual’ – cita o sobrinho.
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Para Alcides Porcincula Junior, 30 anos, a jornada de solidariedade do padre é uma inspiração constante para todas as pessoas que conviveram com ele à frente durante os anos de trabalho na fundação. Alcides é coordenador do Projeto Cidadão do Futuro e conta que, mesmo não fazendo mais parte da administração, Facchini estava presente no conselho curador e também realizando palestras para as crianças do projeto. A Fundação Padre Luiz Facchini, atualmente, possui uma diretoria que tem o papel de dar seguimento às atividades comunitárias.
– A figura do padre representava uma perspectiva de uma sociedade mais justa, mais solidária e mais humana.Ele tinha muito esse entendimento de solidariedade e igualdade, um homem que se abdicou de seus bens para dedicar à vida ao próximo – avalia Alcides.
CONHECIDO PELA FORÇA
Ao partir, na tarde desta segunda-feira, Facchini deixa uma cidade inteira em luto, mas, principalmente, uma família que o conhecia também pela força, pelas palavras de paz e pelo quanto gostava de pescar – ainda mais quando eram garopas. Deixa também um filho adotivo, de oito anos.
– Meu tio tinha o coração gigante. Tirava de si para dar para os outros. Mesmo quando passávamos dificuldades para manter a fundação, ele dizia ‘Deus Proverá’, e as coisas acabavam dando certo – diz Tiarajú.
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O velório está ocorrendo na Paróquia Cristo Ressuscitado, na rua dos Guararapes, 100, no bairro Floresta, zona Sul de Joinville. Às 15 horas haverá um cortejo do local até a Catedral de Joinville, no Centro. Às 16 horas, haverá uma missa de corpo presente na Catedral e, em seguida, o sepultamento na cripta da Catedral.
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