Os pacientes do interior do Estado que se deslocam até hospitais de referência na Grande Florianópolis para consultas pré-agendadas estão voltando para casa sem atendimento. Este é um dos principais reflexos da greve dos servidores estaduais da saúde em Santa Catarina.

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Já para quem precisa de atendimento nas emergências e ambulatórios, o serviço se mantém. Os pacientes que correm risco de morte ou precisam de atendimento a curto prazo estão sendo recebidos nos hospitais Regional de São José, Joana de Gusmão e Celso Ramos, estes dois últimos em Florianópolis.

Esta pelo menos foi a realidade encontrada em uma visita-surpresa feita na manhã de terça-feira pela reportagem do Diário Catarinense aos três locais. Das 9h às 12h, a equipe ficou na porta dos estabelecimentos de saúde para observar a situação e ouvir os pacientes.

Nos hospitais Joana de Gusmão, Celso Ramos e Regional havia pouco movimento nas emergências. A situação seria reflexo da própria greve. Como os servidores estão parados há três semanas (a greve começou no início de outubro, foi suspensa por 15 dias e retomada no dia 23), muitos daqueles que utilizam os serviços já sabem que não serão atendidos no hospital e recorrem aos postos de saúde.

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Outros estão esperando o fim da greve para remarcar a consulta, diminuindo o movimento nas emergências. Segundo os servidores, um médico que atendia em média 30 pacientes por turno, está atendendo 10.

Mas no Hospital Regional de São José, a busca por consultas médicas é grande. Vans e micro-ônibus das cidades do interior continuam trazendo pacientes para tratamento na Grande Florianópolis, mesmo com a greve. Todos voltam sem atendimento e revoltados pela falta de informação. Segundo o Sindsaúde, esta seria uma medida encontrada pelo governo para pressionar a categoria a desistir do movimento.

Sem consulta e sem aviso

No meio deste fogo cruzado estão pessoas como Zenilda Castanho. Ela mora em Gaspar, no Vale do Itajaí, e tinha uma consulta com otorrinolaringologista agendada há um mês para a filha Vitoria Duarte, dois anos. A menina tem dificuldade para dormir, mas não necessitava de atendimento emergencial.

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Zenilda teria sido informada pela Secretaria de Saúde, na véspera da viagem, que a consulta estava confirmada. Às 10h de ontem, chegou ao Hospital Infantil Joana de Gusmão, na Capital, e só aí recebeu a informação sobre a greve.

– Não entendo por que fazem isso com a gente. Se eu soubesse, não precisaria sair de casa, deixar trabalho e tudo para trás. Tinham que nos avisar – reclamou.

Márcia Devanira Seide, 59 anos, também foi vítima da falta de informação. Saiu de Blumenau, às 4h da manhã de terça-feira, para levar o filho Helito Celso, quatro anos, a uma consulta com oftalmologista no Hospital Regional. Até as 11h, ela não tinha ideia de que horas voltaria para casa.

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– Vieram mais cinco pessoas comigo e ninguém sabia da greve. Ninguém avisou que não teria consulta – afirmou.

Emergências atendidas

Em greve ou em regime de revezamento para atender aos pacientes, os servidores que estão nas portas dos hospitais estaduais geralmente delimitam quem entra na unidade com aval do médico (ele também faz triagem dos casos). A decisão leva em conta o diagnóstico do paciente.

Aos 75 anos e com o pé direito amputado, Flavio Rosa Fagundes precisava tirar os pontos de uma cirurgia e recebeu atendimento no Hospital Regional. Jonatam Douglas Furtado, 18 anos, deslocou o ombro em uma partida de futebol, estava com dor e também foi atendido, neste caso, no Hospital Celso Ramos.

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Já Rafael Paixão, pai de Ana Luiza Herichs que está com um mês e nove dias de vida, mantinha um cartaz de protesto no Hospital Regional. Sua filha não deixou de ser atendida pela greve, mas porque um equipamento para exame está quebrado há três meses.

– Com ou sem greve, a gente raramente tem o serviço que precisa. Minha filha depende deste exame para viver, em clínicas particulares custa mais de R$ 1 mil, e nesse caso, de quem eu cobro? Quem é o culpado? – questionou.

Hora-plantão é o ponto de discórdia

A origem da greve está relacionada à hora-plantão, nome usado na saúde para horas extras. Elas são pagas aos empregados do setor há 20 anos porque não existe mão de obra suficiente para manter os hospitais funcionando. Mas com a contratação de pessoal iniciada este ano, os servidores sentiram-se ameaçados de perder parte do salário.

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O sindicato dos trabalhadores (SindSaúde) defende que para manter a remuneração atual seja criada uma gratificação. O governo responde que não tem dinheiro para bancar por estar próximo ao limite de gasto com pessoal estipulado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. O negociador do governo estadual, Décio Vargas, garante que não é falta de vontade, mas de recursos. Lembra que a taxa de arrecadação do Tesouro está 50% abaixo do projetado. O governo questiona o fato de os servidores passarem a trabalhar menos com o mesmo salário.

Não há sinal de um desfecho em breve. Décio declara que só voltará a negociar quando a greve acabar. O diretor de imprensa do SindSaúde, Claúsio Vitorino, alega que os servidores deram tempo para apresentação de propostas e nada ocorreu. Por isso, só voltam quando algo concreto for colocado no papel.