Quatro anos depois de ter sido uma das protagonistas da eleição municipal de 2012, quando alcançou 60 mil votos, teve 25,03% do total e ficou a pouco mais de 5 mil votos de disputar o segundo turno, Angela Albino (PCdoB) considera que a atual campanha ainda está em aberto.

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Avalia que a maioria dos eleitores florianopolitanos não consolidou seu voto. Acredita que importantes temas da cidade, como mobilidade urbana e saneamento, por exemplo, precisam de soluções buscadas e tratadas em conjunto com a Região Metropolitana.

Angela Albino é a quarta candidata à Prefeitura de Florianópolis a conversar com a Hora de Santa Catarina durante esta semana, em entrevistas com os cinco candidatos cujos partidos têm representação superior a nove deputados na Câmara.

“Não consigo entender como a cidade que tem na sua maior arrecadação a área de ciência e tecnologia, ainda seja tudo tão antiquado nos seus procedimentos”, diz a candidata Angela Albino

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A senhora fala em resolver os grandes temas em conjunto com as cidades da Grande Florianópolis. O Plano de Mobilidade Urbana Sustentável prevê essa integração na mobilidade. Como a senhora pretende fazer isso no saneamento?

O saneamento é uma questão simbólica muito forte na questão da Região Metropolitana. Palhoça, há uns anos, saiu do sistema Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan), e desde então toda a arrecadação de sistema de esgoto vai para o caixa geral do município. E eles pagam a folha com isso. Continuando assim, nós poderíamos ter 100% de rede de esgoto em Florianópolis. E se mantiver Palhoça, Biguaçu, Santo Amaro e São José bem resolvidos, resolve o problema. Por isso, eu tenho convicção que grande temas, como mobilidade, saneamento, destinação de resíduos sólidos e mesmo a questão de desenvolvimento econômico precisam ser tratadas com a Região Metropolitana.

E a Casan, como a senhora vê a atual relação do município com a companhia?Mesmo com debilidades, nós já temos investimentos de R$ 330 milhões aprovados pela Casan. Nenhuma empresa pública que se criasse, ou nenhuma empresa privada que se concedesse o serviço, teria capacidade de ter um investimento dessa monta. O que eu tenho convicção é que a gente precisa ter uma fiscalização mais presente. Hoje, a leitura que eu tenho é que fica muito sendo da Casan, e o município precisa ser mais proativo nisso. Então é manter o contrato com a Casan, mas com mais presença.

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O que a senhora acha do que vem sendo encaminhado nas audiências finais do Plano Diretor?

Tem que aprovar, mesmo que no futuro se considere equívoco alguma coisa. É pior não ter do que deixar com algum problema. Se tiver algum problema, façamos depois. Mas eu entendo que a gente precisa ter mais capacidade de pactuar a cidade, não é só Plano Diretor. Qual é a cidade que a gente ruma no futuro? Nós estamos há 20 anos discutindo uma gestão até o seu final. Qual é a cidade que fica de legado? Quando nós decidimos que aqui não ia ter indústria, na década de 50, esse legado está para nós até hoje. Não foi uma geração espontânea que nós não temos indústrias dentro da Ilha, em particular. Foi uma decisão de governo. Foi uma visão de futuro. E que hoje a gente não exercita. A gente não deixa um legado para frente.

Como a senhora vai fazer para ¿conectar¿ a cidade, como anuncia na propaganda eleitoral?

Eu não consigo entender como uma cidade que tem a sua maior arrecadação na área de ciência e tecnologia ainda seja tudo tão antiquado nos seus procedimentos. Se a gente precisar tirar uma certidão… Isso tem que ser feito em casa, pela internet. Tem que receber no celular onde resolve o teu problema. Tem que ter acompanhamento da frequência das notinhas do filho no celular. Tem que saber a hora que o ônibus vai passar. Hoje tudo é feito pelo celular. Resolve as coisas do banco pelo celular, que tem dados muito mais complexos, por que a gente não pode resolver as coisas da prefeitura? Eu tenho muita expectativa de a gente desenvolver essa área a um novo patamar, também dentro da estrutura do município. Claro que aí há a cidade digital, praças com wifi, a gente também tem no nosso plano de governo. Mas centralmente, menciono agora a questão da gestão, com essa capacidade de falar diretamente. Todos os dias que acaba o programa de governo, eu faço um Facebook ao vivo. Nossa, é um troço fantástico, porque as pessoas vão interagindo, aí eu respondo, daí ele conta lá do seu bairro… Então, essas ferramentas eu considero importantíssimas, é uma ferramenta de gestão muito importante. Democratizante.

No seu plano de governo a senhora cita o transporte marítimo. Como implantar e com que recursos, se eleita?

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A gente tem notícias de empresas que se dispõe a implementar os terminais marítimos para poder fazer o usufruto do serviço. Eu não compreendo como uma cidade que há um século, até a década de 20, fazia sua travessia Ilha-Continente por barco, agora não dá. Eu entendo que nós devemos pensar o sistema marítimo ideal, sabendo que não vamos implementar ele hoje, mas vamos começar. Vamos aos poucos. É uma obviedade tão clara, que fica difícil de entender por que toda eleição ela aparece, toda eleição todo mundo se compromete, e todas as gestões não fazem.

Seu discurso de oposição tem sido mais ameno desde que a senhora decidiu que seu partido iria apoiar o governo de Raimundo Colombo (PSD), a quem o PCdoB sempre criticou. O partido do governador é o mesmo do prefeito Cesar Souza Junior, filho do deputado que cedeu sua cadeira para a senhora na Câmara Federal. Isso não enfraquece sua candidatura aqui?

Não, porque nossa posição política sempre foi muito clara. Aliás, eu pertenço ao mesmo partido político desde a primeira vez que me filiei quando eu tinha pouco mais de 30 anos. Em toda minha vida política sempre tive uma posição clara. Esse episódio agora, por exemplo, contra o “golpe”, eu tive uma posição muito clara, que é a do meu partido. Deputado Cesar Souza inclusive assumiu, porque não queria esse voto, votou diferente. Portanto, nós temos divergências, mas mantenho uma convivência com ele, política. A ida minha para deputada federal foi uma posição do governador em torno da nossa aliança de 2014, que foi uma aliança em torno da presidente Dilma Rousseff. Em 2014, eu não mudei de lado. O governador passou a apoiar a presidente Dilma. Esse movimento político dele nós entendemos muito importante para procurar aproximar dele.

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Muito se falou na cidade o porquê de não se fazer uma grande frente ampla de esquerda, congregando PCdoB, PT e PSOL. Isso chegou a ser discutido?

Muito discutido, muito. O Gabriel (Gabriel Kazapi (PT), vice de Angela Albino) está aqui inclusive, e o PT foi um dos partidos que disse “vamos fazer a esquerda com uma grande chapa”. A gente propôs, fez várias reuniões, com o João Ghizzoni pelo PCdoB (presidente da sigla no Estado), em particular, várias vezes. Teve algumas dificuldades, uma que o Elson (Pereira, do PSOL) estava fora do país, estava em estudos na Europa, não havia comunicação direta com ele. Nós propusemos que fosse feita a aliança e depois a gente avaliava quem seria cabeça de chapa, quem ia ser vice, e um ia ficar de fora, porque seriam três partidos. E a cidade mesmo interpretou, um tempo atrás, que eu não estava construindo a minha candidatura a prefeita. Portanto, eu tinha disposição de construir um projeto em comum. Mas o PSOL fez uma guinada lá pelas tantas, disse “não, a cabeça de chapa é nossa, o PV é vice”. O PT e o PCdoB não aceitam o PV por ser um partido que também é golpista, que também está na base do governo Temer. Nós achávamos que devia ser uma chapa com viés ideológico, o único sentido de juntar a esquerda era o viés ideológico, e quando o PSOL impôs que fosse o Elson de cabeça de chapa e o PV de vice, para nós o caminho natural foi o PT e o PCdoB unificarem a candidatura.

As pesquisas eleitorais não foram exatas em 2012. Este ano, a senhora aparece em quarto lugar. Isso incomoda?

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Dizer que a gente celebra seria uma insanidade. Se isso muda nossa estratégia? Não. Um exemplo claro que temos aqui em Santa Catarina é a Ideli Salvati (PT), que em 2002 aparecia em quinto, e foi a campeã de votos para o Senado. Eu penso que as pesquisas, e o Luiz Henrique (da Silveira – PMDB) tinha uma proposta sobre isso, é uma ferramenta de trabalha da equipe de marketing, da coordenação de campanha. Ela hoje serve como uma ferramenta de posicionamento político. As pessoas ainda acham que vão votar em quem ganha. E, portanto, a divulgação das pesquisas interfere na vontade do eleitor. Mas como nem sempre o que dá na pesquisa é o que dá de fato, nós estamos tocando o barco como a gente achou que devia.

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