Ao deflagrar a Operação Ordem e Progresso contra o tráfico de drogas no Monte Cristo, parte Continental de Florianópolis, no último fim de semana, as polícias Civil e Militar afirmam ter dado passo importante para a melhoria de vida dos cerca de 20 mil moradores da região. Mas a questão de falta de políticas públicas permanentes, que afeta o lugar há décadas, ainda está longe de uma solução definitiva.

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O problema principal é uma guerra entre facções rivais por pontos de drogas. Criminosos instalados na Chico Mendes buscam o controle de território na Novo Horizonte e vice-versa.

Há seguidos tiroteios entre os bandos e recentemente a própria polícia passou a ser hostilizada com tiros e pedradas. Crateras também foram abertas em ruas para dificultar a passagem policial.

No entorno, usuários de crack vagam de dia e noite por becos, viadutos e as margens da Via Expressa.

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Eles alimentam o chamado tráfico formiguinha, praticam arrombamentos, furtos, roubos e vandalismo. O universo também envolve a prostituição infantil, além de mortes geralmente por dívidas e vingança.

Ao longo dos anos, há visível ociosidade de jovens e adolescentes, que vêm sendo recrutados por traficantes e em muitos casos estão a frente do próprio ponto de venda de entorpecentes. Outro agravante seria a ausência de espaços públicos para lazer e entretenimento.

Na área de segurança pública, as polícias garantem que há avanço. Apenas na operação de sábado, 13 pessoas foram presas em resultado a uma investigação da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), que ainda está em andamento.

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Polícia mapeia e monitora região da comunidade Monte Cristo, na parte Continental de Florianópolis. Foto: Divulgação/Polícia Civil

Um dos líderes do tráfico na Chico Mendes, conhecido como Chorão, está entre os presos, além de mulheres e três adolescentes que foram apreendidos.

Conforme o delegado João Fleury, a Deic vai continuar a apuração em busca da prisão de outros envolvidos.

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No domingo, a Polícia Militar desencadeou a operação Saturação e prometeu empregar na área o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Choque, Canil e Grupo de Polícia Montada. Não será uma ocupação definitiva, mas com ações específicas de saturações.

– Já conseguimos melhorar um pouco a região e nos três primeiros meses desse ano zeramos a taxa de homicídios, aumentamos a ronda e também notamos que houve a diminuição da evasão escolar. Outros planos sociais também serão feitos em parceria – disse o comandante do 22º Batalhão da PM, tenente-coronel Marcos Barreto Valença.

Base policial permanente

A prefeitura admite dificuldades como a falta de espaço físico para ampliar os serviços à comunidade.

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O diretor-geral da Secretaria da Assistência Social, Dejair Oliveira Júnior, assinala a importância de uma mobilização conjunta entre os governos federal, estadual e municipal para mudar de vez a situação.

– É preciso também um esforço e vontade de toda a comunidade em parar de acobertar o tráfico, porque serviços e entidades conveniadas existem. Não podemos é forçar as pessoas – ressalta Dejair, que defende a instalação de uma base operacional das polícias para garantir a segurança definitiva aos moradores.

O secretário do Continente, Deglaber Goulart, garante que houve avanços no Monte Cristo e informou que vários projetos estão em andamento e outros previstos.

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Um deles é a desapropriação de uma grande área ao lado de um supermercado, que abrigaria uma creche e uma escola profissionalizante.

O secretário listou ainda a reforma do lugar conhecido como Carandiru, que terá 26 salas com programas de atendimento com psicólogos e acompanhamento familiar, a reforma de uma quadra, a construção de um campo sintético e de uma academia ao ar livre.

– Nossa prioridade é trabalhar todas as áreas mais carentes da cidade. O problema é que também há lá situações graves de vingança. Soube até de uma adolescente de 14 anos que pensa em logo vingar a morte do pai. Por isso a importância do trabalho familiar – citou Deglaber.

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Foragidos

Na operação Ordem e Progresso, as polícias apreenderam três armas, um colete furtado da Polícia Civil do Paraná, 70 munições, dois binóculos, rádios, 200g de cocaína, 1,5 kg de maconha e 150 pedras de crack.

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