As ocorrências de farra do boi quase dobraram no Litoral Norte durante a Quaresma em relação com o mesmo período do ano passado. Desde o dia 26 de fevereiro, quando a fiscalização foi intensificada em todo o Estado, até terça-feira, nove animais usados na prática haviam sido apreendidos. Em 2013 foram cinco apreensões.
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O gerente regional da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola (Cidasc), João Carlos Batista dos Santos, acredita que o acréscimo está relacionado a fatores como o surgimento de novos grupos de farristas e o aumento do poder aquisitivo da população. Este último, segundo ele, contribui para que os grupos tenham facilidade em adquirir o animal, que custa em média R$ 1 mil.
– Muitas pessoas que foram penalizadas deixaram de praticar a farra do boi, mas com isso novos grupos surgiram nessas comunidades onde tradicionalmente ocorre a farra – diz.
Por esse motivo Santos entende que a penalização dos envolvidos é o principal meio para se combater a farra do boi, considerada crime desde 1998. A fiscalização continuará ao longo do ano e é possível que nesta e na próxima semana ocorram novas apreensões, segundo o gerente.
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A Cidasc trabalha em parceria com a Polícia Militar. Sempre que as autoridades são comunicadas de uma farra do boi, um laçador vai ao local com um caminhão para apreender o animal. Depois ele é abatido.
Quando pessoas são flagradas participando da farra elas são detidas pela PM, encaminhados à delegacia e assinam um termo circunstanciado para comparecer em juízo. Mas na maioria dos casos o que ocorre é que a maior parte consegue fugir se embrenhando no mato antes da chegada da polícia.
Ocorrência
Na ocorrência mais recente, na última segunda-feira, em Balneário Camboriú, além dos farristas conseguirem fugir o boi também deu trabalho à polícia e ao laçador. O animal já estava bastante estressado quando foi encontrado e chegou a dar uma cabeçada no laçador.
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– Nenhuma dessas ocorrências é tranquila. O animal geralmente está estressado, acuado, nunca é simples chegar lá e dominá-lo – explica o tenente Rafael Zancanaro, presente na ocorrência que demorou cerca de uma hora e meia.
A maior parte das apreensões de bois no Litoral Norte ocorreu em Bombinhas. Foram quatro no período de março a abril. Também houve um caso de suspeita na cidade, atendido pela Polícia Militar, e no qual o boi não foi capturado porque fugiu. Além desse, outro caso no último dia 11 também foi registrado porém não contabilizado pela Cidasc.
Diretor do Núcleo de Estudos Açorianos da UFSC, Joy Cletson, diz que a prática ainda é mais comum em comunidades pequenas devido à cultura mais preservada. Apesar de ser proibida a farra do boi faz parte da herança açoriana.
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– Essas cidades como Bombinhas e Governador Celso Ramos, na Grande Florianópolis, não estão infladas com as pessoas que vieram de fora -explica.
Outro fator que foi percebido pela Cidasc durante as ocorrências foi a presença maior neste ano de crianças entre os farristas. Em muitos casos, segundo João Carlos Santos, eles são usados para proteger os reais farristas caso a polícia intervenha.
Criadores alteram brincos
Os métodos usados pelos farristas para adquirir os bois usados nas farras já foram mapeados pela Cidasc. Mesmo assim, comprovar tal prática não é assim tão simples. João Carlos Santos explica que os criadores utilizam algum método para alterar os brincos que ainda não foi descoberto.
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O gerente explica que os farristas chegam a usar o mesmo boi em várias ocasiões. Eles compram o animal por R$ 1 mil e caso ele não seja abatido ou apreendido em uma farra é devolvido ao criador. Assim, pegando cerca de R$ 100 de acréscimo é possível pegar outro animal para uma nova farra.
– Eles ficam com o crédito e só perdem esse dinheiro se o boi é apreendido – conta.
Quando há casos de fazendas que vendem bois para farras a Cidasc interdita o local para averiguação de cercas e outros itens, como já ocorreu em Tijucas. Durante a interdição todos os bois são contados, mas o gerente explica que em muitos casos os brincos, que servem para controle da movimentação dos bois, são retirados.
Veja onde foram registrados casos
Itapema
15-03 – Rua 706
05-04 – Morro do Areal. Animal acabou abatido por policial
Bombinhas
07-03 – Canto Grande
20-03 – Bombas. Animal bastante machucado
21-04 – Zimbros
29-03 – Mariscal
Navegantes
28-03 Seis pessoas foram detidas e assinaram termo circunstanciado um adolescente que completaria 15 anos morreu baleado. O animal foi apreendido na madrugada seguinte
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Camboriú
21-04 – Macacos
Balneário Camboriú
21-04 – São Judas Tadeu
Fonte: Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de SC (Cidasc)