Redundância incontestável é afirmar que a Biblioteca Pública Municipal Prefeito Rolf Colin abriga muito mais que livros. Entre os tesouros armazenados no acervo, uma obra de muita importância histórica e cultural faz parte do conjunto há pelo menos 50 anos.
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A pintura “Carga dos Fanáticos”, de Willy Zumblick, está disposta entre a sala de pesquisa e a sala de braile, acima da porta que as divide. Ali, distante do campo de visão dos frequentadores, a obra se encontra tímida e despercebida entre os leitores. O curioso é que neste ano comemora-se o centenário do artista e também os 101 anos Guerra do Contestado, tema retratado na tela.

A pintura em óleo sobre tela é datada de 1956, enquanto a fundação da biblioteca municipal na praça Lauro Müller ocorreu no ano anterior. De acordo com a agente administrativa Cila Nunes de Moraes, que completa 25 anos de atividades na instituição, a obra foi doada pelo artista em 1956, após uma exposição dele na biblioteca.
Ela, que morou por 15 em Tubarão, no Sul do Estado, terra natal do artista, conta que é um orgulho trabalhar no local em que abriga a obra de Willy Zumblick.
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Na antiga biblioteca, que atualmente está em reformas, o quadro estava na entrada, ao lado esquerdo.
No quadro, cavaleiros munidos de espadas denotam um cenário hostil, em movimento. Entre os três homens que ganham destaque na pintura, o que está ao lado esquerdo carrega a cabeça de outro homem. As expressões são agressivas e descrevem um cenário de luta. Com dimensões de um metro por 80 centímetros, a pintura faz parte da coleção iconográfica sobre o Contestado, referência singular no trabalho de Zumblick.
No dia 6 de dezembro de 2005, Alcione Pauli, ex-coordenadora da biblioteca, teve a honra de conhecer o artista. Um pouco em cima da hora, recebeu o convite para a solenidade de lançamento do livro “A Arte de Zumblick”, no Centro Municipal de Cultura – Museu Willy Zumblick, em Tubarão. Mesmo grávida de oito meses, ela não hesitou em pegar a estrada. O artista morreu em 2008, aos 95 anos.
O livro é um trabalho de pesquisa sobre o acervo do artista, feito pelos jornalistas Volnei Martins Bez, Carlos Rocha e o professor Valmiré Rocha dos Santos, com o objetivo de documentar e tornar acessível o trabalho do artista plástico. Aprovada pelo Ministério da Cultura em 2004, a ideia já havia sido plantada em 2001, com o apoio da Universidade do Sul de Santa Catarina.
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– Foi um encontro mágico. Eles (pesquisadores) nos reconheceram logo no início e nos recepcionaram. Zumblick estava no evento, quieto, mas observando tudo. Havia uma fila enorme para ter acesso a ele, que atendeu a todos. Ele não tinha muita motricidade, mas só o fato de estar ali já foi encantador para nós -, relembrou Alcione.
Quando o quadro estava na biblioteca central, despertava mais a curiosidade dos visitantes, segundo Alcione. Hoje, são poucas pessoas que questionam sobre a pintura, geralmente estudiosos de arte ou profissionais da área. Diante da importância de Zumblick para a história da arte de Santa Catarina, o quadro é uma das obras apresentadas durante as visitas monitoradas.
– O quadro é agressivo. Algumas crianças até se assustam com ele – explica.
Por isso, a abordagem é diferente de acordo com a faixa etária dos visitantes ou alunos. Independentemente do grupo, a consciência do valor da obra é unânime entre todos os funcionários da biblioteca.
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– Estudar Zumblick é estudar a história da arte, a história do Estado. Ele é um exemplo de superação -, argumenta.
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