“Márcio, teu filho, quando crescer, com certeza vai ter muito orgulho pela atitude que o pai tomou”.

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As últimas horas de Márcio Chagas após a comoção pela denúncia de racismo foram marcadas por uma mensagem do cruzeirista Tinga, outro que sofreu agressão racial há três semanas.

Tinga referia-se ao fato de Márcio ter dito que temia pelo futuro do filho Miguel numa sociedade impregnada de intolerância. Outras mensagens e ligações explodiram sua caixa eletrônica desde cedo da manhã, perdurou o dia todo.

O registro de ocorrência policial ele já havia feito na noite de quinta-feira, na 8ª DP, bairro Petrópolis, em Porto Alegre. Mas só na sexta encaminhou o carro à perícia e enfrentou pelo menos cinco entrevistas até o início da tarde. Imprensa do Rio e São Paulo, amigos e árbitros de todo o país ligaram incessantemente.

– Estou mais aliviado, mais resolvido. A solidariedade do país é total, estou mais forte – disse o árbitro.

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Diretores do quadro de árbitros da CBF o encontraram por telefone na hora da perícia na delegacia, e o almoço de sexta se deu pendurado ao celular. Aí chegou o post no Twitter de D?Alessandro, o meia do Inter:

“Tô contigo, Márcio…Não tem cor, religião, nem nada que faça diferentes pessoas, somos iguais”.

No início da tarde, o procurador-geral em exercício do Ministério Público do Estado, Ivory Coelho Neto, o chamou para conversar. Entregou-lhe em mãos um documento que já havia sido debatido e redigido pela casa. Nele, ao final de tantos considerandos, faz recomendações à Federação Gaúcha de Futebol. Márcio ficou sabendo que deve encaminhar ao MP representação que pede esclarecimento dos fatos. Seu caso é típico de injúria racial, de crime contra a honra da pessoa. Assim, a procuradoria pode tomar providência.

– Alguém tem de pagar pelo que está acontecendo nos estádios. Que seja o clube. Porque assim o torcedor vai se intimidar e pensar duas vezes. Se não vai pela educação, que seja pela sanção – disse o procurador Ivory Neto.

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Falou mais:

– Eu sou da Serra (mesma região onde aconteceu o caso de racismo a Márcio Chagas, no Estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves). Não sou italiano, sou pelo-duro, e já sofri intimidações duras. Eu disse: “Sai daqui que vou te dar voz de prisão”.

Márcio Chagas contou uma história que desvela o preconceito. Professor de educação física e de basquete, conhecido no Grêmio Náutico União, Márcio é filho de Celso Chagas, o Buda, ex-diretor de futsal do Grêmio e engenheiro do DAER, já morto. A mulher, Aline, trabalha no Ministério Público.

– E eles dizem nos estádios do Interior: ‘Esse negrão macaco favelado vem aqui roubar da gente’ – lembrou o árbitro.

Sobre o menino Miguel? Passou o dia sob os cuidados da avó.

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