Em 2015 o escritor blumenauense Marcelo Labes apoiou, ao lado de alguns amigos, o projeto de crowdfunding do músico gaúcho Ian Ramil, que pretendia lançar um disco. Uma das recompensas para quem ajudasse com algum valor maior era um pocket show do músico onde você quisesse. Labes e os amigos se reuniram e conseguiram tal recompensa, fazendo Ian Ramil tocar em uma casa em Blumenau. A experiência do escritor ao conversar com o músico e ver como sobrevive o artista que depende do público para criar o inspirou e ele decidiu tentar viabilizar seu próximo livro através da internet.
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– O financiamento pode funcionar como termômetro para o artista. Não adianta, por exemplo, eu ter verba para publicar mil exemplares do meu livro, se não terei mil leitores depois. Nesse ponto, um quarto dos exemplares de Trapaça já estão comprometidos, pois serão enviados às pessoas que apoiaram a publicação do livro – conta Labes sobre seu livro de poemas financiado por 202 pessoas no mês passado.
:: Artistas de Blumenau viabilizam trabalhos através de financiamento coletivo
Com um projeto mais barato que os citados até aqui (a meta era de R$ 7 mil), Labes conta que é preciso de muito planejamento antes de tentar o financiamento coletivo:
– Na internet nada se faz sozinho. Se não houver um trabalho coletivo de muita gente ajudando a divulgar a campanha, incentivando as pessoas a apoiar um projeto, ele não vai pra frente.
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O escritor é um exemplo de quem já esteve em todos os cenários. Publicou seu primeiro livro através do Fundo Municipal de Apoio à Cultura e outros dois em formato de zine (publicação barata em formato de revista) antes de tentar um projeto por conta própria. Da experiência com o crowdfunding, ele vai levar o gosto especial de ver o trabalho apoiado por pessoas além do círculo de amigos e conhecidos, gente de todos os cantos do Brasil.
(Foto: Mareike Valentim, Divulgação)
O “nosso” CD
Se tem alguém em Blumenau que pode falar sobre a sensação de fazer trabalho coletivamente, essa pessoa é a cantora Mareike Valentin. A alemã radicada no Vale do Itajaí fez um dos maiores crowdfundings da cidade em 2016 para tornar real o seu segundo disco de estúdio. Com a meta de R$ 30 mil batida – e até superada – ela está agora terminando de gravar o álbum. Nesse processo, sente a intimidade que o projeto criou com os fãs.
– Fui levar meu filho na pediatra um dia desses e ela falou “e aí, como está o nosso CD?”. É o nosso CD mesmo! (risos) Ele não é só meu, é de todo mundo que apoiou. Esse foi o ponto mais positivo de fazer o financiamento coletivo, foi ver tanta gente abraçar o projeto e acreditar no meu trabalho. Esse CD tem um significado a mais – diz.
Para dar ainda mais a sensação de coletividade ao projeto, a cantora mantém contato frequente com os 213 apoiadores. Ela grava breves vídeos sobre o andamento das gravações e o trabalho nos estúdios e envia por e-mail aos financiadores.
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– O apoio do governo é muito importante, é dever dele apoiar a cultura, mas o financiamento coletivo se torna infinitamente melhor por várias razões. É mais verdadeiro e menos burocrático. Ele estabelece uma relação de confiança, dá certo porque as pessoas acreditam. Vejo como a forma mais honesta e real de realizar um trabalho hoje em dia – completa a cantora.