Durante boa parte da história, a arte precisou de intermediários. Dos mecenas do Renascimento, da gravadora que precisava comprar a loucura do músico, da editora que devia acreditar nos devaneios de algum escritor, do estúdio que precisava comprar a sacada do cineasta que – como Glauber Rocha – tinha apenas uma ideia na cabeça e uma câmera na mão. Intermediários que separavam o criador do público e, neste caminho, com ou sem intenção, filtravam a arte.
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Em tempos de internet, ferramentas derrubam os intermediários e ligam, diretamente, o criador ao consumidor; o artista ao fã. É desta forma mais íntima e pessoal de viabilização cultural que surgiu o financiamento coletivo (ou crowdfunding), nem tão novo assim na internet mas cada vez mais utilizado, inclusive por artistas independentes em Santa Catarina.
A ideia é simples: o artista coloca seu projeto na internet e estabelece uma quantia em dinheiro que precisa para o tornar real. Através de algum site especializado nesta quase-vaquinha, qualquer pessoa pode apoiar o projeto em troca de recompensas de acordo com o valor investido.
Foi assim, por exemplo, que a banda O Teatro Mágico arrecadou R$ 391 mil com a ajuda de 3.596 fãs no começo do ano e tornou real uma nova turnê pelo país. Mas nem todos os projetos são tão ambiciosos assim e, em escalas menores, o financiamento coletivo se tornou uma das principais formas de tirar do papel produtos culturais sem depender do apoio de editais e parcerias com poder público ou privado.
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(Foto: Mariana Florencio, Divulgação)
O músico John Mueller (foto acima) foi um dos primeiros a se aventurar no crowdfunding em Blumenau. Sem querer esperar por fundos de apoio à cultura e com a ideia de fazer um trabalho mais elaborado, ele arriscou a vaquinha pela internet. A meta era de R$ 35 mil para gravar e lançar o CD Por um Fio, e quem doasse R$ 30 já garantia uma cópia do disco quando ele ficasse pronto.
“Uma luta todo dia”
– Na época o financiamento coletivo ainda não era muito conhecido por aqui, então antes de pedir o apoio eu precisava explicar o que era o formato. Não é fácil, é uma luta todo dia, mas é a saída para não depender de patrocínio – lembra.
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A ideia deu tão certo que ele conseguiu até superar a meta e fechar o projeto com R$ 35.440,00 arrecadados. O CD nasceu e hoje ainda rende frutos à John e às 84 pessoas que ajudaram a torná-lo realidade, com direito a indicações para prêmios da indústria da música.
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– Hoje eu faria um crowdfunding diferente, mas se tivesse que escolher entre esse formato e a burocracia dos editais, escolheria a internet.
Malungo busca apoio de fãs para dar um passo maior
Quando se quer dar um passo maior do que está acostumado, é importante ter uma mão para segurar. Vai por aí a lógica da banda blumenauense Malungo, que quer ter várias mãos para ajudá-los neste passo. Há nove anos tocando e premiados por seu último disco, lançado em 2013 através do fundo municipal, os músicos anunciaram recentemente um financiamento de R$ 32 mil para um novo projeto que envolve um CD, um disco de vinil, um videoclipe e uma revista.
– A gente sempre prezou pela qualidade. Temos um cuidado muito grande com o produto final, e nesse novo trabalho queremos ter mais ainda. Agora temos uma ideia de fazer algo maior, um disco masterizado em Miami, produzido por gente conhecida? Algo que está fora do orçamento apertado que normalmente se tem por aqui – explica o baterista Natan Hostins.
Eles até tentaram nos últimos anos fazer o projeto através de editais de apoio à cultura, mas não foram contemplados em nenhum. Veio, então, o crowdfunding como opção. Com a irreverência tradicional da Malungo, eles oferecem recompensas diferentes a quem apoiar. Com R$ 200, por exemplo, o financiador tem direito a uma serenata dos músicos para a pessoa escolhida.
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Com cerca de menos de 20 dias de campanha pela frente, a arrecadação ainda está no começo, com pouco mais de 17% da meta, mas é na reta final que eles esperam um envolvimento maior dos fãs.
– É uma das maneiras mais corretas de trabalhar hoje em dia, porque a pessoa não está doando. Ela compra um pedaço do teu projeto – completa Natan.
Como ajudar o crowdfunding da Malungo?
Onde: através do site www.catarse.me/malungo
Quanto: a partir de R$ 15 você vira um apoiador e garante o CD da banda quando lançado
Como: o Catarse aceita pagamentos por cartão de crédito ou boleto bancário
Quando: a campanha de financiamento vai até o dia 18 de dezembro