Nascido em Lages, Santa Catarina, o escritor Cristóvão Tezza lançou sua principal obra pela Editora Record, em 2007, O Filho Eterno. Vencedor de vários prêmios ao redor do mundo, o romance documentava o desabafo (cruel) do pai de uma criança portadora da síndrome de down. O escritor entrava numa batalha interna entre seu preconceito e a missão de ser um pai correto. O ator chamado para viver Tezza é o comediante Marcos Veras, que precisa expor uma veia dramática que o engole. De qualquer forma, é ele que é o fio condutor da trama. Na primeira vez em que os pais ouvem sobre a condição da criança, o diretor Paulo Machline focaliza Roberto – ele que importa para a narrativa, assim como o seu sofrimento. Enquanto a mãe brinca com o recém-nascido, Roberto caminha sem rumo pelos corredores do hospital.
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Esse é o início de O Filho Eterno, filme que estreou nesta quinta-feira e uma obra que não esconde suas intenções de denunciar a faceta mais repugnante do pai, que renega o filho por sua condição, ao mesmo tempo que encara a mãe como um suspiro de asserção. Não à toa, a cena em que a mãe (Debora Falabella) confessa na varanda para Roberto (o pai) o exato instante que percebeu que amava seu filho é a melhor (e mais linda) cena do longa-metragem. É quando Cláudia percebe na inocência do sorriso de uma criança que todos os outros problemas do mundo não importam. Eles têm um ao outro.
Escrito por Leonardo Levis, o filme tenta responder ao desabafo de pais que têm incertezas e inseguranças sobre o amor que sentem por suas crianças e, principalmente, a sua responsabilidade perante elas. Roberto descobre que tem uma criança portadora de síndrome de down e precisa “lidar” com isso. Marcos Veras, infelizmente, não corresponde no papel, assumindo que apenas aparecer constantemente inclinado sugere algum tipo de angústia e sofrimento, além de representar a tonelada que tem que carregar – todavia, ele transparece mais um adolescente emburrado com uma notícia que o desagradou.
Carregado de uma nostalgia atraente, como o som da máquina de escrever, as imagens de um casamento perfeito e uma vitória da seleção brasileira, Paulo Machline brinca com essa percepção para impactar a vida daquele casal com o nascimento. Da mesma forma, o diretor consegue indicar eficientemente o isolamento de Roberto em seu próprio mundo, como destaca a cena em que ele fica parado no centro de um calçadão, ouvindo os sons dos sinos da catedral.
Curiosamente, Fabrício acaba não mudando apenas seus pais, mas o próprio resultado do filme, quando (o encantador) Pedro Vinícius sempre surge inocente em cena, como se a imaturidade de seu pai fosse uma coisa indiferente e não fizesse parte de seu mundo. Assim, a cena que aproxima os dois se torna marcante por um simples gesto: o consolo de Fabrício para seu pai serve para diagnosticar quem era realmente infantil.
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