Em uma noite de 2012, a carioca Mayara Magri se preparava para deixar o palco após mais um espetáculo quando percebeu uma presença diferente nas coxias do teatro do The Royal Ballet: Elizabeth II, a rainha da Inglaterra, chegava para cumprimentar os bailarinos da companhia estatal da Grã-Betanha. Na trajetória recente de Mayara , estava outro palco: o do Festival de Dança de Joinville. Apenas três anos antes ela havia recebido o prêmio de melhor bailarina na 28ª edição do festival sediado em Joinville, o que dera início ao movimento que levou Mayara a se tornar um dos maiores destaques do balé brasileiro da nova geração.
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— Foi incrível! A companhia da Royal Ballet fez uma noite de gala para celebrar os 90 anos da Rainha Elizabeth. Eu tinha apenas 17 anos, estava na minha primeira temporada na companhia e tive a sorte de estar envolvida num ballet chamado La Valse de Frederick Ashton. Digo sorte porque eu somente aprendia o lugar de uma menina que se machucou dois dias antes da gala — recorda Mayara, explicando que, ao entrar na principal companhia de dança da Inglaterra, o bailarino fica “na reserva” até conquistar um lugar no corpo de baile.
Mayara conquistou seu lugar: aos 22 anos, é solista do The Royal Ballet, companhia que tem 95 bailarinos, uma ascensão impressionante para qualquer profissional da dança. No caso dela — brasileira, moradora de uma comunidade na periferia do Rio de Janeiro, aluna de um projeto social que oferecia aulas de dança gratuitas — a história assemelha-se a de um conto de fadas.
No ponto de virada, estava o Festival de Dança de Joinville: assim como outros estudantes de dança, Mayara viveu a expectativa de gravar vídeos, enviar para a seletiva, aguardar o resultado e participar das competições. O talento estava lá, e a levaria ao auge de qualquer forma, mas a jovem decidiu que o trampolim estava em Joinville.
Depois de receber premiações já na primeira participação na Mostra Competitiva (primeiro lugar no solo de Clássico de Repertório, no solo neoclássico e no conjunto neoclássico, e concorrer ao prêmio de revelação), Mayara voltou ao Festival em 2009, mas, naquele ano, não alcançou nenhuma posição de primeiro lugar, com direito a dançar na Noite dos Campeões. A frustração, no entanto, deu lugar à força para mudar o foco.
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— Me fez muito bem não ter ganhado nada em 2009. Naquela época, eu lembro de ter ficado bem triste, mas só agora que eu entendo que foi uma coisa boa para mim. As críticas dos jurados foram bem construtivas e me fizeram trabalhar mais. A minha ensaiadora e professora de ballet, Patricia Salgado, me preparou fisicamente e mentalmente para os festivais do ano seguinte, mas somente boas colocações nos festivais já não era suficiente. Eu queria uma bolsa de estudos fora do país. A minha meta era chegar até o Prix de Lausanne, para que futuramente eu pudesse entrar em uma companhia de ballet da Europa — conta ela.
Com o anúncio de que, em 2010, o evento premiaria a melhor bailarina com uma vaga para o Grand Prix de Lausanne, na Suíça, a adolescente dedicou-se por meses para chegar à Mostra Competitiva e conquistar o prêmio máximo em Joinville. Sua interpretação de Cisne Negro, em um Pas-de-Deux de tirar o fôlego, a levou à Noite dos Campeões e ao recebimento da medalha de ouro e da passagem para o maior concurso jovem de balé clássico do mundo.
Foi lá, ao ser premiada novamente com o primeiro lugar, que Mayara recebeu a opção de escolher uma bolsa de estudos para algumas das melhores escolas de dança do mundo. Escolheu a Royal Dance Academy e, um ano depois, já era contratada pelo Royal Ballet — e dançava para a rainha da Inglaterra.
Em 2017, voltou ao palco do Centreventos Cau Hansen como uma das estrelas da Noite de Gala, no espetáculo que reuniu bailarinos que, premiados em Joinville, hoje trilham carreiras de sucesso em companhias profissionais.
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— O Festival de Joinville abriu as portas dos palcos do mundo pra mim. Ele é a motivação que as crianças e jovens brasileiros precisam para seguir em frente com uma carreira profissional na dança. O mês de julho foi sempre ansiosamente esperado. Ir para a cidade de Joinville, dançar em um dos maiores palcos do Brasil, confraternizar com outras escolas de dança e bailarinos, e acima de tudo receber a energia positiva de um público que é apaixonado pela dança, com certeza faz com que você cresça artisticamente — avalia a jovem.