As histórias de Félix Alexandre Groebl, Rubens Facchini e Anselmo Xavier Reinert terminaram sobre o asfalto da BR-470 nesta sexta-feira. Com estas, desde o ano 2000, pelo menos 1.503 pessoas já tiveram suas vidas interrompidas por graves acidentes na rodovia nos 200 quilômetros em que se estende pelo Vale do Itajaí.

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A manhã desta sexta-feira, tradicionalmente um prenúncio do fim de semana, se tornou triste e cinza no km 40, em Gaspar, com a fumaça do incêndio depois da colisão frontal dos caminhões dirigidos por Félix Alexandre Goebl, de 40 anos, e Gilmar Antônio da Rocha, de 46 anos. Félix morreu preso às ferragens, com o corpo carbonizado pelo fogo na cabine. O sobrinho, afilhado e compadre Thiago Wilberte conta que a vítima era experiente em levar cargas pesadas como o lote de areia que carregava na manhã de sexta, mas sabia bem dos riscos nas curvas e retas da 470:

_ Ele estava acostumado com a estrada, e mesmo assim achava perigoso. O problema dessa BR é a duplicação, não dá mais pra continuar do jeito que está.

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Félix era casado e deixou dois filhos, de 13 e 8 anos, e uma família inteira desolada com a morte repentina. O outro caminhoneiro, Gilmar, guiava um caminhão de leite que vinha de Joaçaba. Apesar da força da batida, ele teve poucos ferimentos, conseguiu sair da cabine onde estava e tentou ajudar a socorrer Félix, em vão. Na tarde de sexta-feira ele já havia sido liberado do hospital para voltar para casa.

Outros dois veículos também se juntaram à triste cena. Uma pequena van era guiada por Anselmo Xavier Reinert, de 60 anos, ficou completamente destruída. Ele morreu na hora. No outro veículo, um Vectra com placas de Brusque, estava Rubens José Fachini, de 76 anos, empresário do esporte e um dos criadores dos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc).

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Anselmo já era aposentado, trabalhava para manter a cabeça ocupada e o bolso com mais alguma renda. Fazia um pouco de tudo na empresa de divisórias, mas principalmente dirigia, levando e trazendo produtos e encomendas. Ivan Luiz Reinert, filho único, fala do pai como um homem trabalhador e alegre, morador do bairro Valparaíso, e motorista experiente, que já tinha pensado em parar de dirigir pelo perigo das estradas.

O esporte era a vida de Rubens Facchini, ou do Seu Rubens, como era chamado por todos que o conheciam. Ao lado de Arthur Schlösser, criou os Jasc, há 54 anos. O carro que ele dirigia teve a parte dianteira completamente destruída e o comendador do esporte se tornou mais uma vítima da 470. Diante do fato, a sexta-feira foi dia de luto para o esporte catarinense.

Somando as três vítimas desta sexta-feira ao levantamento que o Santa faz há 14 anos, três meses e 11 dias, já são 1,5 mil pessoas mortas em acidentes na rodovia. Os dados utilizados na soma de 2000 a 2004 foram fornecidos pela Polícia Rodoviária (PRF) e em 2005 a reportagem passou a contabilizar os nomes de cada envolvido em acidentes na BR-470. Além das vítimas no local dos acidentes, são acompanhadas vítimas que chegaram a ser socorridas, mas não resistiram e morreram nos hospitais da região.

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