Há um ano, foi instituído o Plano Diretor de Transportes Ativos (PDTA) de Joinville, estabelecendo as diretrizes de infraestrutura urbana e segurança viária para, ao qualificar as ruas da cidade, aumentar o índice de deslocamentos a pé e por bicicleta. A data foi escolhida para celebrar o momento junto com o aniversário de Joinville, em 9 de março.
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O documento, que tem força de lei municipal, prevê que a cidade alcance, até 2025, 730 quilômetros de malha cicloviária. No entanto, o terceiro mês de 2018 começa sem que nenhuma nova faixa tenha sido pintada até agora e a instituição responsável pela definição destes trajetos, a Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável (Sepud), não tenha um cronograma pré-definido para os próximos meses.
– Não há orçamento definido para as ciclofaixas, elas entram no escopo de outro projeto maior. É uma questão de oportunidade: às vezes, a obra é de recapeamento ou de implantação de asfalto, e a ciclofaixa acaba entrando nestes obras, desde que [a rua] esteja prevista pelo PlanMob – explica o diretor executivo da Sepud, Rafael Bento Paulino.
Criação de ciclofaixa em rua central divide opiniões em Joinville
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Recursos de multa para ajudar no cronograma
O registro atual que a prefeitura de Joinville possui da malha cicloviária é de 153 quilômetros, entre ciclovias, ciclofaixas e calçadas compartilhadas. Para alcançar os 730 quilômetros da meta prevista nos planos de mobilidade de Joinville nos próximos oito anos, seriam necessários fazer 72,125 quilômetros por ano.
Em 2017, a informação da Sepud é de que foram implantados cerca de 20 quilômetros (entre ciclofaixas e calçadas compartilhadas), mas não foi divulgado quais ruas foram contempladas. Em consulta ao sistema, a pedido do jornal ?A Notícia?, a secretaria constatou que parte destes 20 quilômetros pode ter sido de renovação de pintura asfáltica, e não de implantação de novos trajetos cicloviários. O Plano Diretor de Transportes Ativos destaca que a malha viária da cidade era de 145,5 quilômetros na data de sua publicação, ou seja, apenas 7,5 quilômetros menos do que o registrado um ano depois.
– A meta era fazer pelo menos 60 quilômetros por ano, mas, como tivemos um número negativo em 2017, terá que ser aumentada nos próximos anos – avalia Bento Paulino.
O planejamento para 2018, ainda que não esteja bem definido, é de implantar novas ciclofaixas e revitalizar as antigas a partir do cronograma de sinalização horizontal realizado pelo Departamento de Trânsito (Detrans) da Prefeitura de Joinville, via recursos de multas. Neste mês, as melhorias na sinalização asfáltica ocorrem no Centro.
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Depois, o objetivo é que ocorra simultaneamente em dois bairros, um na zona Sul e outro na zona Norte: Atiradores e América são os próximos contemplados. Como o PlanMob prevê um planejamento para implantação da malha cicloviária, as ruas destes bairros que constarem no documento deverão receber ciclofaixas.
Estava pronta, mas virou estacionamento
A vigilante Miraci de Castro, 50 anos, optou por usar a bicicleta para todas as atividades, diariamente, já que divide o carro com o marido e não gosta de utilizar o transporte público da cidade. Moradora da zona Sul, ela passa com frequência pelo bairro Anita Garibaldi e, por isso, achou difícil de compreender o que ocorreu com um trecho da ciclofaixa da Rua Plácido Olímpio de Oliveira. Ela foi implantada em dezembro, quando a via ganhou ciclofaixa em toda a sua extensão, ao mesmo tempo em que outras vias do bairro e do Bucarein, ampliando a malha cicloviária de Joinville em 1,7 quilômetro de faixas ininterruptas.
No entanto, em janeiro, a ciclofaixa localizada entre a Avenida Getúlio Vargas e a Rua São Paulo foi apagada, e o local voltou a servir para estacionamento de veículos. O desaparecimento do traçado em apenas uma quadra foi motivo de manifestações pelas entidades que defendem os direitos dos ciclistas na cidade. E, agora, faz com que Miraci e os outros ciclistas que chegam à via por uma ciclofaixa encontrem carros parados na continuação do trajeto, e precisem circular na pista ou na calçada.
– Acabo andando entre os carros, e é muito ruim. A ciclovia deixa a gente mais segura – lamenta ela Miraci.
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Segundo a Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável (Sepud), a ciclofaixa foi suprimida depois de pedidos de lojistas, moradores e da igreja localizada na esquina da Rua Plácido Olímpio de Oliveira.
Como foi constatado que o trecho demandava muito estacionamento, houve a opção de apagar a faixa e, possivelmente, transformar aquele trecho em calçada compartilhada entre ciclista e pedestre. Uma situação semelhante havia ocorrido após a implantação de ciclofaixas na Rua Lages, no bairro América, no ano passado, mas os estacionamentos naquela via não foram retomados.
– Há um grupo interdisciplinar, formado pelo setor de mobilidade da secretaria, pelo Detrans e pelo Seinfra, para encontrar uma solução para este caso.
Ciclistas protestam contra remoção de parte de ciclofaixa em Joinville
Ciclofaixa da Rua Orestes Guimarães, em Joinville, começa a ser implantada
Planejamento da Prefeitura é colocado em discussão
Situações como a da Rua Plácido Olímpio de Oliveira são apontadas como exemplo por entidades que representam os ciclistas em Joinville para reclamar da falta de planejamento, de divulgação de cronograma e nas falhas observadas na instalação de ciclovias, ciclofaixas e calçadas compartilhadas em Joinville. Para Felipe Giesel, representante do grupo Bicicletada Joinville, a resposta da prefeitura à exclusão da ciclofaixa em apenas uma quadra não é justificativa técnica e demonstra a falta de transparência na execução destas obras.
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– Ela contraria o Estatuto Nacional de Mobilidade, o Plano de Transportes Ativos do município e o próprio Código de Trânsito Brasileiro. Mas a prefeitura insiste em fazer calçadas compartilhadas, mesmo quando nem calçada há – informa ele.
Segundo as diretrizes para as vias cicláveis do Plano de Transportes Ativos, deve haver coerência na implantação da malha cicloviária, com continuidade da rota. O presidente do Movimento Pedala Joinville, Roberto Andrich, lembra de outros exemplos, como a implantação da ciclofaixa na Rua Orestes Guimarães, no ano passado. O primeiro projeto apresentado era para transformar a rua em mão única, com ciclofaixa contínua. No entanto, a ciclofaixa é interrompida no meio do trajeto e ‘joga’ o ciclista para cima da calçada.
– Deveria haver um cronograma estabelecido até para a gente acreditar que vai chegar nos 730 quilômetros. Ele tem que existir e ser executado conforme o plano – afirma Roberto.
Confira o cronograma dos locais que receberão sinalização horizontal em 2018
Atiradores, América, Anita Garibaldi, Glória, Floresta, Bom Retiro, Itaum, Santo Antônio, Fátima, Adhemar, Garcia, Jardim Iririú, Jarivatuba, Costa e Silva, João Costa, Vila Nova, São Marcos, ZI Tupy, Nova Brasília, Comasa, Morro do Meio, Aventureiro, Petrópolis, Vila Cubatão, Boehmerwald, Jardim Sofia, Rio Velho, Jardim Paraíso, Paranaguamirim, ZI Norte, Santa Catarina, Pirabeiraba, Profipo, Dona Francisca, Parque Guarani, Rio Bonito e Itinga.
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ENTENDA
Ciclovias: pista própria destinada à circulação de bicicletas e demais modos permitidos, separada fisicamente do tráfego comum por desnível ou elementos delimitadores.
Ciclofaixas: parte contígua a pista de rolamento destinada à circulação exclusiva de bicicletas, sendo dela separada por pintura e/ou elementos delimitadores.
Calçadas compartilhadas: são aquelas sem separação física ou visual implantadas de forma a garantir rota ao ciclista, configurando uma ciclorrota. Porém, nesse caso, o trajeto é compartilhado entre ciclistas e pedestres e não com o veículo motorizado.
Fonte: Plano Diretor de Transportes Ativos de Joinville