Na manhã da última sexta-feira, 30 de junho, os moradores e comerciantes da rua Lages, no Centro de Joinville, perceberam com espanto que uma mudança começava a ser feita em toda a extensão da via: a implantação da sinalização horizontal que delimita o espaço para a ciclofaixa, feita no lado esquerdo da pista. A faixa vermelha pintada ao lado da branca e os tachões amarelos começaram a ser instalados e, segundo os comerciantes, não houve nenhum tipo de notificação aos proprietários e locatários dos imóveis da rua. Com a ciclofaixa, toda a fila de vagas de estacionamento no lado esquerdo da rua Lages, entre a rua Dona Francisca e a rua Jaraguá, no América, foi eliminada.
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Segundo alguns comerciantes, a mudança já causa transtornos e a prejudica o comércio naquela via. O empresário Gustavo Vierkoern, que tem uma loja na quadra entre as ruas João Colin e Blumenau, afirma que o número de clientes já começou a diminuir nos primeiros dias desta semana.
— Eles chegam para estacionar e, ao perceber que não há mais vagas, desistem de parar o carro e vão embora — lamenta.
Um abaixo-assinado já começou a ser preenchido por comerciantes, moradores e clientes que não concordaram com a implantação da ciclofaixa. O empresário conta que os moradores da rua, formada principalmente por prédios residenciais, ainda utilizam o espaço destinado aos ciclistas para embarque e desembarque, principalmente no caso dos transportes escolares.
Na terça-feira à tarde, quando a equipe de reportagem do jornal A Notícia esteve no local, foi possível perceber que muitos motoristas não estão respeitando a sinalização e pararam seus veículos sobre a ciclofaixa — infração considerada grave pelo Código Brasileiro de Trânsito, que resulta em remoção do veículo, perda de cinco pontos na carteira de habilitação e multa de R$ 127,69.
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Por isso, quando Zaquel Cardoso, 48 anos, passou pela rua Lages na tarde de terça, vindo da rua João Colin em direção à Dona Francisca, ele precisou transitar com a bicicleta pela calçada, já que a ciclofaixa estava quase inteiramente ocupada pelos carros.
— Não está certo, porque a calçada é para os pedestres, mas eu precisei passar por ela. Mas o desrespeito começa com os motoristas que pararam ali. Quando eu estou de carro, tento pensar sempre no pedestre e no ciclista primeiro — analisa ele.
Recapeamento dependia das ciclofaixa
Segundo Gustavo, a crítica não é em relação à criação de ciclofaixas, mas os comerciantes questionam a posição dela na rua Lages, colocada no lado da pista em que havia maior número de vagas para carros; e a falta de aviso sobre a implantação.
O gerente de mobilidade da Secretaria de Planejamento Urbano e Desenvolvimento Sustentável (Sepud), Marcus Faust, explica que a ciclofaixa já estava prevista no Mapa do Sistema Integrado do Plano de Mobilidade de Joinville (PlanMob), apresentado à comunidade em 2015 e aprovado em audiência pública.
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— Ela fazia parte do projeto de reforma da rua Lages, mas não foi relembrada neste momento, o que gerou este desgaste — comenta Marcus — Como é um momento de crise econômica, os comerciantes observam todas as situações que podem impactar em seu negócio.
O recapeamento da rua Lages faz parte de uma ação que inclui 51 ruas de 24 bairros de Joinville, a partir de um contrato com o programa Badesc Cidades II da Agência de Fomento de Santa Catarina, em um investimento de R$ 13,9 milhões na recuperação do asfalto. De acordo com Marcus, a implantação de ciclovias fazia parte do contrato, já que Joinville conseguiu ser contemplada pelo financiamento por possuir um plano de mobilidade democrático.
— O estudo do PlanMob já previa que a ciclofaixa fosse daquele lado. Depois, até pensamos em mudar ao aprovar o bicicletário do Instituto Juarez Machado, mas seria necessário fazer uma readequação no projeto, o que atrasaria o prazo previsto no contrato com o Badesc — afirma, citando o suporte para bicicletas instalado em frente ao espaço cultural, localizado quase no ponto final da ciclofaixa da rua Lages.
Metas para 2025
O objetivo do Plano de Mobilidade de Joinville é que, nos próximos anos, boa parte das ruas centrais de Joinville tornem-se vias cicláveis (ou seja, ganhem ciclovias, ciclofaixas e ciclorotas), atingindo assim 730 quilômetros de malha cicloviária até 2025 — eram 140 km em 2015.
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No segundo semestre de 2017, a Prefeitura de Joinville ainda planeja implantar ciclofaixa na rua Orestes Guimarães, posicionada à direita no sentido Centro-zona Norte; e fazer melhorias em ciclofaixas de ruas periféricas. O presidente do Pedala Joinville, Roberto Andrich, afirma que o movimento aprova a implantação da ciclofaixa, mas ainda não conseguiu analisar a situação dela em toda a extensão.
— Sabemos que há alguns rebaixos de calçada a serem feitos, mas, no geral, acreditamos que a mudança seja positiva — diz Roberto.
Ele, assim como o gerente de mobilidade da Sepud, Marcus Faust, acredita que os comerciantes ainda enxergarão os benefícios da ciclofaixa. Roberto aponta exemplos de grandes cidades do mundo, como Nova York, que há dez anos viu o lucro do comércio crescer 49% após implantar ciclovias em um grande trecho da Nona Avenida, região movimentada perto da Times Square.
— As pessoas questionam o uso da bicicleta em Joinville mas sempre fazemos o mesmo questionamento: não há ciclovias porque as pessoas não usam ou as pessoas não andam de bicicleta porque não há ciclovias seguras? — avalia Marcus.
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