Em pouco mais de um mês, dois ataques associados ao terrorismo global puseram em evidência um tipo insólito de agressor.
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Nem os dois jovens negros detidos após o assassinato de um soldado na região sudeste de Londres, na quinta-feira, nem os irmãos Tamerlan e Dzhokhar Tsarnaev, suspeitos do atentado durante a Maratona de Boston, em abril, lembram o terrorista típico da era pós-11 de Setembro.
Para definir a nova ameaça, analistas de segurança cunharam uma expressão: “lobos solitários”. Na ausência de dados oficiais sobre seu perfil ou de resultados das investigações em andamento, especialistas sugerem que os responsáveis pelos crimes sejam indivíduos isolados, sem vínculos formais com redes terroristas como a Al-Qaeda, mas fanatizados pela propaganda jihadista abundante na internet, ansiosos por publicidade e dispostos ao martírio.
– São esses lobos solitários que não vão deixar as forças de segurança dormir – previu no ano passado Margaret Gilmore, especialista em questões de segurança do Royal United Services Institute (Rusi).
O chefe do MI5 (serviço secreto interno), sir Jonathan Evans, também fez uma advertência sobre o risco representado por esses “atores isolados”, particularmente difíceis de detectar quando usam armas rudimentares. Como em Londres, não pertencem necessariamente a uma rede terrorista e não participaram de treinamentos no Exterior.
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– Acredito que se trate de uma ação que se difere do formato comum de plano terrorista que visa a provocar o maior número de vítimas – disse à BBC John O’Connor, ex-comandante da unidade de combate ao crime Flying Squad, da Scotland Yard, sobre o ataque de quarta-feira.
Analistas associam ataques a necessidade de atenção
Os especialistas traçaram um paralelo entre o comportamento dos dois assassinos de Londres, que agrediram a vítima com facas e um cutelo, na tentativa de decapitá-la, segundo testemunhas, e os atos de fanáticos islâmicos em vídeos que circulam na internet. Matthew Henman, analista do grupo de defesa Jane’s, destaca a escolha de um soldado como alvo, “sem que tenham tentado atacar mais ninguém nas proximidades”.
– Devo dizer que a forma como eles agiram lembra Merah (Mohamed Merah, que cometeu assassinatos no ano passado na França). O comportamento parece guiado pelo acaso, mas obedece a um objetivo político. Atacar um soldado é extremamente significativo – considerou por sua vez John Gearson, diretor do centro de pesquisa do King’s College London, citando também como importante o fato de não terem fugido do local e seus esforços “para dar o máximo de publicidade para o ataque”.
Lee Rigby, o soldado morto no ataque, serviu durante seis meses no Afeganistão em 2009. No momento do crime, ele não vestia farda. Rigby deixa a esposa e o filho de dois anos, Jack.
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Os autores do assassinato pediram a várias testemunhas que filmassem e fotografassem a cena.
– Fizemos isso pela simples razão de que muçulmanos são mortos diariamente por soldados britânicos – disse um deles, adotando a retórica habitual da Al-Qaeda contra a intervenção das forças ocidentais nos países muçulmanos.
Os dois aguardaram a chegada da polícia “talvez com a esperança de serem mortos para passarem a ser considerados mártires”, ressaltou Henman. Em todo caso, o discurso e as imagens dos assassinos armados invadiram a internet. A prioridade das autoridades é determinar se há riscos de ataques similares.
É o primeiro atentado com mortos atribuído a islâmicos desde os ataques contra o metrô e um ônibus em Londres, que deixaram 52 mortos em 7 de julho de 2005. Desde então, serviços de segurança aumentaram a vigilância eletrônica e o controle nas fronteiras.
Dezenas de planos de atentados foram descobertos, principalmente contra soldados e instalações militares.
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