Na última sexta-feira, o Governo do Estado se reuniu com a Prefeitura de Joinville para apresentar um novo projeto para a duplicação da avenida Santos Dumont, na zona Norte da cidade.

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Mais do que reduzir os custos com desapropriaçõesgrande fantasma da administração municipal desde que a duplicação entrou no plano diretor municipal, em 1973 – o novo projeto é uma forma de retomar as obras, paradas desde novembro de 2014, e solucionar o já conhecido gargalo de mobilidade urbana no bairro Bom Retiro.

A arquiteta e urbanista Vanessa Yuassa, mestra em engenharia de transportes, acompanha as discussões em torno da duplicação da Santos Dumont há pelo menos dois anos, e analisou a nova configuração do projeto, apresentado na última sexta-feira.

– Quando a administração municipal faz uma obra desse porte é preciso estudar e analisar todos os detalhes, principalmente a análise do diagnóstico dos dados e os impactos nas proposições de soluções para a cidade de Joinville. Pois quando ocorre equívoco na análise do diagnóstico, a chance de se obter uma boa proposta é reduzida – explica a especialista.

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Discutido com as comunidades da região desde a fase de planejamento, em 2008, o tema começou a preocupar moradores e comerciantes do Bom Retiro quando o possível binário, envolvendo a Santos Dumont e a Tenente Antônio João, entrou em pauta como uma solução temporária para o fluxo de veículos enquanto as desapropriações não fossem realizadas.

Na reunião da última semana, contudo, a ideia do binário saiu da pasta de soluções temporárias para se tornar parte oficial do projeto e, com isso, dividir opiniões sobre sua real eficácia.

– Primeiramente temos de entender que o conceito de binário só funciona de verdade quando existe uma distância de no máximo 500 metros entre as duas vias. Quando se pensa no binário entre a Santos Dumont e a Tenente Antônio João, existem trechos em que elas se afastam em até um quilômetro. Se a ideia é realmente otimizar a mobilidade, essa é uma solução equivocada – analisou Yuassa.

Alternância entre pistas pede atenção

Outro ponto que merece atenção, de acordo com a urbanista, é a mudança que afeta a continuidade do número de pistas em cada trecho. Isso porque a nova proposta, apesar de reduzir o gasto com desapropriações, faz com que a via de oito quilômetros, entre o aeroporto e o final da rua João Colin, tenha trechos ora com duas pistas, ora com três.

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– Nós já conhecemos exemplos parecidos, e funcionais, onde essa variação existe e de fato ajuda a desafogar o trânsito. Curitiba é um exemplo. Mas quando se pega um fluxo de três pistas e se reduz para duas, isso precisa ser compensado de alguma forma, com vias paralelas, alternativas.

Binário divide a comunidade

Com 59 anos, a joinvilense Elcea Breneisenn viu a cidade crescer. Se esticando daqui, ampliando dali. Comprou sua casa às margens da rua Tenente Antônio João quando a primeira pavimentação, de paralelepípedos, havia recém sido feita, e viu o movimento de uma das principais vias do bairro Bom Retiro crescer gradativamente ao longo dos últimos 20 anos.

– Desde que os congestionamentos começaram na Santos Dumont e os motoristas encontraram na Tenente uma rota alternativa, a situação começou a ficar caótica – lembra Breneisenn.

Com a intensificação no fluxo de veículos, os buracos e vazamentos de água se tornaram cada vez mais frequentes, assim como as dores de cabeça de quem vive na região. Com a iminência do novo binário, Elcea dá voz à grande parte dos moradores e comerciantes da Tenente Antonio João quando fala da preocupação latente com a infraestrutura da via.

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– A gente que vive aqui conhece o fluxo da Santos Dumont, e assusta um pouco pensar que boa parte dele passará por aqui nos próximos meses – diz a aposentada.

A preocupação é dividida também pelo comerciante Charles Duque. Morador novo na região, Duque se diz dividido entre a expectativa de uma potencialização nos negócios com o projeto do binário e as desvantagens de se ter uma via que funciona em sentido único.

– Pra nós que somos leigos nessa questão da mobilidade urbana, é difícil prever os impactos de um projeto assim até a coisa realmente entrar nos eixos. O que dá pra sentir é que o pessoal aqui não anda muito satisfeito principalmente com as incertezas do projeto. A gente sabe que qualquer obra gera transtornos, o pessoal precisa ter bom senso e paciência também, mas também precisa ter um esforço da prefeitura para estimular um bom diálogo com a gente daqui.

Estado e prefeitura seguem dialogando

De acordo com a Secretaria Estadual de Infraestrutura, a primeira etapa do novo projeto era a validação do mesmo pelo Ippuj. A etapa foi vencida nesta semana, e agora cabe ao Estado enviar a proposta ao BNDES para conseguir o financiamento.

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– Atualmente é este o trâmite em andamento. A reunião do Estado com o BNDES deve ser marcada logo, e provavelmente um representante da governo municipal também acompanhará o debate – explicou o departamento de infraestrutura.

O projeto original será mantido no trajeto da transversal da rua Nova Trento até a rua Dom Bosco. Da rua Dom Bosco até a rua Tenente Antônio João será feita apenas a revitalização da pista existente. Isso para que o trecho entre a Dom Bosco e a Tenente Antônio João funcionem como binário.

Toda a execução completa do binário e como ele vai funcionar é de responsabilidade municipal. No trecho entre a Tenente Antônio João e a entrada do Jardim Sofia está mantido o gabarito do projeto original que corresponde a duas pistas com canteiro central.

Do trecho compreendido entre a entrada do bairro Jardim Sofia até o cruzamento da rua Tuiuti o projeto sofreu supressão do canteiro central, sendo agora duas pistas para ambos os sentidos, separadas pela famosa barreira New Jersey – uma mureta parecida com da BR 101.

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Do cruzamento da rua Tuiuti até o Aeroporto está mantida a solução do projeto original. Independente disso vai precisar ser feito desapropriações no trecho entre a Tenente Antônio João e a Tuiuti.

A nova proposta prevê uma redução de 2,6 km no traçado original do projeto, que é de onde deve surgir a economia com desapropriações. De acordo com o Secretário de Desenvolvimento Econômico de Joinville, Jalmei Duarte, a prefeitura recebeu a nova proposta e já colocou equipes para fazer o balanço oficial para as desocupações.

– Sempre estivemos em contato com todos os 103 proprietários dos terrenos à serem desapropriados. O problema não é a falta de diálogo. Agora, com esse novo projeto, nossa expectativa é de que as coisas voltem a andar. Estamos fazendo a nossa parte.

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