Além do Hospital Celso Ramos, a Operação Ressonância, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) em 24 de outubro, também investiga a ocorrência de fraudes na marcação e realização de exames de tomografia e ressonância magnética na Clínica Imagem, no centro de Florianópolis. Ela mantém contrato com a Secretaria de Estado da Saúde e é responsável por exames de ressonância em alguns dos principais hospitais públicos da Região Metropolitana.

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Irineu Brodbeck, diretor da Clínica Imagem, nega envolvimento da empresa nos supostos crimes investigados. Ele diz que os pedidos de exames sempre são encaminhados pela direção dos hospitais com quem a empresa mantém contratos e expõe que no mês de setembro, véspera das Eleições 2016, os responsáveis pela clínica perceberam que a cota de exames do Celso Ramos quase dobrou, saltando de cerca de 170 exames previstos para aproximadamente 300.

Todos os procedimentos de ressonância do Celso Ramos são feitos na Clínica Imagem, informa Irineu. O trâmite normal, explica, é o Celso Ramos autorizar os exames, encaminhar pacientes e respeitar a respectiva cota de procedimentos. A Imagem, por sua vez, apenas executa.

— O exame é autorizado pelos hospitais e a gente o executa. Depois, devolve para a Secretaria de Estado da Saúde a nota para cobrança. Em setembro, notamos que o número de exames no Celso Ramos estourou, estava muito alto — revela Irineu.

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Após a constatação, a direção da Clínica Imagem, ciente de que era um período pré-eleitoral, ficou de analisar os números do mês de outubro para verificar se o elevado número se mantinha. Mas, quando a Operação Ressonância foi deflagrada pelo Gaeco, os investigadores cumpriram mandados de busca e apreensão na clínica. Irineu destaca que todos os documentos solicitados foram entregues aos agentes.

— Só pudemos fornecer aos investigadores a cópia de exames feitos e a nota fiscal da cobrança. Mas quem autorizou o exame, quem carimbou a autorização, isso tudo está nas mãos da Secretaria de Estado da Saúde — observa Irineu.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde para comentar este ponto, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

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Investigação aponta ligações políticas

Nos áudios interceptados pelo Gaeco na operação Ressonância, que trata sobre um esquema de corrupção na realização de exames no Hospital Governador Celso Ramos (HGCR), suspeitos mencionam a fidelização de eleitores além do pagamento de propina para furar as filas de espera.

Além disso, a participação de vereadores, candidatos nas últimas eleições e de assessores de deputado e prefeito expostas na investigação do Gaeco revelam uma ligação direta entre os investigados e a política.

Segundo a investigação, o vereador Manoel Airton Pereira (Bilico), de Biguaçu, atuava como intermediário na investigação. Os vereadores de São João Batista Sebastião Formento Filho (Bastião), Carlos Francisco da Silva (Carlinho), Mario José Soares e o candidato eleito este ano Alécio Boratti eram captadores de pacientes para o esquema, assim como o candidato não eleito à Câmara de Palhoça, Wander Luiz da Silva. Em comum, todos são filiados ao PP. Das 11 pessoas citadas pela promotoria como participantes do esquema, seis são políticos ou ex-candidatos do partido.

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Presidente do PP em Santa Catarina, o deputado federal Esperidião Amin afirmou que o partido possui uma Comissão de Ética, mas que só deve fazer algo sobre o envolvimento de filiados na operação Ressonância após a decisão da Justiça.

— Não sou juiz e não pretendo ser agora. O Ministério Público e a Polícia têm todo o direito de investigar e apresentar denúncia, mas é o judiciário que vai julgar, após apresentação de defesa das partes. Vamos aguardar que todas as partes se pronunciem — afirmou.

Contrapontos dos vereadores

O advogado Nelson Zunino Neto, que defende Alécio Boratti, Carlos Francisco da Silva, Mário José Soares e Sebastião Formento Filho, afirma que classificar seus clientes como captadores de pacientes não é correto, pois eles “não iam atrás de ninguém, mas eram procurados”. O advogado garante que seus clientes eram procurados para resolver problemas e encaminhar pessoas para o hospital, mas “nunca cobrando dinheiro” para isso.

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— Meus clientes não têm nada com a fraude, que funcionava internamente no hospital Celso Ramos — afirma Zunino Neto.

O advogado Anderson Nazário, que faz a defesa do vereador Bilico (PP), afirma que aguardará a conclusão do inquérito por parte do Gaeco, para avaliar se Bilico será ou não denunciado. A defesa acredita que o parlamentar não será denunciado, pois, segundo Nazário, não há comprovação de que ele recebeu dinheiro para encaminhar pacientes para a realização de exames.

— Ele sendo denunciado, nós vamos formular a defesa dele dentro do processo – afirma Nazário.

O investigado Wander Luiz da Silva, assim como seu advogado, não foram localizados pela reportagem para comentar a investigação da operação Ressonância.

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Wagner Garcia Stevanelli, advogado de Banha, disse que seu cliente não participou de “esquema nenhum”. Sustenta que é “uma tremenda injustiça” a acusação contra seu cliente. E afirma que o exposto pelo Gaeco é um problema que deve ser tratado como “política pública de saúde”, não uma “questão de atribuição de responsabilidade a uma pessoa”.

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