Rui Fernando, um dos líderes da invasão no terreno da SC-401, denominada Ocupação Amarildo, que já participou de movimentos semelhantes no passado diz que proposta do grupo é de melhoria social.

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Diário Catarinense – Por que vocês escolheram justamente este terreno às margens da SC-401?

Rui Fernando – A escolha deste terreno se deu principalmente pela irregularidade de posse e propriedade da área, que é justamente o que estamos levando para o âmbito jurídico. Trata-se de uma terra grilada.

DC – O terreno fica de frente para uma das rodovias mais movimentadas da cidade. Vocês levaram isso em consideração também?

Fernando – É óbvio que numa luta temos que ver todas as questões geográficas. Não vou negar que o fato de estarmos justamente nesse terreno, de frente para SC-401, favorece a nossa luta por conta da visibilidade, por ser um ponto estratégico da cidade com muita circulação.

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DC – Então o local foi pensado estrategicamente?

Fernando – Entendo que neste tipo de situação temos que considerar todas as ferramentas que temos para cumprir nossos objetivos, que são propostas de melhoria social. Neste caso a questão geográfica, o posicionamento da área, influencia positivamente na luta.

DC – A data escolhida também foi pensada, já que é uma época com muita circulação de turistas…

Fernando – Quando optamos por essa área, sabíamos também com quem estaríamos lidando. Aqui é um ponto representativo da nata da oligarquia da cidade, pessoas poderosas economicamente falando. Sabemos que estas pessoas tentarão de diversas formas acabar com o movimento. Então é lógico que tudo isso pesou nas nossas escolhas.

DC – O senhor já participou de outras ocupações semelhantes. Inclusive em 2010 foi detido pela polícia em uma ocupação do MST. O senhor é um profissional neste tipo de trabalho?

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Fernando – Olha, nossa luta é política e ideológica. A questão do profissional não cabe como definição nas mesmas regras do mercado. Na prática, dentro deste tipo de luta, os coordenadores têm sim uma bagagem em movimentos sociais. Não vemos a coisa de um ângulo profissional. O que pesa é convicção política. Ajudamos o povo a se organizar e lutar pelos seus direitos. As diferenças sociais neste país são muito grandes.

DC – Em 2010, quando o senhor foi detido, era ano eleitoral. Agora estamos novamente neste período. Esta é uma época propícia para ocupação?

Fernando – Eu não tinha feito essa relação entre 2010 e 2014. O fato de ter sido num ano eleitoral, foi coincidência. Mas, durante a luta, temos que ver todos os elementos. Não temos objetivos eleitorais com isso. Mas, de fato, esta é uma época de vulnerabilidade do governo.

DC – Como os manifestantes pretendem usar a terra caso vençam na Justiça?

Fernando – O principal objetivo é a construção de um assentamento autossustentável de produção agroecológica, compatível com nossa luta que é terra, trabalho e teto. A terra para produzir alimento para o povo, trabalho para gerar renda ao povo e teto representa um espaço digno para as pessoas poderem morar.

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DC – Mas o que especificamente se planeja fazer com essa terra?

Fernando – Na audiência de conciliação iremos apresentar nossos projetos. Olha, sabemos que 60% a 80% deste terreno é de área agricultável. As culturas que iremos desenvolver serão variadas. Já começamos com cultivo de hortaliças. Iremos também desenvolver a criação de alguns animais, como um galinheiro, que nós já começamos a introduzir.

DC – Essa produção será apenas para consumo próprio ou se pretende comercializá-la?

Fernando – As duas coisas. Num primeiro lugar é para soberania alimentar da família. Mas também trabalhamos com a perspectiva de comercialização dos produtos. A região também favorece a logística, pois fica próxima do Norte da Ilha, que em alta temporada demanda estes tipos de produtos. A localização aqui representa um bom ponto.

DC – Nessa audiência do dia 7 de fevereiro é possível encontrar um acordo?

Fernando – É possível sim. Já acatamos a decisão judicial de entregar o cadastro das famílias e fechar as porteiras em respeito ao trâmite judicial.

DC – E se a Justiça determinar a imediata reintegração de posse. O que vocês pretendem fazer? Já têm outro lugar em vista?

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Fernando – Primeiro que não acreditamos nessa possibilidade. Estamos acompanhando a Justiça agrária em SC há alguns anos e até agora, em nenhum momento, não houve nenhum tipo de desocupação forçada. Resumidamente, confiamos no bom senso da Justiça.