Condenado a 12 anos e sete meses em regime fechado no processo do Mensalão, Henrique Pizzolato teve um início de carreira promissor e, supostamente, livre de corrupção. Ainda muito jovem, com 17 anos, já demonstrava talento para administração e ganhava facilmente a confiança de seus superiores ao apresentar eficiência e rapidez nas funções que exercia.
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Na primeira empresa em que trabalhou com carteira assinada, a extinta Transfrios Concórdia, tornou-se responsável por gerenciar os pagamentos a funcionários e chegou a possuir as chaves do escritório da companhia e do cofre onde o dinheiro era guardado.
Quem conta essa história é Nelson Parisenti, então proprietário da Transfrios e primeiro patrão direto de Pizzolato. Hoje com 75 anos, o empresário aposentado diz que nunca poderia imaginar que aquele “garoto esforçado e honesto” pudesse se tornar um dos homens mais procurados do país por crimes de peculato, corrupção ativa e formação de quadrilha.
A Transfrios surgiu em 1970 e foi uma das transportadoras a oferecer serviço exclusivamente para a Sadia, cuja matriz se encontra em Concórdia. Com uma frota de 30 caminhões, a empresa de Parisenti fazia distribuição para frigoríficos de todo o Brasil. Foi fechada em 1981, quando o empresário levantava fundos para investir em outros ramos de negócios. Hoje no lugar da transportadora há um posto de combustível, ponto de referência no município, cujo dono é o próprio Parisenti.
Pizzolato ingressou na Transfrios no começo dos anos 1970 quando seu pai, Pedro Pizzolato – então secretário de transportes de Concórdia – entrou em contato com o amigo Parisenti e pediu-lhe para que arrumasse um emprego ao filho. Pizzolato, o filho, permaneceu na empresa por aproximadamente dois anos e depois pediu desligamento para ingressar no Banco do Brasil (BB) ao ser aprovado em concurso.
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O ex-diretor de marketing do BB e único foragido do processo do mensalão nunca desviou um centavo de seu primeiro empregador, segundo este, mas já compreendia perfeitamente como funcionava o fluxo de recursos e como eram efetuados os repasses de dinheiro.
– Ele (Henrique) foi muito bom funcionário. Acertava a conta com os motoristas, recebia o dinheiro, fazia depósitos nos bancos, tinha chave do cofre, enfim, era um homem de confiança. Era ele quem anotava num quadro as saídas e chegadas dos caminhões, nomes dos motoristas, origem e destino das cargas. Senti muito sua falta quando ele saiu. Mesmo hoje, após todos estes escândalos, eu ainda contrataria ele – afirma Parisenti.
Questionado sobre a recente condenação de Pizzolato pelo Supremo Tribunal Federal, Parisenti acredita que seu ex-funcionário é inocente, mas admite que ele pode ter se desvirtuado ao se embrenhar nas artimanhas do jogo político.