Se o ex-diretor do BB Henrique Pizzolato está mesmo na Itália, o último lugar que ele procuraria seria as embaixadas do Brasil na Itália, tanto a de Roma quanto a do Vaticano. É com esta resposta, beirando a ironia, que os funcionários brasileiros do corpo diplomático têm respondido aos incessantes questionamentos de jornalistas em busca de informações sobre o paradeiro de Pizzolato no país.

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No último domingo, um dos diplomatas do Brasil em Roma foi chamado às pressas para solucionar uma situação que já ultrapassava os limites da tolerância: o telefone de plantão da embaixada não parava de tocar. Eram repórteres do Brasil todo em busca de eventuais informações sobre o catarinense condenado pelo mensalão, o único condenado foragido até agora.

Nos jornais italianos de ontem, depois da repercussão inicial, ainda durante o final de semana, o assunto perdeu força e ninguém comenta sobre mensalão por aqui. No entanto, basta reunir duas ou mais pessoas que falem português para o tema logo ganhar contornos de prioridade nacional. Até, claro, começar a surgir as mais variadas piadas de onde ele possa estar escondido, que tipo de disfarce estaria usando e por aí vai.

Denis Fontes de Souza Pinto, embaixador do Brasil no Vaticano, evita falar sobre o tema oficialmente, já que sua área de atuação é específica na Santa Sé. Mas admitiu à comitiva catarinense, durante o almoço oferecido, que existe uma “curiosidade latente” sobre o caso e o paradeiro do foragido. Nada, garante ele, que possa gerar qualquer tipo de ruído nas relações entre Brasil e Itália.

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Para os italianos, o fato de a Justiça nacional ter condenado recentemente o ex-primeiro ministro Berlusconi é uma indicativo da isenção do poder Judiciário no tratamento dos chamados casos que envolvam autoridades ou pessoas públicas. Como a Justiça brasileira também cumpriu todos os trâmites e prazos, não há motivo, na leitura local, para qualquer questionamento.

Outra possibilidade seria de Pizzolato e o advogado terem montado uma estratégia de manipulação das informações sobre o seu destino, afirmando que ele estaria na Itália, enquanto poderia estar escondido em qualquer outro país da comunidade europeia, já que ele possui dupla cidadania.

Até agora, não existe nenhum registro de ingresso do foragido em qualquer país da zona do euro. Mais um indício a reforçar a tese de que Pizzolato poderia estar até mesmo no Brasil ou na América Latina: o próprio ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), já teria requerido há mais de 40 dias a inclusão dos nomes na lista da Interpol, exatamente prevendo casos como o de Pizzolato.

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O fato é que, para os italianos, até agora não existe nenhum sinal evidente da presença de um cidadão foragido em seu território, seja usando passaporte brasileiro ou europeu.

* Enviado especial/Roma