A poluição no mar causada por esgoto jogado no rio do Braz, em Canasvieiras, abriu o debate sobre os impactos que a sujeira pode ocasionar em outros mananciais. Apesar de canais de drenagem o ligarem ao rio Papaquara, principal afluente do rio Ratones – que faz parte da Estação Ecológica de Carijós e desemboca no mar na região de Sambaqui, Daniela e Jurerê –, não há como a sujeira ser levada do Braz para os demais pontos da Ilha.
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ICMBio tenta impedir que Casan siga lançando efluentes no Paparaquara
Isso porque, segundo o chefe da Estação Biológica de Carijós e oceanógrafo do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Sílvio Souza, os canais ficam acima da linha dos dois rios. Por isso, servem para drenar a água da chuva e despejar o material tanto no Braz quanto no Papaquara. Na prática, os dois são ligados entre si pelos canais, mas as águas deles não se encontram. Assim, desconstrói-se a ideia de que a poluição do Braz pode chegar a Sambaqui, Daniela e Jurerê.
– A água (do Rio do Braz) vai continuar saindo no mar, porque lá é o local para ele extravasar. É o fluxo natural e a pressão da água é para lá. A água do rio do Braz não vai para o Papaquara – contesta Souza.
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Sistema de drenagem temmais de cinco décadas
Os canais de drenagem foram instalados no final da década de 1950 pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS).
– O rio do Braz era uma bacia independente antes dos canais de drenagem. O DNOS, buscando dar uma rebaixada no lençol freático e impedir a inundação na região, fez vários canais interligando as microbacias do Braz e do Papaquara – relata o engenheiro Nelson Fidélis Filho.
Em um dos canais, a Estação de Tratamento de Esgoto de Canasvieiras (ETE), da Casan, despeja os efluentes, que são os resíduos do esgoto tratado, para o Braz e para o Papaquara. Na semana passada, a prefeitura iniciou a limpeza dos canais justificando que a alta quantidade de sujeira poderia causa alagamentos.
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Conhecido nos últimos anos como alimentador de dejetos em um dos principais balneários do litoral catarinense, o Braz tem um histórico marcado por alterações naturais e artificiais. Moradora das proximidades da saída do rio no mar há 45 anos, Vanilda Machado recorda do tempo em que era possível pescar e até se banhar no local.
– A gente mergulhava, tinha camarão branquinho. Esse rio era fundo, agora virou uma vala negra de tanto esgoto – lamenta.
Na última semana, circularam imagens pelas redes sociais de pessoas nadando e pescando no Braz. Algo que, segundo um dos fundadores do SOS Canasvieiras José Francisco Noceti Bittencourt, era possível ver a não muito tempo atrás:
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– Recorremos ao Ministério Público e fizemos reunião com a Casan várias vezes. De 15 anos para cá começou a mudar o rio e ninguém toma providência.
Comportamento mutável faz rio ter características de lagoa se fechado
O rio tem 3,6 quilômetros de extensão na sua veia principal, além de pequenos braços no seu corpo que se espalham por Canasvieiras e Cachoeira de Bom Jesus. Ao todo, o Braz tem seis nascentes. O oceanógrafo Sílvio Souza afirma que o rio tem um comportamento dúbio. Quando está fechado, o que ocorre naturalmente e sem a necessidade de intervenção como fez a prefeitura durante a semana, ele torna-se uma espécie de lagoa, porque não desemboca em outros lugares. Ao abrir, como ocorreu sexta-feira depois da chuva, ele cai no mar e vira novamente um rio.
As ligações irregulares que lançam esgoto diretamente na água e os extravasamentos da estação elevatória da Casan, como o que ocorreu no dia 31 de dezembro do ano passado, são apontados como os motivos para o Braz estar tomado pelo esgoto. A Casan justifica que o extravasamento ocorrido no último dia de 2015 foi causado pela falta de luz e consequente roubo do gerador existente no local.
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Além disso, para evitar outros extravasamentos por conta da alta demanda sofrida pela estação, uma nova bomba de transmissão para a unidade de tratamento está sendo implantada. Enquanto isso, a prefeitura garante que fiscaliza e multa os donos de imóveis que mantêm as ligações irregulares. Na região do Braz é possível ver residências com canos ligados diretamente na água parada do pouco que ainda resiste em alguns trechos do rio.
Nos últimos anos, os ministérios públicos estadual e federal abriram ações contra órgãos públicos como Casan e Fatma por supostas irregularidades ocorridas no Braz. Todas seguem em andamento.
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