– Não falta dinheiro. Falta é gestão.

A frase repetida várias vezes pelo prefeito Udo Döhler no final da manhã de quinta-feira, no encerramento do primeiro “Debates AN” do Projeto Joinville que Queremos, resume um sentimento que tomou conta de autoridades da área de saúde, estudantes e representantes de entidades e da população, no auditório da UniSociesc.

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O debate colocou diante da secretária estadual de Saúde, Tânia Eberhardt, e do secretário municipal, Armando Dias, dúvidas, desafios e embates que terão de ser enfrentados nos próximos anos para tornar a saúde de Joinville melhor.

O encontro, que foi transmitido ao vivo pelo AN.com.br, foi mediado por Rafael Custódio, editor-chefe do Jornal do Almoço, e comentado por Jefferson Saavedra, colunista do “AN”. Durante cerca de duas horas, eixos fundamentais da área, como a regulação da ocupação dos leitos disponíveis em Joinville e na região; a estrutura e a formação de equipes especializadas; e, principalmente, a luta permanente por recursos foram debatidos com o olhar para o futuro.

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– É tão boa a oportunidade de estarmos aqui discutindo a saúde, que temos de pensar a saúde de 2030 ou para os próximos 30 anos, quando certamente a população de Joinville atingirá a marca de mais de 1 milhão de habitantes – disse o prefeito.

A ideia de que não faltam recursos foi compartilhada pelos debatedores. Em especial, no que se refere à distribuição das receitas arrecadadas pelo município, pelo Estado e pela União.

:: Confira como foi o debate na íntegra ::

– A cada R$ 1 que a União nos entrega, o município gasta mais R$ 3. Por isso, Joinville consome 30% do seu orçamento em saúde e mesmo assim não atende bem – disse Udo, lembrando que deve haver uma preocupação de todos os gestores em investir melhor os recursos, evitando o desperdício, a má gestão e a corrupção.

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Como gestores da área, Tânia, Armando e Udo lembraram que a falta de gestão a que se referiram não é apenas do sistema de saúde, mas de todas as áreas que trabalham com verba pública.

– De um modo geral, falta gestão, sim. Mas não é falta de gestão na saúde especificamente. As prioridades precisam ser mais bem estabelecidas em um país como o Brasil, que tem muitos problemas – disse Tânia.

Para o secretário municipal, as palavras do prefeito refletem um sentimento geral da população quando o assunto é dinheiro público.

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– Os recursos existem. Mas não estão no lugar certo. Estão em Brasília e não chegam nos municípios. Se Joinville, que é uma cidade industrializada, está nesta situação, imaginem como estão as outras cidades do Norte e Nordeste. Precisamos do repasse de forma automática, sem que seja preciso sair do município e ir a Brasília todo mês para buscar equipamentos e dinheiro – disse Armando Dias.

O primeiro debate do Joinville que Queremos, que busca contribuir com reflexões sobre temas relevantes para a cidade, contou com apoio de Perini Business Park, Ciser e UniSociesc.

Humanização

Um dos primeiros temas abordados levou os debatedores a um consenso sobre a necessidade de formar mais e melhor as equipes de saúde que trabalham diretamente no atendimento à população.

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– É preciso cuidar melhor de quem está cuidando dos nossos doentes – disse Tânia, ressaltando que Estado e município devem investir mais na capacitação e na formação de grupos de apoio aos servidores.

– Sem as pessoas, não funciona. Não adianta equipamento moderno – completou o secretário municipal.

Segundo Armando Dias, o município está concluindo uma nova etapa do Programa de Qualificação e Estruturação da Gestão de Trabalho e da Educação na Saúde (ProgeSUS), criado pelo governo federal. A cidade aderiu ao programa em 2009 e amplia a cada ano o número de pessoas treinadas.

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Fim das filas

Uma pergunta feita pela diarista Rozevelde da Silva, de 55 anos, que se acorrentou em frente ao Hospital São José e à Prefeitura para cobrar uma cirurgia, levou os debatedores a projetar medidas para acabar com as filas e a buscar soluções para a falta de equipamentos e medicamentos.

Como resposta, o secretário Armando Dias admitiu falta de recursos e estrutura e garantiu que providências estão sendo tomadas para reverter esse quadro. Segundo ele, o Hospital São José passará a ter 30 leitos de UTI em 2014 e mais dez em 2015.

A secretária Tânia disse que há muita dificuldade em “fazer” saúde pública. E afirmou que é consciente da carência do Hospital Regional, por exemplo. Mas, para ela, muitas pessoas que criticam o sistema de saúde nunca foram atendidas por ele.

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A central de regulação, que deve estar em operação nos próximos meses, vai atender a uma demanda de 1,3 milhão de pessoas espalhadas por pelo menos 20 cidades do Norte de Santa Catarina. Por meio da central, serão regulados cerca de 1,8 mil leitos. Com isso, será possível, por exemplo, transferir pacientes de um hospital para outro com mais agilidade, além de saber, em tempo real, onde há vagas.

– Tudo começa lá na atenção básica – disse o secretário Armando Dias.

Segundo ele, as equipes de saúde da família de Joinville atendem a mais de 35 mil pessoas todos os meses. O ideal, segundo ele, é atender pelo menos 50% da população.

Conscientização e prevenção

Um dos questionamentos de Jefferson Saavedra, colunista do “AN”, motivou os debatedores a avaliarem em um sentimento de que a saúde pública não consegue avançar, mesmo com mais recursos, mais hospitais e mais tecnologia.

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– Seria importante, em cada pesquisa, incluir uma pergunta para saber se a pessoa foi atendida pelo sistema de saúde. Muitas das pessoas que criticam jamais usaram o sistema – disse a secretária estadual de Saúde, Tânia Eberhardt.

O secretário municipal Armando Dias lembrou que mais de 30 mil pessoas batem na porta do pronto-socorro do Hospital São José todos os meses e que a maioria dessas pessoas sai satisfeita com o atendimento.

– O problema é que a demanda não é fixa. Hoje, temos mil gestantes fazendo pré-natal. São feitos mais de 1,7 milhão de exames por mês. Mas de um ano para o outro, tudo muda. Há, inclusive, pessoas com plano de saúde que estão migrando para o SUS por causa de medicamentos especiais – lembrou o secretário.

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Para os dois gestores, melhorar o atendimento no futuro também depende da população, da consciência de que é preciso agir pensando na prevenção e, quando for preciso algum tratamento, seguir à risca as orientações médicas.

– Quando um paciente deixa de tomar os medicamentos corretamente, é dinheiro do SUS colocado no lixo – disse Tânia.

Vídeo: veja a opinião de quem participou do debate:

Confira como foi a cobertura do evento

Galeria de imagens:

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