O excesso de turistas, os picos e quedas de energia e o desperdício foram os principais fatores para a falta de água que manchou a virada do ano em São Francisco do Sul. A expectativa era receber entre 150 mil e 200 mil visitantes, mas a população chegou a 300 mil. Aí, faltou pressão na rede de água e sobrou irritação dos turistas.

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Como a cidade depende de turismo, as ações para que o fantasma da falta de água não volte a assombrar na próxima temporada já começaram. Segundo o presidente do Samae, Fernando Oliveira Ledoux, ainda este mês deve começar a obra de um novo reservatório dos balneários que terá capacidade para 2 milhões de litros de água. Em dezembro, será ativado.

O Samae também prevê uma interligação da rede que vai injetar mais água para a Enseada. Além disso, a Prefeitura promete fiscalização mais intensa contra o desperdício.

Mas para este final de semana, não tem jeito: vai voltar a faltar água. O serviço só será normalizado a partir de segunda-feira.

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Confira entrevista com o presidente do Samae:

O senhor afirmou em novembro deste ano que o racionamento de água seria realizado apenas em último caso e que São Francisco do Sul estava preparada para atender a 200 mil pessoas sem prejuízos. O que aconteceu?

Fernando Oliveira Ledoux: Foi muita gente abrindo a torneira ao mesmo tempo. A pressão da rede caiu. E é essa pressão que faz com que água suba na caixa. Água tem, o que falta é pressão. Ainda houve picos de energia que provocaram quedas. No dia 31, por exemplo, houve três quedas de energia e tivemos de reiniciar todo o sistema, que demora entre 15 e 20 minutos. Isso tudo somado ao excesso de gente. Não esperávamos tanto movimento. A região dos balneários passou de 20 mil habitantes para 200 mil habitantes.

Quantas pessoas o senhor estima que tenham passado a virada em São Chico?

Fernando: Cerca de 300 mil pessoas, considerando a Vila da Glória, o Ervino e o centro histórico. O consumo por pessoa subiu muito. A média por pessoa é de 300 litros por dia. Neste período, passou para 600 porque o veranista vai à praia de manhã, volta e toma banho; vai à praia à tarde, volta e toma outro banho.

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O Samae tem contratado o serviço de caminhões-pipa. Mas os moradores reclamam que não estão conseguindo contato.

Fernando: A forma correta de conseguir o caminhão-pipa é agendando por meio do telefone 3444-1233. Temos só uma linha disponível. O que acontece é que o caminhão chega em uma rua e acaba sendo abordado pelos moradores que não agendaram e acaba abastecendo todas as casas. Estamos com oito caminhões-pipa em São Francisco. A orientação é que as pessoas agendem e aproveitem para pegar água nos horários de rodízio.

Ainda em novembro, a Prefeitura assinou decreto dizendo que quem desperdiçasse água potável para lavar carros e calçadas poderia ter o fornecimento cortado. Essa medida ajudou a amenizar o problema?

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Fernando: Tínhamos duas equipes de moto orientando os moradores. Não houve a necessidade de interromper o fornecimento. Mas sabemos que houve desperdício. Os veranistas deixam para lavar as casas em dezembro. Há falta de conscientização. E o meu temor é que a partir de segunda-feira, quando o serviço deve ser normalizado, as pessoas voltem a desperdiçar.

A Prefeitura chegou a fazer campanha de conscientização?

Fernando: Sim. Instalamos chuveiros ecologicamente corretos nas praias e pedimos para a população também fazer sua parte. Só que muitos moradores compraram motores para puxar a água. Com isso, tiram a pressão da água e prejudicam outras casas da rua.

Na sua casa, faltou água?

Fernando: Faltou água nos dias 31, 1º e dia 2. Moro no Rocio Pequeno e a água não chegava durante o dia, só à noite. O que me salvou foi a caixa d´água.

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O que o senhor diria para um turista que ficou uma semana sem água em casa e pagou pela casa alugada?

Fernando: A responsabilidade é do Samae. Realizamos muitos investimentos para melhorar o abastecimento, mas o número de visitantes superou todas as expectativas. Ainda houve os picos de energia. Há fatores que fogem do nosso alcance. Mas o Samae vem trabalhando para recuperar o sistema.

Nas duas últimas temporadas não chegou a faltar de água. Por quê?

Fernando: Recebemos um número menor de turistas: entre 100 e 150 mil nos balneários.

O que pode ser feito para evitar que o problema se repita no próximo Réveillon?

Fernando: O principal investimento é novo reservatório dos balneários, que ficará em Ubatuba e terá capacidade para armazenar 2 milhões de litros de água. A obra já está licitada e contratada e a execução começa ainda este mês. Será um tanque gigante que receberá água antes da temporada. No dia 30 de dezembro vamos abrir o reservatório, que vai custar R$ 2 milhões, dinheiro da Prefeitura. Paralelamente, vamos fazer uma interligação da adutora dos balneários para dar uma injeção de água direto para a Enseada.

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E os moradores, o que podem fazer?

Fernando: Casas com mais de um piso devem ter cisternas e caixas d´água compatíveis com o número de pessoas da casa. Para uma família de quatro pessoas, por exemplo, recomenda-se uma cisterna de mil litros e uma caixa- d´água de mil litros. O problema é que uma casa preparada para quatro pessoas recebe 15 pessoas. E o pior: há casas que nem têm caixa- d´água. Para instalar uma cisterna e um reservatório, o morador deve gastar em torno de R$ 1,5 mil.

O senhor falou que houve muito desperdício. Para a próxima temporada, a Prefeitura vai apertar a fiscalização?

Fernando: Sim. Estamos estudando fazer um arrastão nas praias para identificar os motores que estão instalados de forma irregular prejudicando o abastecimento de outras casas e também fiscalizar o desperdício. A intenção é fazer uma campanha mais efetiva de uso consciente da água.

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O drama da falta de água pode comprometer a próxima temporada?

Fernando: Não acredito nisso. Sentamos para avaliar o que houve de errado e tentamos melhorar a cada ano. Lembro que há três verões houve uma grande queda de energia. De lá para cá alugamos três geradores de energia que estão à disposição.

Faltou preparação para esta temporada? O Samae fez tudo o que tinha de fazer?

Fernando : Dentro dos recursos que tínhamos, o máximo foi feito. Fizemos a ampliação da rede, contratamos empresas para fazer manutenções elétricas, nas bombas. Agora temos de pensar na pior possibilidade em relação à população flutuante. Prever o maior número de pessoas para poder atender bem a todos.