Dona Dalva Nunes, 57, enterrou a enteada Suelen, que sofria de câncer, no dia 21 de janeiro de 2015. Passados exatos seis meses e seis dias, a missão da enfermeira do Hospital Celso Ramos foi ainda maior: despedir-se de seu próprio filho, de apenas 15 anos.

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O jovem Guilherme Nunes Silva não resistiu aos impactos provocados por dois veículos na Avenida Beira-Mar Norte, em Florianópolis, quando voltava de uma festa depois da 1h. Guilherme foi enterrado às 10h15min desta segunda-feira em uma cerimônia no cemitério do Itacorubi onde só se ouvia choros – os mais altos eram da mãe e de uma das irmãs, Dóris Daniele.

Amparada pela filha por quase todo o cortejo fúnebre, a mãe do jovem morto ainda revivia desacreditada os momentos da noite do atropelamento.

– Voltei do plantão e estranhei não vê-lo em casa, nem ter ligado. Liguei para hospitais e delegacias. Quando fui até o IML à tarde, vi o celular e o relógio dele – lembra, deixando o choro interromper a fala.

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Amigos de colégio de Guilherme prestaram as últimas homenagens. Foto: Diórgenes Pandini/Agência RBS

Gostava de sair

O pai de Guilherme, Luiz Carlos da Silva, que é dono de um quiosque em frente ao hospital onde a esposa trabalha, comentava frequentemente com os amigos que o filho queria sair para festas sempre – e que se preocupava com isso.

– Ele não queria deixar o Guilherme sair tanto, mas a gente sabe como jovem é, né? – diz Rodrigo, um amigo de anos do pai.

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Para entrar na festa de sábado, Guilherme usou a identidade de um colega maior de idade.

– Ainda no sábado eu ameacei que ia dar uma surra nele. Porque ele andava saindo demais. Eu queria poder ter dado essa surra nele – disse, enquanto buscava forças para consolar uma garotinha de dois anos, sobrinha de Guilherme, que dizia sem parar não querer que o tio virasse estrelinha.

Paixão pelos amigos e Figueirense

Estudante do segundo ano do Ensino Médio do colégio COC, na Capital, Guilherme era fanático por futebol. No enterro, a bandeira do Figueirense sobre o caixão revelava seu time favorito. Os coros do time alvinegro entoados pelos amigos no momento do enterro reforçam a paixão do menino pela equipe e pelo esporte.

Os amigos garantem que, se perguntassem qual era o lateral direito do Bahia, o menino saberia responder com precisão.

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– Eu dizia que ele deveria ser comentarista esportivo. Sabia de tudo. Ele era muito alegre, uma pena – lembra Rodrigo.

A estudante Rafaela Simas, 16, já sente falta da liderança que Guilherme representava para a turma:

– Ele vai deixar muita saudade para nós todos – lamenta.

Pelo menos 100 pessoas, entre colegas de classe e familiares, estiveram nas cerimônias para se despedir do jovem. Guilherme deixa os pais, três irmãos e uma namorada, que estava na festa, mas foi embora mais cedo devido a um desentendimento do casal.

Polícia irá investigar

Segundo a Polícia Civil, os dois condutores envolvidos no acidente que matou Guilherme – um Audi e uma BMW – foram ouvidos no domingo e liberados. Eles permaneceram no local e apresentaram a mesma versão: que trafegavam na Beira-Mar sentido Centro – Bairro, quando foram surpreendidos pelo jovem atravessando a rua correndo na altura do bar Scuna, e não foi possível desviar.

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O delegado da 1ª DP, Valter Claudino Rodrigues, instaurou inquérito para apurar as circunstâncias do acidente. Ele afirma que já pediu as imagens de câmeras próximas ao local para prosseguir a investigação. No entanto, afirmou que é muito cedo para conclusões.

– Ainda não ouvi os envolvidos, mas eles permaneceram no local e, por isso, foram liberados, já que não havia motivo para prisão. O Código de Trânsito é bastante claro nesse aspecto.

*Com informações da repórter Gabriela Wolff

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