Um dos mais antigos de Santa Catarina, o Museu Nacional de Imigração e Colonização passa por um período de reforma que vai além dos muros do terreno localizado na Rua Rio Branco, no Centro de Joinville. O local borbulha em ideias e pesquisas de sua equipe de historiadores, que capitaneiam estadualmente o movimento de reformulação do conceito dos museus focados na imigração. Ao mesmo tempo, está fechado para visitação desde fevereiro, sem data para reabrir, à espera de recursos para a revitalização do casarão principal, construído em 1870 e transformado em museu há 61 anos.

Continua depois da publicidade

Quando anunciou que a visita seria interrompida, há seis meses, a intenção da administração e da Prefeitura de Joinville, responsável pelo espaço via Secretaria de Cultura e Turismo, era de que isso aconteceria apenas no período necessário para preparação do casarão para uma reforma pontual, no alpendre lateral direito, e para execução desta obra.

Localizado no segundo piso, em formato de varanda coberta, o alpendre já estava envergado e sendo mantido por estacas há mais de sete anos. Foi interditado e, depois de alguns anos, o sótão foi fechado pelo mesmo motivo. A obra, orçada em R$ 47 mil, foi concluída na penúltima semana de julho, mas o local continuará fechado para visitação.

Como o acervo, avaliado em 4 mil itens, foi retirado das salas do casarão para esta primeira reforma e acondicionado em outros espaços expositivos do terreno, como a casa enxaimel e os galpões (de meios de transporte e de tecnologia), a ideia é que, por serem objetos e móveis frágeis, não passem por novas mudanças tão cedo. Antes disso, o local deve passar pela revitalização total, que inclui a drenagem de todo o terreno de 3 mil metros quadrados, a construção de um anexo de dois pavimentos, o restauro e as obras de acessibilidade da casa principal.

Das próximas etapas, a única que tem recursos financeiros garantidos é a construção do anexo, que depende da drenagem para ter início. Ele será erguido nos fundos do terreno, no local onde está o galpão usado para a exposição de meios de transporte.

Continua depois da publicidade

– Essa edificação é um falso histórico, foi construída nos anos 2000, e, por isso, pode ser desmanchada – explica a educadora Elaine Martins.

Modernização faz parte da história

O anexo tem um projeto moderno, para não ser confundido com parte do patrimônio histórico, e terá as condições de uso necessárias para as atividades que o museu demanda, com climatização: servirá como espaço expositivo, acervo técnico e sala de conservação e documentação, além de sala da administração.

A construção é avaliada em R$ 1,3 milhão, verba garantida com recursos do Ministério do Turismo. O restauro da casa principal foi orçado em R$ 1,7 milhão e está em fase de captação de recursos via Lei Rouanet. Há pelo menos uma década ela enfrenta problemas de vazamentos na cobertura, que precisa ser trocada, além de reparos pontuais. O valor também inclui a obra de acessibilidade, com a instalação de um elevador externo que vai até o segundo e terceiro pavimento.

A captação é realizada por meio da Associação de Amigos do Museu Nacional de Imigração e Colonização. A drenagem, que precisa ser feita antes das outras etapas, depende de verba da prefeitura no valor de R$ 80 mil, e não tem previsão para começar.

Continua depois da publicidade

Ainda que os turistas que chegam a Joinville não possam ir ao museu mais famoso da cidade, que recebe cerca de 30 mil visitantes por ano, a administração salienta que as atividades do museu não estão paralisadas. Entre atendimento à escolas e a pesquisadores, a oferta de aulas de português a imigrantes e eventos sediados no auditório, a principal missão da equipe é repensar o conceito do espaço museológico focado nos fenômenos de imigração e de colonização. É uma ação que começou em Joinville e deve refletir em toda Santa Catarina.

Mais do que um espaço de contemplação

Um seminário já foi realizado na cidade em maio, com a formação de um grupo de trabalho liderado pela coordenadora do museu joinvilense, Renata Cittadin, e um fórum estadual ocorrerá em 2019 em Lages.

– Em Santa Catarina, quase 40% dos museus que responderam ao cadastro catarinense de museus têm, em sua denominação, o tratamento desse recorte. Quando descrevem as suas missões, esse número aumenta para quase 60% – afirma Renata

A exposição do Museu, por exemplo, era a mesma há 18 anos. A equipe prepara uma nova exposição para que, na reabertura, ela esteja antenada às novas discussões sobre o tema, e não apenas mostrando o recorte de um período e de um grupo de imigrantes – no caso de Joinville, o foco era basicamente o modo de vida da comunidade germânica que morava na Colônia Dona Francisca na época de sua fundação.

Continua depois da publicidade

– A imigração não é um fenômeno do século 19, é um fenômeno humano contínuo. É papel dos museus refletir sobre como tratar desse tema. Acredito que vencer os desafios do esgotamento estrutural que o Museu possui é tão importante quanto vencer suas mazelas museológicas – analisa.