A dança contemporânea rompe com tudo, inclusive com o palco. Ou com a ideia de espetáculo: performance, composição urbana, instalação coreografada — tudo é arte e o criador dá o nome que quiser. Esqueça categorias, afinal arte serve justamente para borrar padrões pré-estabelecidas. Na décima edição, o Múltipla Dança – Festival Internacional de Dança Contemporânea traz para Florianópolis um recorte da produção local e brasileira com apresentações de 11 trabalhos. O evento começa amanhã com a aguardada estreia em Santa Catarina de Protocolo Elefante, nova obra da Cena 11 Cia de Dança. Todas as atrações são gratuitas.
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O Múltipla Dança é considerado o mais importante festival da área no Sul do Brasil e é bem possível que em Florianópolis não exista uma consciência clara disso. Por meio de intervenções aparentemente pequenas, o festival evoca uma ação política ao ser viabilizado graças à economia solidária, ao formar plateia com espetáculo infantil e multiplicar espaços e democratizar a arte com apresentações nas ruas do Centro da cidade, no Jardim Botânico e até nas dunas da praia da Joaquina. Tudo de graça.
— Dança contemporânea não é uma modalidade de dança, mas um modo de pensar e fazer. É uma atitude em relação ao corpo e a dança — assinala a bailarina, professora e pesquisadora Jussara Xavier, idealizadora do festival junto com Marta Cesar.
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Nesse sentido, o festival envolve não só bailarinos de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, mas também pesquisadores. Além das apresentações, a semana terá encontros, discussões e espaço de aprendizagem. A diretora da São Paulo Companhia de Dança, Inês Bogéa, é uma das convidadas. E este ano, a homenageada será a escritora, educadora, dançarina e pesquisadora Ida Mara Freire. É um reconhecimento à contribuição da crítica à dança no Estado.
A potência da dança catarinense
Dos 11 trabalhos desta edição do Múltipla Dança, oito são de Florianópolis e mostram a potência da dança contemporânea na cidade. A seleção é feita não mediante inscrições prévias, mas a partir do criterioso olhar das curadoras Jussara Xavier e Marta Cesar.
— Há um sentimento de pertencimento a esse lugar que une as obras selecionadas para esta edição. A estreia do Cena 11 é um exemplo e traz o questionamento: o que é dançar aqui em Santa Catarina? — diz Jussara Xavier.
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Entre os destaques, está a instalação coreográfica Fome, da Entropia Experiências Artísticas (SC), que toca em temas como a fome e a indústria alimentícia no corpo.
Protocolo Elefante e a resistência de uma das mais importantes cias do Brasil
Antes de finalmente estrear na cidade natal, Cena 11 Cia de Dança apresentou Protocolo Elefante em São Paulo e Rio. Trata-se de um dos grupos mais importantes do país, nascido em Santa Catarina, e que no entanto encontra mais valorização fora. Não à toa, o novo trabalho investiga a ação de afastamento e isolamento do elefante na iminência de sua morte, uma metáfora de separação e exílio.

Questionamentos como “o que é pertencer ou necessidade de pertencimento?”, “qual é a nossa definição de identidade?”, “por que e para que existimos?” nortearam a pesquisa desse projeto iniciado em 2014 e dividido em etapas — numa delas, cada um dos integrantes se isolaram em lugares diferentes.
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— O Protocolo é guiado por uma pergunta: por que continuar? E usamos a metáfora do elefante. A solidão que nos define enquanto grupo. É como um ritual, com vestígios de quem passou pela companhia e do que aconteceu no corpo de cada um — afirma a bailarina Karin Serafin.
Desde 2014 o grupo não tinha patrocínio, e do lugar sem saída, encontrou a chancela de seu público (e mesmo não sendo a intenção, respostas) para seguir via financiamento coletivo.
AGENDE-SE
O quê: Múltipla Dança, abertura com Protocolo Elefante, Cena 11 Cia de Dança
Quando: sábado, às 20h. Festival segue até o dia 27 de maio em diversos locais
Onde: Teatro Pedro Ivo (Rod. SC-401, 4.600, Saco Grande, Florianópolis)
Quanto: gratuito
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