Um carro a menos. Um lema que parece individual, mas se boa parcela da população aderisse a ele, faria a diferença na mobilidade de todos. É com a pretensão de chamar a atenção da sociedade, exigir infraestrutura e um trânsito mais seguro que os movimentos pró-bike ganham cada vez mais notoriedade em Florianópolis.
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:: Confira mapa cicloviário de Florianópolis
:: Veja o vídeo sobre a situação das ciclovias da Capital
O cicloativismo não é novidade em Florianópolis. Em 1997, um grupo de estudiosos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) fundou o Pelada Floripa – hoje Grupo Ciclo Brasil, para realizar campanhas e seminários sobre o tema. Mais tarde, em 2001, foi criado a Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis, que atualmente conta com 400 organizações associadas.
Mas foi no final da década, com o aumento dos congestionamentos no trânsito na Capital, que os movimentos ganharam destaque. A internet, principalmente as redes sociais, contribui para os grupos da cidade se organizarem e trocarem informações com outros ativistas no Brasil e no mundo.
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– A internet colocou o pessoal em contato aqui e no Brasil inteiro. A Bicicletada (que completou 10 anos em outubro) é organizada em todo o país pela rede. Ajudou a combinar eventos, acessar informações de como funciona o evento em outros países, assim como os projetos implantados – observa a representante do Grupo Ciclo Brasil e uma das diretoras da Viaciclo, Giselle Xavier.
Em Florianópolis, existem portais e blogs que divulgam informações sobre as ações dos movimentos, como o Floripa Quer Mais e o Bicicleta na Rua, grupos de pedais – entre eles o Duas Rodas e Floripa Biker. Além das manifestações, como a Bicicletada Floripa, que ocorre todas as últimas sextas-feiras do mês.
Um outro protesto ciclístico, que surtiu bastante efeito é a Bicicletada da Lagoa da Conceição, realizada nos segundos sábados de cada mês e que tinha como uma das motivações exigir a construção de uma ciclovia na Avenida Osni Ortiga. Depois da pressão, a prefeitura promete começar a obra no começo deste mês.
– Temos diversos cicloativistas em Florianópolis, que lutam por segurança. Acho que aqui é a única cidade que tem duas bicicletadas, a da Lagoa, no segundo sábado do mês e a de Floripa na última sexta do mês – lembra o presidente da Viaciclo, Daniel de Araújo Costa.
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Conforme Giselle, a sociedade está se convencendo de que o uso da bicicleta pode ser uma das soluções para diminuir os problemas de mobilidade em municípios como Florianópolis. A professora lembra que algumas importantes cidades do mundo estão dando exemplos, como Paris, onde foi implantado o aluguel de bicicletas públicas. Segundo ela, essas referências incentivam gestores e mostram uma possibilidade a população.
– No Brasil ainda há o preconceito de que bicicleta é coisa de pobre. Na verdade é um modal inclusivo, o meio mais eficiente em viagens curtas e de médias distâncias, entre dois e oito quilômetros – analisa a professora da Udesc.
Passeata em duas rodas
Um dos participantes da Bicicletada da Lagoa da Conceição, Ébano Piacentini, observa que na realidade as pessoas que optam pela bike tem perfil bem diversificado. Não está ligado diretamente a questão financeira. Mas de cidadão que se conscientizaram que não é sustentável dar preferência ao uso dos automóveis.
– Não é necessário uma pessoa com 70 quilos precisar de uma tonelada (que envolve o carro) para se locomover. É possível optar por ir ao trabalho, curso de inglês e academia de bicicleta e deixam o carro para as longas distâncias ou melhor, buscar uma carona solidária. Sozinho no carro, é um modelo urbano atrasado. É isso que queremos mostrar – diz o cicloativista.
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Enquanto os ciclistas não se sentem respeitados por motoristas e pelos órgãos públicos, que, como Piacentini lembra, não fazem sua parte na fiscalização de trânsito e na garantia de vias ciclísticas seguras, a saída continuará sendo se organizar em movimentos, chamados de massa crítica (por reunir vários ciclistas, sem lideranças por um objetivo comum).
– A nossa Bicicletada, se equivale a uma passeata. É a forma de reivindicarmos um trânsito mais seguro, de mostrar para as pessoas que lugar de bicicleta é na rua – afirma Piacentini.