Em uma das reuniões deste ano do Conselho do Leitor do DC, o conselheiro Suenon Pinto sugeriu fazer um vídeo que mostrasse as condições dos cerca de 43 quilômetros de ciclovias e ciclofaixas de Florianópolis. O diretor de redação, Ricardo Stefanelli, lançou a ideia de colocar uma câmera na bicicleta de um ciclista para mostrarmos ao leitor como é percorrer as vias ciclísticas da Capital. Como eu uso a bike para ir ao trabalho, resolvi encarar o desafio.
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:: Confira o vídeo abaixo:
Nas conversas com a equipe de reportagem, percebemos que o problema ia além das condições das ciclovias, mas a falta de conexões entre elas e das chamadas rotas seguras. Fizemos todo o percurso em três dias.
Eu pedalei com uma Gopro (câmera voltada para gravação de esportes, que pode ser acoplada em capacete e guidom) instalada na bike, os colegas Charles Guerra, Jesse Gioti e Ricardo Wolffenbuttel fizeram as imagens externas, e o apoio de produção foi da repórter Roberta Kremer.
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Resolvemos abrir o leque e mostrar como é dar a volta em todas as vias ciclísticas desde a ciclovia da Beira-Mar Continental, as do Sul e Norte da Ilha até as das áreas centrais, como a da Avenida Hercílio Luz. ?
A saída na ciclovia da Beira-Mar Continental foi tranquila porque é uma via nova, sem problemas estruturais. A conexão com a Beira-Mar Norte é pela passarela da Ponte Pedro Ivo Campos, que ficou mais segura depois que o Ministério Público estadual exigiu a colocação de câmeras de segurança e manutenção do espaço.
Ao chegar na Beira-Mar Norte, seguimos em sentido ao Sul da Ilha. Então surgiu o primeiro obstáculo. As duas maiores ciclovias – Beira-Mar Norte e Beira-Mar Sul – não são interligadas.
Para chegar no Sul, tive de enfrentar o trânsito intenso da Avenida Gustavo Richard e escalar o barranco para chegar ao Túnel Antonieta de Barros. A ciclovia da Beira-Mar Sul está adequada. Mas para chegar na ciclofaixa da Fazenda do Rio Tavares, tem que passar pelo trecho sem ciclovia da SC-405, um local tenso para os ciclistas, por o acostamento ser estreito.
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O maior problema da ciclofaixa da Fazenda do Rio Tavares é que no meio dela tem um poste, mostrando a falta de planejamento da prefeitura de Florianópolis. Esta ciclofaixa é conectada com a da Pequeno Príncipe, dando acesso à Praia do Campeche. Um trecho bem utilizado por moradores.
Em sentido ao Sul da Ilha, a ciclofaixa compartilhada com a calçada da Tapera é tranquila de usar porque tem pouco movimento de carros, mas não liga com o trecho da Rodovia Baldissero Filomeno, no Ribeirão da Ilha. A calçada compartilhada para pedestre e ciclofaixa no Ribeirão está em construção há mais de dois anos. Na parte que está concluída não constam placas de sinalização. Resultado: poucos moradores sabem que podem passar de bike sobre ela.
Do Leste para o Norte da Ilha
Na Lagoa da Conceição não existe ciclovias, uma região que percebi ser muito frequentada por ciclistas. Outdoors de movimentos pró-bike e grafites nos muros mostram o desejo da comunidade em contar com vias ciclísticas seguras. Para acessar o Norte, precisa passar por um longo trecho, entre eles Moçambique e Rio Vermelho, compartilhando a via com os carros.
No Norte, as ciclovias e ciclofaixas estão melhor distribuídas entre os bairros. A maioria está em bom estado, tirando a da Vargem Grande, a pior do município. É muito esburacada. A parte boa, é que tem ligação com a SC-401, assim como a de Canasvieiras e a da Academia da Polícia Civil (Acadepol), que também tem acesso à rodovia.
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A ciclovia mais bonita é a de Jurerê Internacional, que atravessa áreas verdes. Nos Ingleses, a ciclofaixa é bem usual para a circulação de moradores, já que não liga com outras estradas. A dificuldade é a concentração de carros que atravessam sobre ela para acessar os estacionamentos dos comércios.
A SC-401 é a ciclofaixa mais nova da região. Foi construída na duplicação do trecho entre o Trevo de Jurerê e Canasvieiras e ajudou na mobilidade dos moradores locais. A parte ruim é que é uma ciclofaixa em uma rodovia de alta velocidade (80 km/h). Prova da insegurança é a presença de uma bicicleta fantasma, colocada para alertar sobre a morte de um ciclista atropelado por um motorista em fevereiro.
O deslocamento do Norte até a região central da cidade é o trajeto mais perigoso. A partir do trevo de Jurerê até Itacorubi, a SC-401 (a via considera mais arriscada para ciclistas) não tem ciclovia e ciclofaixa, o mais perigoso é que em alguns trechos não tem nem acostamento. Entre eles, a região do Cacupé, que tem de literalmente disputar espaço com os carros.
Em direção ao Centro
Na região central, existem quatro ciclovias interligadas. A Beira-Mar Norte, com a Avenida da Saudade, a da Celesc e da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), no Itacorubi. Essa ligação é importante por ser um trecho em direção a universidade para servir os estudantes.
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Para ir em direção ao Centro, o ideal é ir pela Beira-Mar Norte, por ter uma ciclovia segura. A outra opção, as ciclofaixas da Agronômica e da Bocaiuva são estreitas. Os carros não respeitam e estacionam nas vias ciclísticas. Como ficam paralelas a ciclovia da Beira-Mar Norte, não vejo necessidade de me arriscar a utilizá-las.
Não há nenhuma via ciclística interligada com a Avenida Hercílio Luz, no coração da cidade. É uma ótima ciclovia, só que é comum os pedestres utilizarem, inclusive para passear com cachorros.
No final da Hercílio Luz, para acessar o Continente, a opção mais segura é subir a passarela em frente ao CentroSul, descer da bicicleta e pegar a calçada da Avenida Gustavo Richard por cerca de 400 metros até acessar a Beira-Mar Norte. De lá, é só pegar a passarela da Pedro Ivo Campos.
A conclusão que tive nessa jornada pelas ciclovias em Florianópolis é que a maioria delas estão em bom estado e o maior problema ainda é a falta de conexões e rotas seguras. Percebi que onde tem vias ciclísticas as pessoas usam sim esse modal. Isso prova que quanto mais infraestrutura o poder público oferecer, mais pessoas vão optar por pedalar em Florianópolis.