A tristeza pela morte de um colega de trabalho era perceptível no rosto de cada um dos taxistas do ponto do Terminal Rita Maria no fim da tarde desta quarta-feira. Bastava falar no nome de Martino, encontrado morto poucas horas antes, para que as lembranças surgissem. Em meio aos questionamentos para saber o local do velório, um dos mais emocionados era Rogério Corrêa, há oito anos na praça.

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– Ele era meu amigão. Sempre me deixava em casa no fim dos turnos – contou, com os olhos marejados.

Descrito como brincalhão e muito amigo, Amorim, como era conhecido pelos amigos, trabalhou como carreteiro a maior parte da vida. Era taxista na rodoviária havia pouco mais de dois anos e seus dias de trabalho eram as terças, quintas e sábados, em jornada de 24 horas.

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De acordo com os amigos, dirigindo uma Chevrolet Spin, Amorim foi o primeiro a aceitar cartão de crédito no Rita Maria. Por isso, muitas vezes conseguia embarcar um cliente antes dos outros e “furar a fila” de espera por passageiros, motivo de brincadeiras entre os colegas.

– Muitas vezes ele vinha com aquele passinho curtinho, acompanhado de um cliente, e a gente já logo berrava para ele, de longe: “Esse é no cartão, né?” – disse Jorge Domingos Marques, esboçando um sorriso.

Pedidos por mais segurança

A lembrança, no entanto, não suprimia o inconformismo geral com a morte de Amorim. Tanto pelo filho de 11 anos que deixa quanto pelo constante sentimento de insegurança da categoria. Todos têm pelo menos uma história de assalto na ponta da língua.

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– Uma vez eu fui levar um passageiro no Abraão e, quando cheguei no destino, ele começou a me estrangular. Começamos a brigar e por sorte não me aconteceu nada grave, já que ele não estava armado – disse Corrêa.

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Para Marques, uma boa solução seria instalar cabines de vidro blindadas ao redor do banco do taxista, o que impediria o contato direto com o taxista. O sistema, segundo ele, já existe em outras cidades e funciona juntamente com uma trava acionada pelo motorista, que trancaria os passageiros dentro do veículo em caso de assalto, por exemplo.

– Você nunca sabe quem é a pessoa que está transportando. Já teve um caso em que o assalto foi feito por uma senhora de idade acompanhada por um adolescente de 16 anos, que estava armado, e uma criança menor – disse.

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Um pouco alheio à conversa dos colegas, o taxista Claudionei Santana só pensava em encontrar a família. Abalado com a morte do amigo, disse ter perdido a vontade de trabalhar assim que soube da notícia.

– Hoje não tem mais clima. Está complicado. Vou ligar para o dono do carro, entregá-lo e voltar para casa.