No dia seguinte aos ataques a ônibus e carros em Florianópolis, a população tentou manter uma rotina normal. No entanto, houve impacto, principalmente para quem mora na região norte da Ilha. Além da sensação de insegurança, moradores da Vargem do Bom Jesus e Vila União, por exemplo, enfrentaram outro problema: a dificuldade de locomoção. A quarta-feira começou com linhas do transporte coletivo alteradas pela prefeitura e o Consórcio Fênix como medida de segurança. Nas margens da rodovia SC-403, que dá acesso ao bairro Ingleses, havia policiamento durante todo o dia. Nesta quinta-feira, segundo a Secretaria de Mobilidade, os ônibus estarão circulando normalmente. Um alívio pelo menos em relação ao transporte coletivo.
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Depois que o ônibus foi incendiado perto da entrada da Vila União, na tarde de terça, o Consórcio Fênix alterou o trajeto de mais de 10 linhas e deixou de passar por dentro da Vargem do Bom Jesus por motivos de segurança. Michele Souza Pereira, 30 anos, trabalha como auxiliar de sala em uma creche na Vila. Para ir ao trabalho na manhã de ontem, ela precisou parar na marginal da SC-403 e caminhar 20 minutos até a unidade.
— Não temos muito o que fazer, a gente fica com receio, não sabemos o que vai acontecer, mas tem que continuar, tem que trabalhar, seguir a vida.
A camareira Cristiane Gomes da Fonseca, 39, esperava o ônibus na marginal da rodovia na tarde de ontem para ir trabalhar. Moradora da Vargem do Bom Jesus, ela sabia que os ônibus não estavam passando pelo bairro, mas foi surpreendida ao ver que nem na margem da SC-403 ele estava parando e teve que andar mais um pouco até outro ponto.
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— O ônibus passa pertinho da minha casa e hoje tive que caminhar um monte para conseguir pegá-lo. É uma situação que muda a vida da gente, quem paga é a população.
A Polícia Militar fez rondas e permaneceu em alguns pontos estratégicos para dar apoio aos ônibus durante o dia. Nenhuma ocorrência foi registrada. Por isso, nesta quinta, a prefeitura garante que o transporte estará normalizado.
Sensação de insegurança
No bairro Monte Verde, onde dois carros foram incendiados na terça-feira, as ocorrências eram assunto entre os moradores. Há sete anos o vigilante Levindo Tavares, 50 anos, se mudou com a família de Belém do Pará para Florianópolis porque acreditava estar fugindo da violência. Agora, mais uma vez ele pretende mudar de cidade.
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— Eu vim para cá por causa da tranquilidade e está ficando igual Belém. Eu acho que o Estado está deixando a desejar com relação à segurança e vai ficar cada vez mais perigoso — teme.
Na terça-feira, ele saía de casa, na Rua Príncipe, para buscar os netos de nove e 10 anos na escola quando viu dois carros estacionados pegando fogo. Ele foi um dos vizinhos que ajudou a controlar as chamas até a chegada dos bombeiros. Para Tavares, o ataque foi a gota d’água para deixar o local.
— Estou morando aqui no bairro há sete meses, antes morava no norte. Durante esse tempo eu perdi tudo na enxurrada de janeiro e agora com a violência não vou ficar aqui. Já estou me mudando — conta.
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Ao contrário dele, a vizinha Sirlei Cagnin Pacheco, de 51 anos, diz que não se surpreendeu com os incêndios, mas admite que o bairro sempre foi tranquilo e que a violência aumentou nos últimos tempos.
— Dentre tantas coisas que a gente vê, isso nem assusta mais, só falei para o meu marido não deixar mais o carro na rua.
Sirlei estava em casa quando ouviu o vidro de um dos carros sendo quebrado. Ao olhar pela janela, se deparou com quatro rapazes fugindo a pé após tacarem fogo. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso pela ocorrência. Nesta quarta, o dia é calmo na comunidade.
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