O trauma vivido na enchente de 2008, quando 13 pessoas morreram por causa de deslizamentos de terra no interior de Jaraguá do Sul, faz com que Alcir dos Santos, e a mãe dele, Elfe, saiam correndo de casa diante de qualquer barulho estranho, olhando diretamente para o morro que fica do outro lado da rua.
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No último domingo à tarde, quando o chão da localidade do Jaraguazinho começou a tremer, Alcir e a mãe não tiveram dúvidas. Saíram em disparada para fora da residência juntamente com toda a família.
Em um intervalo de pouco mais de 30 horas, dois tremores foram sentidos pelos moradores de Alto São Pedro e do Jaraguazinho, localidades do bairro Garibaldi, na divisa de Jaraguá do Sul com Rio dos Cedros. O primeiro abalo foi registrado no domingo à tarde, e o segundo, na manhã desta terça-feira, logo depois que técnicos da Defesa Civil do Estado visitaram algumas casas.
O Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Obsis/UnB) confirmou, na tarde desta terça-feira, que o tremor ocorrido no interior de Jaraguá do Sul foi de magnitude de 2.3 graus na escala Richter – nessa faixa, a designação é considerada pequena e raramente causa danos.
Conforme o principal centro de observação e controle de abalos do País, o epicentro do tremor ocorreu em Jaraguá do Sul, exatamente às 15h54. O observatório não informou ainda se o segundo abalo, sentido na manhã de ontem, às 11h50, foi registrado pelo sistema de monitoramento do órgão.
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Esta não é a primeira vez que abalos sísmicos são sentidos na cidade. Em 2010, sete tremores foram registrados em menos de 36 horas, assustando moradores da localidade Tifa Theilacker, no bairro Três Rios do Norte. No último fenômeno comprovado pelo observatório de Brasília, em outubro de 2014, um tremor com magnitude de 3.5 na escala Richter foi sentido em pelo menos cinco bairros.
O trauma da família Santos, portanto, faz sentido. No último domingo, a família se reunia para tomar o café da tarde quando o barulho de uma explosão fez casas e chão tremerem.
– Meu Deus! Tremeu tudo. Até os palmitos e os fios de energia elétrica. Ficou tudo balançando uns cinco segundos – lembra Alcir, que num gesto quase automático correu para fora junto com uma dezena de familiares.
Ato contínuo, todos olharam para o morro que fica em frente à casa para buscar uma explicação.
– O nosso medo era de que o morro viesse abaixo – afirma Elfe, que tem 61 anos e sempre morou na localidade.
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Região está cercada por rios e morros
As duas regiões que mais sentiram os tremores de terra estão situadas em uma área cercada por morros e por pelo menos quatro braços de rios que cortam as propriedades rurais e, mais tarde, desaguam no rio Itapocu, na área urbana de Jaraguá do Sul.
Do lado oposto aos morros fica a barragem do rio Bonito, que deságua no rio dos Cedros. Moradora da região, Valéria Lipinski Brochmow e o filho dela, Jackson, de seis anos, estavam na propriedade da família quando sentiram o chão tremer.
– Foi bem rápido. A gente não sabe o que é, mas tomara que não seja nada grave – reflete.
Os abalos e a conversa entre as famílias fez crescer outros rumores. Uma das hipóteses levantadas pelos moradores, e já refutada pelos técnicos da Defesa Civil, é a de que houve a queda de um asteroide na região.
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Não há motivo para pânico, diz o coordenador da Defesa Civil
O secretário da Defesa Civil de Jaraguá do Sul, Leocádio Neves e Silva, e o coordenador do órgão na região Norte, Antônio Edival Pereira, ouviram, ontem pela manhã, os moradores da região atingida pelos tremores. Eles devem concluir nos próximos dias um relatório que será enviado ao Observatório Sismológico da Universidade de Brasília.
Segundo Edival, algumas pessoas relataram terem sentido tremores intensos no domingo à tarde, e que com a força do abalo, objetos chegaram a cair no chão, assustando os moradores.
– A gente vai fazer um relatório e buscar informações com o observatório para determinar quais medidas deverão ser adotadas – ressalta Edival.
Segundo ele, não há motivo para pânico, mas tudo será avaliado cientificamente. Uma equipe da Defesa Civil sobrevoou de helicóptero a região atingida para tentar descobrir se houve algum deslizamento de terra, queda de barreira ou qualquer outro fenômeno que explique as explosões e os abalos sísmicos.
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A hipótese de instalar um sismógrafo em Jaraguá do Sul, por enquanto, está descartada. As observações devem ser feitas de acordo com o relato dos moradores. Além do trabalho no local, Leocádio considera que é preciso esclarecer melhor à população sobre os fenômenos sismológicos, que, de acordo com ele, são normais em todo o País.
– Por causa da formação geológica da nossa região, ela não está sujeita a terremotos de grande intensidade, mas ocorrem acomodações de terra que causam tremores de menor magnitude, algo que pode ser considerado como um fenômeno natural – explica.
Histórico de tremores
Março de 2010
– No dia 28 de março de 2010, cerca de 150 famílias da comunidade Tifa Theilacker, do bairro Três Rios do Norte, relataram tremores de terra. Várias rachaduras nos imóveis apareceram nas casas após o tremor.
Outubro de 2014
– No dia 7 de outubro de 2014, um tremor de 3.5 graus na escala Richter foi sentido em cinco bairros de Jaraguá. Houve pânico em algumas áreas mais afetadas e rachaduras nos imóveis, mas ninguém ficou ferido.
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