A instalação de boias no mar do Matadeiro no mês de janeiro acendeu um alerta para um boato que há tempos desagrada os moradores da praia do sul da Ilha: uma fazenda de maricultura com 10 hectares vai ser instalada no canto esquerdo da praia, próximo ao costão.

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Assim que viu as boias, Ezinar Tadeu Pereira, presidente da Associação dos Moradores e Amigos da Praia do Matadeiro (Amapram), conta que começou a buscar informações com os vizinhos e pescadores da praia da Armação – ao lado do Matadeiro – mas ninguém sabia exatamente quem eram os responsáveis pelo projeto, quem iria fazer o cultivo e se existem estudos dos possíveis impactos ambientais, o que o levou a desconfiar.

Somos contra por vários motivos. Primeiro que vai estragar a paisagem, que é umas das mais bonitas da cidade. Outra questão é a poluição que as cascas e outros detritos sólidos que vão chegar na praia, sem contar as fezes destes animais que podem poluir a água – argumenta.

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O morador do Matadeiro há 37 anos ainda destaca que o local onde foram instaladas as boias é rota de entrada e saída das baleias que visitam o Litoral catarinense.

– São vários problemas, mas o pior é a gente não ter informação nenhuma. Agora estão falando que tem projeto desde 2003, que teve audiência pública na época na Câmara dos Vereadores. Aqui ninguém é contra a maricultura, mas o mar é público, deviam ter feito com mais transparência. Já contratamos um advogado e vamos questionar tudo isso dentro da legalidade.

Proprietário de um dos restaurantes mais movimentados da praia, Mário Borinelli também é contra.

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– Vai estragar o visual da nossa praia. Fiz minha vida e criei meus filhos aqui em meio à natureza. Ficam falando que pra quem tem restaurante vai ser bom, mas me importa mais a preservação da praia – disse.

O surfista e pescador Murilo de Melo também está preocupado com as ondas.

– Sou imparcial até que saiam todos os laudos dos impactos ambientais. Acredito que pode interferir na ondulação, pois entra de leste e vai pegar nas boias. Ali naquele local também é o refúgio dos barcos quando tem ressaca na Armação – explicou.

Pescador fez denúncia no Ministério Público Federal

O pescador Arnaldo Almiro dos Santos é mais um que se sente prejudicado. Ele diz que alguns colegas que ganharam a licitação para atuar no parque aquícola não falam sobre o assunto. Arnaldo conta que será afetado diretamente, pois tem uma rede ancorada há 40 anos no local.

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– Minha rede está ancorada ali com 16 âncoras de segurança, é um cerco flutuante. Tenho todas as licenças, pago tudo certinho, por isso fiz uma denúncia no Ministério Público Federal – disse.

No dia 15 de janeiro Arnaldo fez uma manifestação no Ministério Público Federal e agora aguarda os desdobramentos.

Epagri explica o projeto

Apesar das reclamações de alguns moradores e pescadores locais, a Epagri garante que todo o processo foi realizado de forma correta, dentro da legalidade. O biólogo Felipe Matarazzo Suplicy, ph.D. em aquicultura do Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca (Cepad), explica que o levantamento começou em 2003, em Brasília, com estudos de impactos ambientais regionais, social e econômico para o desenvolvimento da maricultura em todo o país.

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Deste estudos surgiram Planos Locais de Desenvolvimento (PLDM), com instruções normativas a serem seguidas. Em 2005, a Epagri começou a elaborar o PLDM de Santa Catarina.

– Foram feitos estudos detalhados de cada município, levando em conta todos os fatores ambientais, socioeconômicos e logísticos para então serem demarcados os parque aquíferos. Também aconteceram audiências públicas nas câmaras de vereadores para apresentação do planos para 12 cidades de Santa Catarina e, em 2011, houve a licitação das áreas.

O biólogo explica que a licitação foi do tipo onerosa para empresários e não-onerosa para pescadores, e no caso do Matadeiro todos os licitantes foram pescadores, que tem a permissão para atuar por 20 anos renováveis por mais 20.

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O maricultor é um legítimo usuário da água, assim como o pescador, o surfista. O Ministério da Pesca cedeu os terrenos, os produtores têm o direito, os documentos, licenças e podem operar – esclarece.

Reunião para esclarecimento

Felipe acredita que aqueles que estão contra precisam ter mais esclarecimento da situação e a gerência da Cepad se propôs a fazer uma reunião com a comunidade no próximo mês, assim que o superintendente do Ministério da Agricultura no Estado retornar de férias.

– Entendo a preocupação, mas a maricultura hoje tem regulamentação, a Epagri tem convênios com regras, diretrizes, padronização para cor das boias, é um processo ordenado. Os argumentos de que vai ter poluição no rio não são corretos, pois os moluscos são filtradores do plâncton, atuam como filtros. Não tem possibilidade de poluir o rio ou matar cavalos-marinho como foi falado. Pelo contrário, existem milhares de estudos que comprovam o aumento da vida marinha, o impacto positivo da inter-relação da maricultura com a pesca – finaliza.

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Produtor pretende começar o cultivo no Matadeiro no fim do verão

Bruno Rocha, filho do pescador Aloízio Espíndola, um dos futuros maricultores da região, diz que não entende o motivo das pessoas serem contra. Segundo ele o processo foi demorado, e agora que finalmente saíram todas as licenças que estão se manifestando.

– Falta as pessoas que estão reclamando se informarem mais. Não somos ricos, meu pai é pescador da Armação como vários aqui. Vamos fazer um investimento e com certeza quando começar o cultivo vamos empregar pessoas dali, fornecer para os restaurantes locais. Acho que deveriam se preocupar mais com o impacto visual das casas erguidas na vegetação e o esgoto que vai pro mar – falou.

Ele explica que o pai está esperando terminar a temporada de verão para começar o cultivo.