Enquanto os dedos tocam as cordas dos violões ou as mãos batem no surdo, os olhos fitam o horizonte como se vislumbrassem um futuro diferente daquilo que a vida os proporcionou nos últimos anos. Vestidos com camisas em um tom de roxo claro, os seis integrantes do grupo Além do Horizonte, de Joinville, ensaiam com o professor antes de fazerem mais uma apresentação pública.
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À noite, a calçada que durante a madrugada serve como uma cama dura e fria se transformará em palco. Ali, cada um daqueles moradores de rua transmitirá ao público a música de terno de reis, com acordes carregados de esperança e acompanhados de um sorriso aberto.
Os integrantes do grupo carregam consigo uma história diferente, mas todos, sem exceção, trazem pelo menos um ponto em comum: a música. Alguns até se conheciam das ruas de Joinville, mas se tornaram parceiros mesmo nas salas do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) Porto Seguro, onde se reúnem duas vezes por semana para ensaiar durante uma hora e meia.
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O projeto foi concebido pelo educador social Clodoaldo Fávero, com o apoio do coordenador do Centro Pop, Jucélio Manoel Narciza. Tudo começou com aulas de violão em junho deste ano. Com o tempo, Clodoaldo e Jucélio perceberam que alguns tinham habilidade com instrumentos de percussão e decidiram mudar o rumo dos ensinamentos ao acrescentar novos sons aos ensaios.
O grupo está unido desde novembro e se apresentou em lugares como a Associação Joinvilense dos Deficientes Visuais (Ajidevi), o restaurante popular e no projeto natalino Rua do Natal, em frente à Sociedade Harmonia-Lyra. Cada uma das apresentações foi cercada de emoção e de adrenalina para Luiz Antônio Rosa, 47 anos, que mora nas ruas desde a morte da esposa, há 20 anos.
– Para mim tem sido superinteressante. A música é concentração, uma coisa que cativa. Antes não tínhamos o que fazer, mas agora temos um novo objetivo, em vez de fazermos coisa errada – relata.
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Assistência completa
O Centro Pop realiza cerca de 30 atendimentos por dia no bairro Bucarein, em Joinville. Os moradores de rua são recebidos, ganham comida, tomam banho e conversam com uma psicóloga. A unidade ainda oferece atividades como oficinas de música e jardinagem para aqueles que se interessarem.
Clodoaldo Fávero, criador do Além do Horizonte, acredita que o projeto é uma das formas de cativar essas pessoas que estão em constante vulnerabilidade social e precisam construir novas expectativas de vida.
– A vida na rua não é fácil, então, trabalhamos para que eles tenham essa lucidez por mais tempo para gerar expectativas e enxergar um futuro diferente. A música está fazendo uma redução de danos, afastando eles de problemas e de conflitos sociais – explica Clodoaldo.
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É a música que aumenta também a vontade dos integrantes do grupo de encontrar um emprego e um lugar para morar. Hoje, eles não podem levar os instrumentos do Centro Pop para ensaiar fora da unidade porque vivem na rua e não teriam onde guardá-los. Para manter os músicos motivados, além de chamar a atenção de novos integrantes, a direção do Centro Pop pretende dar continuidade ao projeto em 2016.
– Para o próximo ano, a ideia é manter o grupo como referência e criar outros. O estilo musical vai depender do perfil dos integrantes, mas pensamos em algo mais popular ou seresteiro – destaca.
Como ajudar
Quem quiser ajudar os moradores que frequentam o centro de referência, seja com convites para apresentações ou para apadrinhar o projeto, pode entrar em contato pelo telefone (47) 3433-3341.
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