Em uma via escondida, após uma curva, espécie de extensão da rua Guilherme Chiochet, no bairro Nereu Ramos, as cartas deixaram de chegar. Segundo os moradores, desde o começo deste ano, os Correios não deixam documentos, encomendas ou boletos no local. Incomodados com a mudança do serviço, que até então ocorria normalmente, os vizinhos querem uma solução. A falta de entrega, porém, é apenas mais um dos problemas envolvendo loteamentos irregulares em Jaraguá do Sul.
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Angélica Pes Wintrich é uma das moradoras mais antigas do local. Ela conta que, no começo deste ano, uma correspondência enviada pelos Correios marcou o fim do serviço. O documento informava que não haveria mais entregas e que os moradores deveriam regularizar a numeração.
-Desde que moro aqui, recebemos correspondências e agora dizem isso – lamenta Angélica.
Assessor de comunicação dos Correios em Santa Catarina, Genésio Agenísio da Silva explica que uma lei permite a entrega apenas em casas numeradas e ordenadas (um método internacional de numeração é utilizado no Brasil), além de a rua estar regularizada e nomeada. Sem esses pré-requisitos, não há entrega. Possivelmente, a atualização do sistema em Jaraguá do Sul apontou para a irregularidade da via – e também para a impossibilidade das entregas.
Os números das casas, de fato, não seguem ordem e foram colocados pelos próprios moradores. João Carlos Erthal mora no local há três anos. Ele mesmo escolheu o número 74 para a sua casa. Segundo Erthal, as cartas chegavam lá, mas a entrega também cessou. Já outros vizinhos sequer têm numeração – na casa deles, as cartas nunca chegaram. Rosa Ribeiro é uma delas. Nunca teve número em sua residência e também nunca recebeu correspondências.
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Alternativas para o impasse
Para quem era acostumado a ter as entregas e agora não pode mais recebê-las, o assunto gera incômodo. Moradores pedem alternativas. A situação, porém, envolve a regularização dos terrenos. Apesar de os moradores considerarem a via uma extensão da rua Guilherme Chiochet, na Prefeitura aquela é uma via irregular, sem nome, que fica dentro de um loteamento irregular.
A indicação é de que se busque a legalização. A escritura de todas as casas ainda está no nome do dono original do terreno, Tercilio Gretter. O supervisor de parcelamento de solo da Prefeitura, Helio Cesar Tomio, explica que um pedido de regularização foi protocolado pelo dono do terreno em 1998. Porém, faltavam documentos e o proprietário não deu continuidade ao processo. Com o falecimento do dono original, o terreno passou a herdeiros, porém, nunca foi regularizado.
Apesar de os herdeiros serem responsáveis pela regularização, Tomio indica que os moradores podem agir por conta própria, reunindo-se para obter a documentação. Para sanar provisoriamente a falta de entregas, há uma alternativa: criar mais uma Rua Irregular (RI).
A criação de RIs foi determinada por uma lei municipal no fim da década de 1990, para propiciar a 143 loteamentos irregulares mapeados pela Prefeitura a possibilidade de recebimento dos Correios. Como o loteamento de Tercilio Gretter não constava na lista, não houve identificação oficial da via. Apesar de nenhuma denominação de RI ter sido feita desde a época da lei, um pedido por parte dos moradores poderia ser analisado juridicamente. Assim, até a regularização dos terrenos, a via teria identificação, as casas teriam números e as cartas poderiam ser entregues.
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