Idmilton Cestrim desembarcou no Terminal Rita Maria no dia 28 de novembro querendo recomeçar a vida aos 36 anos. Morador de Joinville, ele chegou em Florianópolis disposto a deixar para trás a separação do casamento e todo o transtorno que isto lhe causou. O trabalhador da construção civil conta que chegou cansado na cidade e parou na Praça XV para “dar um tempo”.

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– Acordei e só estavam minhas roupas na mochila. Minha carteira tinham levado, com todos os documentos – lembrou.

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Sem parentes e amigos, ou qualquer emprego encaminhado, Idmilton virou mais um entre os quase 300 moradores de rua de Florianópolis.

– Eu estava acostumado a dormir no colchão, acabei dormindo na calçada, de tanta fome – disse.

Na rua ele ficou por três semanas e diz que apanhou _ as cicatrizes ainda estão no braço esquerdo _, negou droga, tomou porre e tentou de tudo.

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– Me oferecia para varrer rua, limpar terreno, cortar grama, mas só recebia não.

Mesmo assim o apreço pela cidade não diminuiu.

– Vim porque aqui tem muita oportunidade. Florianópolis é muito boa e não tem culpa disto não.

Com vontade de ficar, Idmilton tentou refazer a documentação para procurar emprego. Foi em vão. Na semana passada ele admitiu para si que deveria recomeçar do começo e voltar para Joinville, onde vivem familiares e conhecidos.

Espera por passagem

Com passagens pelo Centro Pop e Albergue Municipal, Idmilton ficou sabendo por outros moradores de rua que se fosse na Secretaria de Assistência Social, na Av. Mauro Ramos, conseguiria passagem para voltar pra casa. Na sexta-feira ele chegou cedo ao local, mas o pedido foi negado.

– Faltava uma solicitação do Centro Pop. Foi o que disseram – disse.

Com o papel na mão, ele voltou nesta segunda-feira de manhã, depois de dormir mais um final de semana na calçada.

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– Disseram que encerrou a cota do dia – contou.

O gerente de Benefícios, Fernando Cavallari, explica que são geradas seis passagens diariamente para pessoas com origem em toda região do Brasil. O limite, segundo ele, é devido ao tempo que a assistente social demora para investigar cada caso, procurar familiares ou outras referências na cidade natal e fazer o encaminhamento.

Mesmo com mais um não, Idmilton voltou ao local no início da tarde.

– Só saio daqui com a minha passagem. É só o que peço.

Depois de três horas de espera e de ser ouvido por uma assistente social do lugar, ele saiu com o bilhete na mão.

– Agora eu posso recomeçar – disse, com lágrimas nos olhos.

Bilhetes de um recomeço

Os bilhetes de ônibus são oferecidos na Secretaria de Assistência Social mediante encaminhamento do Centro Pop, que fica na Passarela Nego Quirido. Por mês, 120 passagens são emitidas para pessoas de toda região do Brasil. Os bilhetes são entregues seguindo uma ordem de chegada, com a abertura do guichê às 8h, todos os dias. Segundo o secretário Marco Antônio da Rosa, este é o procedimento.

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– Não é só chegar e vai conseguindo de uma hora para outra. Tem um procedimento e muita demanda e é preciso esperar a vez. Para casos de espera, temos o albergue e outros abrigos referenciados – disse.

Somente no albergue municipal, na Rua General Bittencourt, são 80 vagas para pessoas em situação de rua. O preenchimento delas é definido no Centro Pop e os residentes têm direito ao banho, cama e uma refeição no início da noite.