O reencontro emocionado entre um refugiado haitiano e morador de Joinville com a mulher e suas três filhas pôs fim à espera de um abraço guardado por cinco anos. Esse foi o tempo que delimitou a distância de cerca de seis mil quilômetros entre David Cesar e a família, que ficou em Jacmel, a 27 km de Porto Príncipe, capital do Haiti, após o terremoto que atingiu o país. Na época, ele veio sozinho para o Brasil com o desejo de constituir uma vida melhor e reunir recursos para trazê-las a Santa Catarina. O “final feliz” ocorreu no dia 30 de outubro, tendo como impulsor a solidariedade dos joinvilenses.
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Isto porque, desde que chegou a Joinville, David aprendeu português, conseguiu emprego e passou a enviar parte da renda para sustentar a esposa, Destine, e as filhas Rose, hoje com 17 anos, Stephanie (11) e Shamma (9). No entanto, ainda era necessário juntar de uma só vez cerca de R$ 20 mil para as passagens de avião que trariam as quatro mulheres para Joinville.
– Revê-las depois de tanto tempo trouxe uma emoção muito forte, que nem dá para explicar. Foram cinco anos longe delas, e família é a coisa mais importante na vida da gente – celebra David.
O obstáculo só foi vencido pela inquietação de um pai e a solidariedade de colegas de trabalho e de amigos, que juntos começaram a mudar o destino dessa história no ano passado. Em outubro de 2017, funcionários do Posto XV, da Rua 15 de Novembro, onde ele trabalha, lançaram uma campanha de arrecadação com o objetivo de reunir o dinheiro e possibilitar que o pai e as filhas pudessem se reencontrar e refazer a vida em Santa Catarina.
Foram cerca de 40 dias de campanha de venda de garrafinhas de água, com o dinheiro revertido à causa, além de doações espontâneas. O total arrecadado superou as expectativas e atingiu a marca de R$ 21.042, mas a história guardava outra surpresa: a emissão de novos vistos do país caribenho para o Brasil estava suspensa e o reencontro aqui poderia não acontecer.
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Desde então, uma série de e-mails e telefonemas foram trocados com o consulado brasileiro no Haiti, e quando David já pensava em voltar para casa, elas receberam em setembro o “sim” para ter o visto.
– O desafio maior foi a liberação dos vistos, estávamos há quase um ano de mão atadas e só conseguimos sob regime de exceção. Após termos 20 pedidos por e-mail negados, finalmente o vice-cônsul do Brasil em Porto Príncipe se sensibilizou e concedeu o visto para reunião familiar – conta João Masiero Luz, gerente do posto.
Segundo João, a negociação teve a ajuda direta de um cliente do posto de combustíveis e hoje amigo de David. O homem também utilizou as milhas a que tinha direito de usar em uma empresa aérea e levou David até o Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para buscar a família. O encontro ocorreu último dia 30, um ano depois de “A Notícia” publicar a campanha.
– Quando o encontro aconteceu, o David não se cabia de felicidade. O astral dele está renovado e ele continua abastecendo os carros, servindo e esperando os clientes com um sorriso no rosto que contagia — elogia João.
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Agora, de acordo com a administração do estabelecimento, todas as despesas referentes à campanha serão fixadas no posto para prestação de contas. Já para a família, as próximas conquistas são de um emprego para Destine e a junção de documentos para que as meninas entrem na escola. Desafios estes vistos apenas como mais um capítulo para as novas moradoras de Joinville, que ganharam amigos, um novo lar e uma segunda língua, a qual começam a aprender dizendo palavras que revelam os sentimentos que trouxeram na bagagem: “feliz” e “contente”.